- Esse é o problema com as pessoas; estão sempre ligando o amor a todas as convenções sociais que nos empurram goela abaixo.- T-tudo bem, e-eu me viro . - Digo pausadamente, conforme adentramos o 107 e ele ajuda a pousar meu corpo na beirada da cama; falar, andar e até mesmo respirar me dói e exige um esforço bem maior que o habitual, e apesar de todos os hematomas em meu corpo, minha mente ainda se recusa a acreditar em tudo o que aconteceu minutos atrás, com a mão pressionando a costela, tento unir forças para agradecer ao garoto, as câmaras, ou qualquer outra coisa que o tenha feito vir em meu socorro, mas é ele quem fala primeiro:
- Tá entregue, bom, eu te ajudei carinha, agora é você quem tem que me ajudar.
Endireito o corpo, de modo a diminuir a dor aguda e lancinante em minha coluna, e embora meu semblante deixe claro a minha completa falta de compreensão, questiono:
- Como assim...
- Então... - ele organiza as palavras mentalmente, andando de um lado a outro do quarto como alguém que acabou de tomar três latas de energético de uma vez. - Sei que você vai querer levar isso ao diretor, mas não pode mano, não mesmo, em hipótese alguma.
- Não! - Disparo quase que automaticamente, como um gatilho em meu consciente dizendo que essa história já teve seu final, no momento em que ele surgiu em meu resgate. - Não quero fazer nada que possa me colocar na mira daqueles idiotas novamente, mas também não compreendi a sua preocupação com isso.
Ele está me ouvindo, ainda que esteja de costas e mexendo nas imaculadas miniaturas da DC que mantenho tão metodicamente organizadas encima da cômoda, é minha última frase que traz sua atenção de volta a mim:
- A coisa não é tão simples cara, não como parece, mas deixa eu simplificar; caso você vá até o diretor, ele não se sentirá satisfeito até arrancar de você exatamente o que, quando e onde aconteceu, e é nessa parte que eu entro, pois se você contar que a coisa ocorreu exatamente naquele local, isso levará o diretor até lá, e aí tudo o que eu fiz irá por água abaixo, um trabalho de meses em vão.
Nada faz sentido em sua fala, mas a dor, o sangue e os cortes podem esperar mais algum tempo, eu estou me coçando por mais:
- O que tem de tão terrível naquele lugar? - É minha pergunta, mas então tenho um flashback imediato e prossigo. - Espera! Um deles falou sobre um certo "túnel", estou certo?
- Isso, é um túnel, nosso passe livre pra uma folga disso aqui. - Ele afirma com propriedade, agora realmente envolvido na conversa. - Era o que todos queriam, o papai aqui só teve coragem de fazer.
- Então, se eu entendi bem, você abriu um buraco no muro do colégio por onde os meninos transitam de madrugada?
- É... Você fez parecer mais fácil do que realmente foi, mas é basicamente isso, quer dizer, não vamos esquecer do pedágio (deve ser assim que fala?!).
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O Capítulo do Pedro (Spin-off Alojamento dos Héteros)
RomanceAntes do 211, da paradise e dos inúmeros eventos que procederam a chegada do Alexei ao São Vicente, existia o Pedro; recluso, antisocial e preso as amarras da timidez, ciente de que estaria fadado a não ter alguém durante toda sua existência, o garo...