- Estar apaixonado é perder o controle sobre a própria respiração...Deixo que ele entre à frente, e tenho que ceder espaço para que passe, não só pelas caixas e mochila, mas pelo seu porte físico 'espaçoso' por assim dizer, o observo pelas costas; mãos grandes, pés ENORMES, dobrinhas no pescoço, mais sardas nas costas, batatas das pernas bem proeminentes.
Aguardo enquanto ele observa todo o perímetro do quarto, a essa altura ele já deve imaginar que passará a dividir o quarto com um Nerd, mas, levando em conta que ele provavelmente também está na base da pirâmide social do São Vicente, isso não deve importar muito:- E quem você é quando não é o boca? - Digo aleatoriamente, tentando quebrar o gelo nem que seja falando coisas sem sentido.
Ele larga as caixas no centro do dormitório, os olhos fixos em minhas miniaturas da DC na prateleira:
- Bruno, mas acho já até me esqueci...
Ele fala com um pouco de ressentimento na voz, ao qual não tenta disfarçar nem um pouco:
- Como assim? - prossigo.
- Esquece... - Desconversa. - Onde que eu fico mesmo?
Sigo para perto dele, ainda sem querer fazer muito contato visual, embora errado, começo a pensar que agora o dormitório parece bem menor em espaço, mas me condeno mentalmente por isso:
- Ali é a nossa cômoda... - Vou sinalizando. - as três últimas gavetas são sua. Essa é a sua cama e naquela prateleira ali tem um espaço sobrando, mas eu posso espremer um pouco as minhas miniaturas para liberar mais espaço.
Ele assente com a cabeça, para logo então se mobilizar em guardar suas coisas ordenadamente, começa pelas roupas, as quais ele joga de qualquer jeito nas gavetas, me surpreendendo por conseguir fechá-las no fim, depois segue para os tênis, que põe em fileira ao lado de sua cama, não deixo de agradecer por nenhum deles ter chulé, (nem mesmo a chuteira).
Leva um pouco de tempo até ele terminar tudo, o suficiente para que se aproxime o meu grande reencontro, dou uma última olhada enquanto deixo o 107, no momento em que ele guarda o seu uniforme padrão de jogo, me surpreende o fato de essa ser a única peça de roupa que ele guarda com zelo, como se, apesar de quase nunca entrar em campo nos jogos oficiais, fazer parte do time fosse mais que o suficiente para lhe trazer orgulho, ele me observa rapidamente enquanto saio, e me recurso a fazer um contato visual prolongado.Conforme sigo para o banheiro coletivo, sinto a calma se evacuando pouco a pouco enquanto o nervosismo volta a tona, do mesmo modo que antes, todos os elementos retornam e se fundem de um modo estranho e ao mesmo tempo bom; as borboletas me revirando o estômago, as mãos molhadas de suor, o andar apressado, a total falta de jeito. Eu sinto tudo, e não deixo de me perguntar se estar apaixonado é sentir coisas assim todas as vezes, exatamente como foi na primeira...
Entro com cautela no banheiro, me precavendo em fechar a porta de acesso para ouvir quando alguém entrar, não tem ninguém nas pias ou cabines, que estão todas abertas, com exceção da quatro, a qual me aproximo. Embora eu tenha quase certeza de que é ele lá dentro, hesito por um tempo esfregando as mãos suadas na bermuda antes de bater ruidosamente, ouço a trava sendo desativada, a porta se abre parcialmente e revela um olho castanho a me espiar, aqueles malditos olhos de mel pelos quais fui fisgado e agora me hipnotizam, ele abre a porta rapidamente e me puxa pra dentro sem perder tempo, nossos corpos se esbarram e acabo indo de encontro aos seus braços, ficando à poucos centímetros de sua boca, ele passa a respirar fundo, totalmente imóvel, enquanto eu me esforço para resistir ao impulso de não quebrar sua restrição, o momento dura alguns segundos, mas ele logo de desfaz de mim e ativa novamente a tranca da cabine.
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O Capítulo do Pedro (Spin-off Alojamento dos Héteros)
Roman d'amourAntes do 211, da paradise e dos inúmeros eventos que procederam a chegada do Alexei ao São Vicente, existia o Pedro; recluso, antisocial e preso as amarras da timidez, ciente de que estaria fadado a não ter alguém durante toda sua existência, o garo...