Capítulo 32 | INTRÍNSECO

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- Eu olho ao meu redor da sensação que tenho é de que puseram espelhos. Quando tento ver algo além de mim, só o que enxergo são os meus próprios defeitos, meus eus mais vulneráveis.

 Quando tento ver algo além de mim, só o que enxergo são os meus próprios defeitos, meus eus mais vulneráveis

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Me agarro ao momento com unhas e dentes, guardando cada aspecto desse instante irreal - porém crível. – Em que nossos desejos nos uniram um ao outro; sem mágoas, ressentimentos ou orgulho, apenas sentimentos verdadeiros sendo postos á mesa. O mais estranho nisso tudo é que, de um modo estranhamente intuitivo, eu sempre soube que havia mais profundidade no Tómas, sempre busquei acreditar que, por mais intrínseco que fosse, havia algum aspecto verdadeiro e não dispensável de sua personalidade, apenas esperando o momento certo para entrar em ação, subvertendo toda uma ideia de cretino ordinário com que todos já se acostumaram.

Respiro fundo, enchendo meus pulmões de ar e recobrando o fôlego conforme sinto seu corpo novamente se distanciar do meu, e mesmo agora, ainda consigo discernir o sabor inconfundível deixado pelo seu beijo; suave, intenso, breve e arrebatador. Um misto de sensações que, nem de longe, se equipara ao que senti no episódio do beijo roubado.

O Tómas tem esse poder...

- Tanta coisa poderia ser evitada se você fizesse mais gestos como esse... – observo, a química da qual compartilhamos é tanta que posso facilmente encontrar o caminho de volta para os seus braços, ainda que no total negrume do aposento.

Ele parece refletir a minha alegação, perdido em pensamentos contínuos:

- Esse não sou eu. – Declara, sem o menor rastro de autopiedade na fala. Mas com plena convicção – Você já deveria saber disso. Qualquer pessoa louca o bastante para me amar deveria estar bem ciente disso e mais um montão de coisas, talvez ajudasse a perceber a grande cilada que é entrar nesse barco, digo, gostar de mim.

- Eu sei exatamente o tipo de garoto pelo qual me apaixonei... – suspiro. – Ele não é a melhor das pessoas e na maioria das vezes passa longe de ser um exemplo de ética e moralidade. Mas a coisa toda aconteceu e não há nada o que eu possa fazer. Eu não posso lutar contra o que sinto ou estipular um prazo de duração para isso, mas você pode mudar o que as pessoas pensam com relação a você.

- Mas eu gosto de ser exatamente assim. – pontua.

- Não, Tómas, você está errado. – Contraponho. - Você gosta da ideia de você, experimentou do que é estar no topo da cadeia social e ser respeitado aqui dentro mas no fundo sabe qual o preço a se pagar por isso, você é bem mais do que qualquer um pode enxergar e ainda assim prefere deixar sua verdadeira essência de lado apenas pela ilusão de uma imagem imaculada e perfeitinha, por que é o máximo ser essa ideia, uma ideia que agrada a todos e chama atenção por onde passa!

- Eu não vou mudar! – bufa, sufocado pelo peso das minhas afirmações. Dolorosas, porém verdadeiras. – Não posso trocar tudo o que tenho por isso, pra ser chamado de bichinha pelas costas ou coisa pior. Os caras aqui não brincam em serviço, eles não querem saber se o único jeito de se pegar AIDS é pelo sexo sem preservativo, para eles, andar com caras gays é ser gay também, e eu não tenho a sua coragem, não para isso. Então nunca, jamais, sob hipótese alguma me peça uma coisa dessas, por que não vai rolar.

O Capítulo do Pedro (Spin-off Alojamento dos Héteros)Onde histórias criam vida. Descubra agora