Capítulo 27 | ESTAMOS FALANDO DO PIERRE

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- Dói, tudo dói, uma dor lancinante e viva, do tipo que faz a gente nunca mais querer se apaixonar novamente.

Estou contra a parede agora, e não deixo de me perguntar se foi essa a sensação que o Jp sentiu no momento em que foi encurralado pelo Pierre

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Estou contra a parede agora, e não deixo de me perguntar se foi essa a sensação que o Jp sentiu no momento em que foi encurralado pelo Pierre. O cerco se fechou, e não vejo alternativa senão escolher entre as duas medidas postas severamente diante de mim:

- Tómas... – suspiro, cauteloso. – Por favor...

- Não! Sem chance! – Vocifera, elevando o tom, visivelmente enraivecido, as veias ganhando forma em suas têmporas. – Eu te dei uma escolha, agora, vai me dizer ou não?!

Sei que não posso, não posso permitir que toda essa onda de ódio gratuito continue, não posso lançar querosene justo quando as brasas estão se apagando, eu tenho uma escolha a se fazer aqui, cujos resultados podem ser desastrosos:

- Quando você vai parar? – Indago, meneando meu corpo por toda a extensão do dormitório, já não me importa o fato de eu estar completamente nú, eu sequer penso nisso. – Quando vai dar um fim nessa aniquilação mútua que só desgasta vocês e provoca destruição dos dois lados?

Ele baixa um pouco a guarda diante do que digo, talvez porquê saiba o quanto eu tenho razão, mas, o que me parece uma possível rendição é apenas uma pausa para organizar as ideias, fisgando coincidências em minha fala e as usando de maneira astuta, como só o Tómas sabe fazer:

- Então é isso? – diz, me espreitando em seu olhar arrebatador. – O panaca que vem fazendo essas coisas é um dos chupa sacos do Pierre? Isso é, se eu não estiver certo esse tempo todo e o culpado for ele. Desgraçado!

- Não! – disparo, no ímpeto. – O Pierre não é responsável por isso, ele jamais faria uma coisa dessas. – Digo por fim, atenuando o tom da voz ao perceber que talvez tenha exagerado um pouco.

O Tómas me olha curiosamente, tem suspeita em seus olhos vivos e brilhantes, a força com que mantém o maxilar semicerrado seria o suficiente para quebrar uma noz e fazê-la em pedacinhos, isso me dá medo, ele se ergue do sofá, avançando até onde estou e me tomando pelo braço, suas mãos me apertam tão brutalmente que já posso imaginar o hematoma que irá surgir na manhã seguinte:

- POR QUE DIABOS VOCÊ DEFENTE TANTO ESSE CARA!? – indaga, exigindo uma resposta, sinto meu braço queimando devido a pressão que ele exerce, e nesse instante consigo ver, que o Tómas resiste em conter seus impulsos mais agressivos, ou estaria me socando agora:

- Por que... ele me protege... – respondo, a voz abafada pela dor pungente. E é aí que ele me solta, afetado pelas minhas palavras.

Ele segue até a beirada da cama, onde se senta e leva as mãos a nuca, perdido em pensamentos, mas eu tenho que falar:

- Quero que você saiba exatamente contra quem está travando essa guerra... – prossigo, segurando o braço na região da agressão. – Por que o cara que está do outro lado, me socorreu enquanto você fugiu, me deixando lá para ser chutado, violado e exterminado como uma praga, O cara que você tanto odeia - sim estamos falando do Pierre! - Ele não hesita em ser visto comigo pelos corredores do colégio, e até ficou zangado quando eu resolvi me afastar dele por ordens SUAS. Esse cara é do bem, é esperto, e garanto que não suporta o culpado tanto o quanto você, sabe, Tómas, acho que eu finalmente descobri porquê você alimenta tanto ódio pelo Pierre, a resposta na verdade é bem simples. Ele tem coragem o suficiente para ser aquilo que você nunca será.

Quando termino, fecho os olhos, aguardado o que virá a seguir. Porém, nenhuma agressão acontece, ao decidir abri-los novamente, deparo com o Tómas na mesma posição de antes, a diferença nem um pouco sutil e que, agora, ele parece arrasado, bombardeado pelo impacto atordoante das minhas verdades, não há o que negar, foi tudo o que aconteceu. Ele sabe disso:

- Sendo assim... – diz, incapaz de me olhar nos olhos, arrebatado. – Pode vestir as roupas e se mandar. Deixa a chave encima da cômoda, e nem em sonho pense em dizer algo do que rolou para alguém, ou eu juro que nem mesmo o "Pierre" vai poder te salvar a tempo.

Assinto com a cabeça, fraquejando, sigo até onde larguei as minhas peças de roupa e as visto, fazendo um retrospecto mental de tudo o que vivemos, quando termino, deixo a chave na cômoda conforme me foi ordenado, antes de sair, não deixo de lhe lançar um último olhar, que implora por piedade e perdão, mas ele ignora, voltando o rosto para o outro lado. Quando saio, sinto a porta bater estrondosamente atrás de mim.

Meus braços doem, mas não é nada se comparado ao que sinto em meu peito.

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O Capítulo do Pedro (Spin-off Alojamento dos Héteros)Onde histórias criam vida. Descubra agora