Capítulo 25 | BOCA INSATISFEITO

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- Não gosto quando pingam limão em minhas inseguranças.

Ainda estamos atenuando os ânimos quando o garoto - Ben o apelido dele

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Ainda estamos atenuando os ânimos quando o garoto - Ben o apelido dele. - Retorna ao dormitório, o cenho franzido, meio atordoado:

- Agora dá pra me contar o que rolou aqui cara? - Indaga, preocupado, alternando olhares entre mim e o Pierre. - E você, quem é?

Me preparo para responder quando o Pierre intervém:

- Pode nos deixar a sós? Precisamos trocar uma ideia.

Balanço a cabeça afirmativamente, seguindo para a saída, porém, antes de deixar o 211, pontuo:

- À propósito, meu nome é Pedro.

...

Uma vez no 107, quase me esqueço por completo da conversa turbulenta que há pouco tive com o Boca, mas, basta que eu entre, acompanhado pelo seu olhar furioso, que sou logo alertado para o clima estabelecido aqui:

- Espero que tenha encontrado o que procurava. - Balbucia, devorando um saquinho de frango empanado. - Seja lá o que for.

- É melhor que isso. - Respondo, embora esteja sendo completamente ignorado por ele. - Encontramos o responsável pelas exposições, e, coincidentemente, se trata da mesma pessoa cuja cabeça o Tómas deseja mais que tudo...

Seja lá o tipo de barreira social que o Boca tentava construir, vai por água abaixo assim que termino, pois agora ele me fita com total entusiasmo, os olhos esbugalhados, meio incrédulo, ávido:

- E como fez isso?! - indaga, parando para pensar por alguns segundos. - E afinal de contas, com ajuda de quem?

Hesito por um tempo, não quero mencionar o Pierre, isso só levaria ao Tómas, e em mais confusões, isso é algo que não pode acontecer, não agora que nos vemos finalmente livres da ameaça cega do Jp e suas exposições:

- Isso não vem ao caso. - Dou de ombros. - O que importa é que tudo acabou, de uma vez por todas, seja lá o que o culpado decidir, ao final do dia ele estará na sala do Diretor.

Ele assente, mas parece ponderar algo mentalmente, é o Boca, ele está sempre com os neurônios há mil, criando teorias suspeitas e conexões que, por vezes, fazem muito sentido:

- Então... - diz. - Quando você fala da tal "pessoa cuja cabeça o Tómas deseja mais que tudo", na verdade você está falando dos carinhas que armaram pra você, justo no dia em que você cairia de boca no saco peludo do Tómas? Esse colégio está cada vez mais pequeno, temos que concordar!

Sou inundado pelas suas alegações, estou impactado com tudo o que ouço:

- M-mas c-como você sabe diss...

- Esqueceu que eu sou quase que o braço direito do Tómas? - Intervém. - Eu sei de MUITA coisa sobre vocês dois. Mas não esquenta, minha relação com seu amado é baseada em MUITOS segredos, de ambos os lados, o que nos coloca no mesmo barco, não é?

Estou atordoado, sempre o Boca começa a destrinchar misteriosamente o que quer que tenha estabelecido um pacto entre eles, me sinto perdido, tolo, só mais um peão nesse imenso tabuleiro de reis e rainhas, que parecem sempre prontos para abocanhar e devorar vorazmente uns aos outros, um ninho de serpentes astutas:

- E-eu já não sei de mais nada... - suspiro.

Ele larga o saquinho de empanados de lado, vazio, em seguida lambe os dedos, cobertos de gorduras e óleo; a personificação de um ogro asqueroso e repulsivo:

- Mas afinal... de quem se trata? - questiona:

- Essa é uma questão encerrada! - Exclamo, sentindo uma espécie de nojo a sua presença, seja pelos dedos lambidos, ou pelo veneno ao qual está sempre destilando:

- Que seja! - Dispara, jogando a toalha. - Mas está errado em dizer que acabou, isso ainda não acabou, você conhece o Tómas, ele vai querer vingança, retaliação.

Dito isso ele dá a conversa por encerrada. Que em sua língua, basicamente se resume a pôr os fones de ouvido. Sigo até a minha cama, me debruçando sobre o colchão, fitando o teto de pintura desgasta. Como isso pode acontecer? Como eu posso sair de um grande problema e logo em seguida cair de cabeça num grande dilema moral; de um lado tem o Jp, culpado pelos atos insolentes, do outro tem o Tómas, e sua insaciável sede de vingança, Talvez o Boca esteja realmente certo, de um modo que é duro admitir, a verdade inquietante é que, uma vez ciente do envolvimento do Jp e do quarteto no incidente comigo, teremos uma nova guerra estabelecida. Mas nem tudo está perdido! Por que, até o momento, ninguém além de mim e o Pierre sabe a verdade completa, então, tudo o que tenho que fazer para garantir que a paz volte a reinar, é esconder de todos a real gravidade do que o Jp e os meninos fizeram, se esse é o modo de se conseguir paz, é o que farei: silêncio absoluto.

- Ah! - Boca exclama, quando eu já não espero mais ouvir sua voz. - O Tómas quer você hoje, parece que os meninos vão ficar um tempo fora (resolvendo umas paradas) e ele quer alguém pra "esvaziar o saco", é, hoje você fará uso da chave.

Mal posso acreditar, tanto que nem me importa o modo desdenhoso como a notícia me é dada, saber que o Tómas requer minha presença, que precisa de mim, que quer receber os meus afetos, é algo incrível, para não dizer crível, que alavanca os meus ânimos e injeta entusiasmo em minhas veias.

- Quando posso ir?! - indago, sedento.

Ele dá uma olhadela demorada no relógio, para criar expectativa e também zoar com a minha cara, então diz:

- Ainda é cedo, tem algumas horas para fazer o que quer que vocês fazem para limpar o cu.

Lhe lanço um olhar fumegante, fuzilando todo o seu corpo mentalmente, mas decido entrar na brincadeira, retrucando:

- sabe... Você deveria procurar um gay por aí para se divertir, sei lá, embora não seja o meu tipo preferido, deve ter alguém em todo o colégio que goste disso.

Aponto toda extensão do seu corpo enquanto falo, e realmente não percebo que passei do limite até que vejo o seu semblante, visivelmente balançado com tudo o que eu disse. Tarde demais, as palavras já fizeram o efeito.

Penso em pedir desculpas, mas estou envergonhado, é certo que ele começou, mas em momento algum expôs as minhas inseguranças físicas e pessoais. Ele quebra o silêncio:

- Já sei, o Tomás fez você beber da água dele, e você veio aqui me oferecer um pouco, mas advinha? Eu não tô com sede. Eu sou hétero, e essa realmente não é a minha praia, eu tenho nojo só de pensar no que vocês fazem quando estão juntos.

Não consigo falar mais nada depois disso...

Não consigo falar mais nada depois disso

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@ a.leonan_watt (Instagram)

O Capítulo do Pedro (Spin-off Alojamento dos Héteros)Onde histórias criam vida. Descubra agora