- Não se pode estar no controle de todas as coisas, não se pode deixar guiar por essa ilusão entorpecente e inebriante.
Acaba sendo mais fácil do que pensei chegar ao 211, e agradeço aos céus por ter uma mente boa ao ponto de me lembrar a localização exata do seu dormitório, desde o fatídico (e quase trágico) dia em que estive aqui. Me aproximo da porta sem nem mesmo hesitar, movido por uma quase convicção de que tem um dedinho do pierre por trás disso tudo, e então dou algumas batidas alvoroçadas.Leva apenas alguns segundos até que ela se abra diante de mim, revelando um garoto que não é nem de longe o Pierre, pois, não bastasse ser pelo menos duas vezes maior no porte físico, ele não parece ter o riso fácil como o outro:
- Qual é??? – indaga, sem se preocupar em soar impaciente:
- Pierre – Respondo. – Ele está?
Ele não chega a responder, pois neste mesmo instante o Pierre surge de algum lugar lá de dentro, espreitando o rosto curioso entre a porta entreaberta e o ombro largo do garoto:
- Que que tem eu?! – questiona, mas aí me vê parado diante da porta. – Ah, entra aí.
O garoto cede espeço, saindo para a aula, e após cruzar o batente da porta me encontro bem no centro do dormitório, observando enquanto o Pierre vasculha sua mesa de trabalho, procurando algo com urgência:
- Trabalho de matemática... – diz. – não bastasse eu não ter feito todas as questões, agora não consigo encontrar!
- Não é aquele ali? – Indico um amontoado de papel que consigo avistar melhor de onde estou, ele o pega, analisando cada uma das folhas, e então tira do meio algumas delas:
- Eu tenho quase certeza que já tinha procurado aqui! – Justifica entre risos, coçando a nuca numa espécie de constrangimento que é até meio fofo de se presenciar. – Mas então, o que te traz aqui?
Respiro fundo, formulando as próximas palavras minuciosamente:
- Foi você... – começo – quem expôs o Gustavo do segundo ano para todo o colégio?"
Logo que as palavras saem, me amaldiçoo mentalmente por ter as dito, ou melhor, pelo modo como as falei, as atenções do Pierre parecem realmente voltadas a mim agora, seu semblante evidencia certo espanto:
- C-como assim cara?! – gagueja, pondo o trabalho na bolsa com certo desleixo e a jogando sobre as costas. – Do que cê tá falando?
- O muro do corredor nove amanheceu vandalizado, tinha um recado escrito em tinta vermelha expondo um garoto do segundo ano, era algo sobre ele estar pegando no pênis dos outros jogadores do time, como se não bastasse, tinha um outro aviso no rodapé advertindo que voltariam na quarta.
Ele analisa tudo o que foi dito, e pela expressão dá pra perceber que é realmente tudo novo pra ele, o que faz com que eu me crucifique pelo modo como o abordei:
- Aí você veio aqui me perguntar se eu fiz isso, porque, claro que tinha de ser o Pierre! O único cara em todo o colégio com a capacidade de expor alguém só pra se divertir com isso.
Seu tom é irônico, ácido e cheio de ressentimento.
- E-eu só achei que... por você ter as suas câmeras e...
- E daí! – grita, impaciente. – Fodam-se as minhas câmeras cara! eu não as uso com quem não merece, especialmente desse jeito, mas tentar fazer você entender isso é demais, já que na primeira oportunidade que teve foi correndo chupar as bolas do Tómas, quer saber, já se passou pela sua cabeça que ele pode ter envolvimento com isso? POQUE É EXATAMENTE O TIPO DE COISA QUE ELE FARIA!
Engulo em seco, sentindo o grande bolo da inibição descendo e me arranhando a garganta.
- E, será que você não poderia me ajudar a encontrar em quem pode estar por trás disso tudo?
Ele ri com escárnio, cruzando o meu caminho e indo em direção a porta:
- Formar uma dupla de espiões a essa altura do campeonato? Espero que se divirta porquê eu tô fora!
Dito isso ele apenas bate a porta e sai para a aula, me deixando tão imóvel quanto um poste em meio ao dormitório vazio, olho para a sua mesa repleta de bugigangas e aparatos de filmagem, desejando aos céus ter alguma habilidade com eles, mas no fim decido mantê-las intocadas, e deixo o dormitório pensando em quem seria capaz de expor alguém assim, sem nenhum tipo de ganho ou retorno, apenas para divertimento pessoal, terror e caos, quem teria a mente tão diabolicamente pérfida a esse ponto?
...
Eu adoraria dizer que obtive todas as respostas, que o Gustavo não pediu transferência por estar sofrendo Bullying e que tudo voltou ao normal nos dias seguintes, mas ai eu estaria mentindo, pois assim que soou a sineta para a primeira aula da quarta-feira e todos os alunos marcharam ávidos rumo ao muro de exposições, lá estava a sentença gravada em tinta vermelha, punindo impiedosamente a próxima vítma:
*QUEM DIRIA HEIM HÉLIO, LOGO VOCÊ, COM UMA LONGA LISTA DE EX-NAMORADAS, OLHANDO DE FORA, NINGUÉM CONSEGUE IMAGINAR QUE VOCÊ FAZ FIO TERRA EM SÍ PRÓPRIO SEMPRE QUE ESTÁ TOMANDO BANHO E NÃO TEM MAIS NINGUÉM NO DORMITÓRIO, O QUE FICA EM MENTE AGORA É SE DE FATO O SEU DEDO SAÍ LIMPO TODAS AS VEZES (E PARA O RESTANTE, CUIDADO QUANDO FOREM APERTAR AS MÃOS DELE, VOLTAREMOS NA SEGUNDA)*
Minha mente rodopiava numa confusão descomunal, e no momento em que me vi longe do tumulto de garotos, que se acotovelavam para conferir a próxima vítima desse vilão misterioso e infame, só conseguia correr, o mais rápido quanto fosse possível, para bem longe do show de horrores que acabara de presenciar, foi próximo ao corredor dos banheiros que senti algo me puxar abruptamente pelo pulso, retendo os meus passos e me arrastando até uma área menos movimentada, me virei num ímpeto, dando de cara com a face transtornada do Tómas, depois de todo o seu distanciamento e o sofrimento acumulado por mim:
- ISSO TEM QUE PARAR! SEJA LÁ QUEM ESTIVER FAZENDO, OU ENTÃO, MAIS CEDO OU MAIS TARDE, NÓS DOIS SEREMOS OS PRÓXIMOS.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Capítulo do Pedro (Spin-off Alojamento dos Héteros)
Любовные романыAntes do 211, da paradise e dos inúmeros eventos que procederam a chegada do Alexei ao São Vicente, existia o Pedro; recluso, antisocial e preso as amarras da timidez, ciente de que estaria fadado a não ter alguém durante toda sua existência, o garo...