Capítulo 18 | IMPASSES

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- Sonho com o dia em que todos esses acontecimentos não passarão de lembranças remotas e irrelevantes...

 Saio em disparada corredor afora, e como nunca fui muito bom em correr, acabo aos tropeços vez ou outra

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Saio em disparada corredor afora, e como nunca fui muito bom em correr, acabo aos tropeços vez ou outra. Evito olhar no relógio, mas sei que falta pouco até o toque de recolher, - eu preciso correr!

Gotas de suor brotam em minha testa, e por toda a extensão dos corredores, só o que se pode ouvir são os ruídos dos meus pés contra o piso encerado, eu consigo sentir a adrenalina em minhas veias, sendo bombeada para todo o meu corpo pelas batidas frenéticas e descompassadas do meu coração, mas eu me recuso a parar, e imagino se não foi exatamente assim que o Pierre se sentiu quando saiu ao meu auxílio no dia do incidente. Entro no segundo saguão de dormitórios, enumerados do 200 até o 250, está tudo silencioso e calmo (exceto eu), que me lanço dormitório adentro sem nenhum tipo de cerimonia, apenas guiado por um instinto estranho de fazer justiça.

Estou arfando, ainda sem saber se falo ou recobro o fôlego, e o Pierre, debruçado sobre o sofá surrado assistindo algum filme drama policial, se ergue num ímpeto, me lançando um olhar completamente atordoado:

- Qual é!? Quê que tá pegando? – indaga, e só então percebe que se encontra apenas de samba canção, cobrindo a parte da frente com as mãos em "X" conforme vasculha o quarto a procura da peça mais próxima, estou tão aflito que sequer reparo em qualquer coisa. Ele encontra uma bermuda jeans, vestindo às pressas:

- Você precisa sair daqui, agora! – instruo, mas ele não se dá por satisfeito, e parece ainda mais perdido que antes:

- Como assim cara? do que você tá falando?

Olho pro relógio, está quase na hora:

- É o TOMÁS! – disparo. – ELE ACHA QUE VOCÊ É O RESPONSÁVEL PELO MURO E ARMOU UMA CILADA PARA VOCÊ, TUDO O QUE EU SEI É QUE ALGUNS GAROTOS ESTÃO VINDO PARA CÁ E NÃO QUEREM MUITA CONVERSA, AGORA, PRECISAMOS IR

Ele analisa o que foi dito, e embora o Pierre pareça meio surpreso, não consigo ver medo ou pânico em sua postura, os braços cruzados, olhos estreitos, músculos rígidos:

- Eu não vou mano, vou ficar aqui. – Constata, se opondo a mim. – Que venham então, não sou eu quem estou fazendo toda essa sacanagem. Tô mesmo afim de sentar o braço num desses babacas!

É inacreditável, eu mal posso acreditar no que estou vendo e ouvindo:

- Sem essa! – censuro. – É muito bonitinho ver esse seu lado justiceiro e tudo mas em alguns minutos pelo menos cinco caras vão entrar por essa porta querendo te aniquilar e nunca, de modo algum eu irei permitir que isso aconteça!

- Eu fico! – vocifera, irredutível. – Já disse, droga.

Reviro os olhos, relutante, levantando o indicador e pondo bem a frente do seu rosto, duro:

O Capítulo do Pedro (Spin-off Alojamento dos Héteros)Onde histórias criam vida. Descubra agora