Capítulo 31 | MONSTROS INTERNOS

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- Jurei te esperar só até o fim da noite, amanheceu, e cá estou eu...

 Não consigo enxergar um palmo a frente do meu nariz, embora sinta a respiração pesada e frenética do meu sequestrador me castigando o rosto, suas mãos suadas e apreensivas relutam em soltar a minha boca selada e sufocada, coisa que perdura até qu...

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Não consigo enxergar um palmo a frente do meu nariz, embora sinta a respiração pesada e frenética do meu sequestrador me castigando o rosto, suas mãos suadas e apreensivas relutam em soltar a minha boca selada e sufocada, coisa que perdura até que eu consiga me acalmar o suficiente para assentir em concordância, acatando com os seus termos:

- Muito bem... – Tómas instrui num tom de advertência. – Eu vou te soltar, quietinho...

Sinto sua mão sendo tirada vagarosamente dos meus lábios (quase como se ainda sentisse algum receio de que eu pudesse sair por aí gritando e pedindo socorro), e embora esse gesto tenha facilitado a minha respiração, ela se recusa a acalmar e voltar ao ritmo habitual.

Busco apoio na parede atrás de mim, tateando no breu total do pequeno cômodo, as vozes dos alunos lá fora não passam de ruídos distantes, e tudo o que eu mais desejo é que o Tómas esteja em seu juízo perfeito, tateando mais ao lado, logo sinto minhas mãos irem de encontro a um objeto que se assemelha a um esfregão ou talvez uma vassoura, tudo o que sei é que tem um cabo comprido, longo o suficiente para que eu possa...

- Eu não vou te machucar, caralho! – Declara, como se pudesse ler tudo o que paira em minha cabeça no momento. – Fica sossegado ai!

Assinto com a cabeça, embora nós dois mal possamos ver nossos próprios rostos, ainda permaneço com uma das mãos cravadas no cabo atrás de mim, pronto para reagir a qualquer coisa que a mente diabólica e doentia do Tómas tenha arquitetado.

- T- Tómas... – gaguejo meio temeroso, com o coração prestes a saltar para fora da boca e explodir numa aflição incontrolável. – Por favor... me deixa ir...

- NÃO! – esbraveja, arrebatador e brutal, fazendo meu corpo todo estremecer num calafrio nervoso que me percorre a espinha. – Não até eu te mostrar que você está errado!

- O que...

- ELE NÃO É MLHOR QUE EU! – exclama, socando algo metálico que, ao cair, produz um barulho tremendo. – AQUELE MALDITO ESPIÃO COVARDE NUNCA CHEGARÁ PERTO DAS COISAS QUE EU POSSO FAZER! – diz por fim. Ele está falando do Pierre.

- Eu entendo tomás... – suspiro, mas sou soterrado pelas suas palavras incisivas e ácidas:

- NÃO, VOCÊ NUNCA ENTENDE CARALHO NENHUM ATÉ QUE EU LHE MOSTRE! VOCÊ É TOLO, INGÊNUO, AINDA ACREDITA NA FALSA ILUSÃO DE QUE TODOS AQUI DENTRO PODEM VIVER EM FRATERNIDADE, É TUDO UMA DROGA! E VOCÊ DEVE SE ACOSTUMAR COM A IDEIA DE QUE AQUI É CADA UM POR SI!

Eu não consigo entender, nada faz sentido, mas também não consigo me manter calado, não depois de tudo o que aconteceu:

- Será que você não enxerga? – indago, ciente de que está atento as minhas palavras. – Será que não consegue ver que é o único responsável por toda essa sucessão de intrigas intermitentes? VOCÊ quem decidiu travar guerra com os meninos, tornando a recusa deles em integrar o seu bando no estopim disso tudo, VOCÊ quem resolveu ser o ditador e convocar os seus comensais da morte (inclusive o Boca) para tocarem o terror e impor respeito através do medo, foi VOCÊ Tómas, quem se cercou de amizades instáveis e agora não confia nem nos próprios companheiros de quarto (Que sem dúvida alguma não hesitariam em te largar a própria sorte na primeira oportunidade que tivessem), e VOCÊ que está sempre por trás de tudo isso, e pelo visto é o único que ainda não percebeu, ELES NÃO TE ADMIRAM, TOMÁS, TODOS ELES NUNCA SENTIRAM ABSOLUTAMENTE NADA POR VOCÊ ALÉM DO MAIS PURO E GENUINO MEDO, porquê você é tão vazio e infeliz que não consegue conquistar alguém se não for dessa forma. Basta olhar para onde estamos agora, eu estou tremendo dos pés a cabeça e advinha porquê? PORQUÊ ESTOU COM MEDO DE VOCÊ, por que existe alguma coisa em você que, quase de maneira inacreditável, consegue transformar amor em pânico, e fazer com que TODOS, mais cedo ou mais tarde, acabem te odiando.

Ele permanece em silêncio, e sequer tenho fôlego para proferir nem que seja um último grito de socorro, de repente já não estou mais segurando o cabo atrás de mim, pois, bem no meu íntimo, sinto que jamais conseguiria necessário usá-lo.

Tómas respira fundo, bufando, e é quase como se pudesse sentir toda a sua frustração se condensando no ar, juntando-se a toda tensão que paira entre nós dois:

- Menos você. – Irrompe o silêncio subitamente. – Você não consegue me odiar como os outros.

Sua voz ainda é bruta, mas agora tem leves tons de um ressentimento notável. Isso não deveria abalar minhas estruturas, não mais, porém, ouvi-lo falar desta forma é como se esvaísse todos os sentimentos ruins de dentro de mim, subvertendo todos eles em amor puro.

- A gente não deixa de amar da noite pro dia... – replico. – Não é assim que acontece quando falamos de amor...

- Mas como podemos dar certo, droga?! – Ele reflete. – Eu não consigo fazer isso, o meu jeito de gostar é torto e cheio de egoísmo, eu digo que vou me controlar e no momento seguinte estou cheio de neuras e paranoias que para os outros não fazem sentido, mas, para mim, estão sempre querendo me destruir.

- Se permita confiar nos seus sentimentos! – exclamo. – Permita que eu te ame e confie nesse amor, porquê se quer mesmo saber, nada mudou desde a noite passada, eu ainda sou apaixonado por você, Tómas, e toda essa auto sabotagem só me faz questionar se o garoto que eu amo é realmente digno do meu amor. Não abra mão da sua felicidade por conta de monstros internos e receios bobos, não é o que quero para nós dois.

Há apenas o silêncio, e bem lá no fundo, consigo ouvir a sineta estridente anunciar a próxima aula (que também irei perder) o Tómas se aproximou e agora está tão próximo de mim que consigo sentir o calor da sua respiração em meu rosto, e me surpreendo quando a pontinha do seu nariz encosta vagarosamente na pontinha do meu, eu não acredito que isso está acontecendo:

- Ele nunca será melhor do que eu. por que há uma diferença entre nós dois... – Diz, encostando os seus lábios nos meus e os massageando com os seus, não há língua nem nada, e ainda assim é bem melhor do que eu imaginei que seria. – Sou eu quem você ama de verdade...

 – Sou eu quem você ama de verdade

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O Capítulo do Pedro (Spin-off Alojamento dos Héteros)Onde histórias criam vida. Descubra agora