- O amor deveria ser uma coisa fácil, dessas que se pode encontrar na esquina mais próxima...Eu já imaginava que o ato da penetração não seria fácil para nenhum de nós dois (especialmente para mim), que levaria certo tempo até a estrutura do meu ânus se acostumar com o "hóspede estranho e invasor", que talvez saísse um pouco de sangue e que tentássemos diversas posições antes de encontrar a mais confortável para nós dois. O que eu não podia contar era que o Tomás deixaria o gozo escapar logo nos primeiros minutos, sem que eu (ao contrário dele), estivesse meu primeiro contato com o prazer pós-dor.
Eu sentia o líquido quente e gosmento entrando num jato fundo em mim, conforme o Tomás se contorcia e estremecia de puro êxtase e orgasmo, como se tivesse guardando o momento por dias e dias afinco, como uma fera mantida em cativeiro que após um longo tempo retorna a natureza e destroça sua presa com voracidade, ou ouvi o seus últimos gemidos e tratei de gemer por cima, tentando ao máximo transmitir que estava sentindo algo além da dor aguda e latejante do seu membro dentro de mim, ao tomá-lo em mãos e tirá-lo para fora, veio o alívio, seguido do gozo, que agora escorria para fora e pingava no colchão:- E aí? - quis saber, o abordando no momento em que ele saia da cama, recolhendo as peças de roupa espalhadas pelo dormitório. - o que achou?
Ele ainda estava ofegante, gotas de suor brotavam em sua testa, e tudo o que eu desejava era que ele voltasse para o colchão, que permanecessemos aqui eternamente, sem qualquer outra preocupação além de viver um para o outro:
- Foi bom. - respondeu, impassível, e então deixou suas roupas no canto e se voltou à mim. - vou tomar uma ducha, você deveria ir deixando tudo em ordem, logo o Boca estará de volta.
Não fora a resposta que eu esperava, mas eu tava começando a me acostumar com o modo do Tomás lidar com as coisas, no meu íntimo, eu sabia que não podia esperar atitudes fofas e românticas vindo dele, nem sei porque ainda alimentava tais esperanças, sem contar que suas instruções estavam certas, e apesar de eu ter acabado de presenciar o melhor momento da minha vida, não poderia por tudo a perder por causa do Boca:
- Tudo bem. - concordei, deixando a cama e começando a reorganizar tudo...
Eu já havia feito a troca dos lençóis e só aguardava o Tomás na beirada da cama, esperando que ele terminasse para me dar a vez na ducha, foi quando eu ouvi.
Não acreditei que era no 107, poderia ser em qualquer uma das outras portas afora, mas a certeza veio logo em seguida, com outra série de batidas, acompanhadas de movimentos na maçaneta e gritos:- PEDRO?! ABRE AÍ CARA!
Era o Boca, mais cedo do que o esperado (ou talvez nós tenhamos nos prolongando demais no ato). Assim como eu, agora o Tomás também ouvira, e num segundo estava bem diante de mim, largando a toalha de lado e vestindo a roupa às pressas sem nem mesmo se preocupar em estar todo molhado, o pânico estampado em nossas faces:
- *o que a gente faz agora? Estamos fodidos.* - cochichou
- *n-não estamos* - mantive o tom. - * é só... é só ter calma e... e...*
Mais batidas, cada vez mais impacientes:
- MANO, QUAL É, NÃO ACREDITO QUE VOCÊ DORMIU E TRANCOU A DROGA DO DORMITÓRIO POR DENTRO! PORRA!
- *eu sabia...* - ele prosseguiu, as mãos na cabeça, aflito. - * sabia que não devia ter feito isso, agora, com muro ou sem muro as pessoas vão saber de nós.*
- * vamos dar um jeito. * - tento o acalmar enquanto busco uma saída viável e rápida. - * poderíamos dizer que estávamos fumando.*
- * é, mas eu não tenho maconha aqui. *
Eu não contava com isso, mas esse não é o fim do plano:
- *não precisamos, é só dizer que jogamos no vaso depois de fumar e demos descarga.*
Ele assentiu, mas então me fulminou com o olhar:
- *por que você ainda tá sem roupa? Se veste porra.*
Só então me livrei do pânico entorpecente, recolhendo todas as peças ligeiramente e vestindo tudo às pressas (por mais anti-higiênico que fosse):
- PEDRO?! ABRE AÍ CARA!!!
olhei para o Tomás uma última vez, ele confirmou com a cabeça e se posicionou no sofá do modo mais natural que conseguiu, não havia mais o que repassar, respirei fundo e me encaminhei para a porta, tentando agir com a naturalidade de um assassino que acabara de esconder um cadáver e precisa se livrar de tudo o que é incriminador. Ainda na porta, Boca me recebe com desaprovação, e seus olhares fuzilantes são capazes de transpor o meu corpo, mas aí ele os direciona ao Tomás, e agora parece um pouco surpreso e levemente curioso (embora tente disfarçar a pulga que cresce atrás da orelha)
Ele adentra cautelosamente, como se percebesse que chegara no momento errado, mas não necessariamente o que estávamos por fazer:
- Por que fechou a porta por dentro? - indagou, se voltando à mim como se a presença do Tomás não fizesse diferença.
- Não podíamos ser pegos, foi só um baseado.
Falei com o máximo de convicção possível, dando veracidade a tudo, mas o Tomás ia em contrapartida, parecia prestes a ter um colapso e sequer olhava para o Boca, era esse o fio solto que nos denunciaria, e nenhum de nós poderia contar que o Boca era tão persuasivo:
- Só um baseado? - prosseguiu, agora se voltando ao Tomás e repassando a pergunta para ele, que por algum motivo tinha certa dificuldade em agir naturalmente:
- CLARO PORRA! O QUE MAIS PODERIA SER?! - Disparou, erguendo-se do sofá e batendo os pés de modo ameaçador. Mas nem mesmo isso foi o suficiente para deter o Boca e seus questionamentos infames, ele sabia que estávamos escondendo algo, sabia onde o cadáver havia sido enterrado, e agora iria até o fim:
- também quero fumar, cadê?
- j-jogamos no v-vaso. - gaguejei, (maldita hora!!!)
Ele me observou atentamente, e então voltou seu olhar inquisitivo para o Tomás antes de contestar:
- Tá legal, tem alguma coisa rolando aqui e não é de agora, vocês dois vão me dizer ou não? Porquê eu preciso de uma resposta, afinal de contas, esse dormitório também é meu...
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O Capítulo do Pedro (Spin-off Alojamento dos Héteros)
RomanceAntes do 211, da paradise e dos inúmeros eventos que procederam a chegada do Alexei ao São Vicente, existia o Pedro; recluso, antisocial e preso as amarras da timidez, ciente de que estaria fadado a não ter alguém durante toda sua existência, o garo...