Epilogo

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''Balancei a cabeça negativamente diversas vezes, balancei tão forte e tão convicta de minha resposta que achei que alguma coisa tinha se soltado dentro dela. Aquilo era loucura, eu podia ouvir qualquer coisa sair daqueles lábios que outrora tinha beijado ferozmente, qualquer coisa que saísse dali seria aceitável, mas essa era uma proposta indecente até mesmo para os padrões de Charlie Bloson. Por um breve momento achei que tinha batido minha cabeça com força quando me joguei no chão e que estava ouvindo coisas, pois o que ele dizia não condizia com o homem que eu jurava conhecer, mal eu sabia que ele era uma caixinha de surpresas, simples e compacta, mas sempre ocultando a outra face. Presa em meus pensamentos notei que ainda balançava a cabeça tive que parar por um momento e encarar meus sapatos. Ele ainda estava parado próximo á fria janela Húngara esperando minha resposta e eu sentia o peso do fardo que carregava em minhas costas, minha resposta mudaria a vida de ambos para sempre.

Mordi meu lábio inferior, ele segurou meu queixo, senti suas mãos tocando minha pele, ele ainda causava um impacto sobre mim de forma que sentia minhas entranhas derretendo por dentro, era isso eu tinha que dar um fim á essa loucura.

Fechei meus olhos com força, tão forte que chegaram a doer entre as lagrimas quentes e meladas, quando tornei a abri-los ele ainda estava parado em minha frente esperando pacientemente por algo que eu não podia dar ou oferecer: minha vida.

Abri os olhos, eu os tinha fechado com tamanha força que via pequenos pontos luminosos quando tornei a abri-los. Só quando pude enxergar notei que ele ainda segurava minha mão, passando todo calor de seu corpo para elas. As soltei as coloquei dentro do bolso do meu roupão.

Ele continuava me olhando, parecia uma criança perdido, e poderia jurar que via ansiedade em seus olhos, uma fome por minha resposta.

Tornei a balançar a cabeça negativamente, para bom entendedor meia palavra bastava e um gesto era o suficiente para entregar minha mensagem. Não havia um futuro para ser construído com nós dois vivendo lado a lado.

Ele captou a mensagem, confirmou com um leve aceno de cabeça, me olhos nos olhos pela ultima vez e saiu pela janela de encontro com as ruas brancas e pálidas da Hungria. O que me restou foi continuar a observá-lo até sumir na imensidão da rua e ser engolido por outras pessoas que passavam sumindo do meu campo de visão.

A sala se tornou fria, a eletricidade tinha desaparecido e meus dentes tremiam junto com o meu corpo, o único som que ouvia era do meu maxilar batendo para cima e para baixo, para cima e para baixo.

Eu sabia que tinha presenciado algo lindo e único, como também estava ciente que aquilo não foi uma história de amor, tudo não passou de um conto, sobre o mais belo espinho de sangue. ''

Com cuidado ela passou a mão pelas ultimas palavras que davam o fim, tamborilou os dedos sobre a escrita, suas longas unhas vermelhas pontudas analisando cada palavra impressa no papel. Ela olhou para suas velhas mãos, brancas e enrugadas, cobertas por manchas da idade, não sabia dizer quando a pele tinha perdido a elasticidade ou quando sua juventude tinha sido roubada.

Erzsébeth Pansy fechou a capa vermelha do livro e deu um longo suspiro, esperou um segundo e ouviu o som familiar de estralados. Tirou os óculos de leitura e observou as pessoas ao seu redor na sala lotada de estranhos, todos estavam em pé aplaudindo-a como se fosse a prima Donna de uma peça de ópera. Observou todos aqueles rostos desconhecidos, algumas pessoas assuavam o nariz, outras tinham um sorriso de satisfação estampado nos lábios. Outras soluçavam e a maioria mantinha as mãos contra os olhos cheios de lágrimas, era bom saber que mesmo depois de tanto tempo sua historia ainda surtia algum efeito para as pessoas.

O Mais Belo Espinho De SangueWhere stories live. Discover now