O lugar era outro, mas o sentimento era o mesmo, não era um sentimento estranho, era algo familiarizado, aquela velha sensação que estava escondida no porão, dentro de uma caixa, com corrente a sete chaves e enterrada. Não era uma boa memória, não era algo para ser revivido, mas era algo que moldou quem Charlie Bloson se tornou.
Ele se lembrava muito bem, da sensação nova, que o garotinho tinha acabado de descobrir, era aterrorizador e mágico, era como andar em uma montanha russa, sentir aquele frio na barriga, era excitante e revigorante. Isso foi há muitos anos atrás, em um passado muito distante, mas Charlie se lembrava como se fosse ontem, o simples toque, o vento da descida, o grito abafado no eco, e o som de algo caindo. Mas o pior de tudo foi à voz, aquela voz rouca, impregnada na nicotina, era um misto de espanto e raiva. Até em seus piores pesadelos ele ainda ouvia aquela voz masculina, que o aterrorizava até hoje: '' Garoto, o que foi que você fez?'' Charlie sabia que não era uma pergunta, apenas uma reação de espanto.
Agora muitos anos depois, algo improvável aconteceu, alguém havia conseguido despertar essa sensação em Charlie, a partir do momento em que ele ouviu um '' —Hey, mas que merda você tá fazendo?'' ele sabia que esse poderia ser seu fim.
Charlie estava em favor, o lugar em que se encontrava estava escuro e imerso nas sombras, como uma criatura maligna, o forasteiro, o perturbador estava na parte iluminada pela lua no estacionamento.
Charlie só conseguiu identificar o cabelo longo e a figura musculosa, por uma fração de segundo passou em sua mente em entrar em luta corporal com o sujeito, apesar de ser extremamente forte, Charlie não sabia se estava em desvantagem. Antes de arriscar descobrir se ele podia ou não dominar o tal homem, ele saiu correndo em disparada.
Charlie havia estacionado o carro a poucos metros de distancia, mas parecia uma corrida interminável. Ele escutava o som do outro homem correndo, ele gritava alguma coisa, mas Charlie não conseguia entender o que era. Ele apenas correu, o mais rápido possível, correu como uma presa foge do predador, o que era algo inusitado, pois era sempre ele quem perseguia, e não o contrario.
Assim que chegou ao carro, Charlie literalmente pulou para dentro do veiculo, e arrancou a toda velocidade. Os pneus fizeram uma espécie de grito excruciante enquanto Charlie via pelo retrovisor o homem com cabelos ao vento correndo e parando, após ver que correr atrás do carro era algo inútil.
Charlie sentiu-se inundando pelo ódio, um sentimento que o rasgava por dentro, dilacerava suas vísceras, um torpor quente como um uísque, tudo o que ele queria era bater em algo, e o volante era o que ele tinha de mais próximo.
—Porra, porra, merda, merda, COMO? COMO ELE OUSA ME INTERROMPER! QUEM AQUELE FILHO DA PUTA PENSOU QUE ERA PARA IR ME ABORDANDO? COMO EU PUDE SER TÃO IDIOTA A PONTO DE ME ARRISCAR VOLTANDO A PORRA DAQUELE SUMERPERCADO! MERDA! — Charlie gritava e esmurrava o volante que buzinava com as pancadas.
Chegando em casa, Charlie estava mais controlado, ele se jogou em sua poltrona e logo Jeffi pulou em seu colo ronronando.
—Eu sei, eu sei você está com fome — ele disse afagando o gato branco que ronronava e mordicava seu rosto— papai trouxe seu lanchinho especial, mas agora eu acho que vai demorar um pouco para trazer outro, já que você comeu dois dias seguidos, seu guloso. Está ficando muito arriscado para o papai sair brincar ultimamente. Pois bem, vou dar sua comidinha— Charlie disse levantando-se— Amanhã será um longo dia, tem uma pessoa que eu preciso visitar.
Na manhã seguinte Charlie acordou bem cedo, colocou um velho jeans surrado e uma camisa social preta, ele tinha planos para a manhã e não envolviam lidar com terra ou flores.
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O Mais Belo Espinho De Sangue
Misterio / SuspensoErzsébeth Pansy é uma agente pouco convencional do FBI, ela segue suas próprias regras e tem um mórbido gosto viciante por coisas ilegais. O FBI descobre que um serial Killer tem tirado o sono de todas as mulheres da Califórnia, pois ele tortura sua...