Capítulo 34 - Não estou em perigo

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Quando o desespero se choca em uma parede de emoções milhares de partículas de sentimentos são liberadas. Quando um individuo é empurrado até seu limite ele toma atitudes e executa ações imagináveis, que em seu estado de espírito normal jamais passariam de uma possibilidade absurda de seu subconsciente. Quando o amor, o ódio, o desejo e a agonia se fundem, tornando-se apenas um sentimento só solidificado, esse sentimento se torna um parasita grudado no interior, sugando toda a vida e a sagacidade de uma pessoa. Esse parasita que come por dentro, que lascivamente dança na carne branca, brincando com as entranhas e absorvendo todos os sentimentos bons, deixando apenas tudo àquilo que é desprezível retido em um interior maligno, esse parasita se chama loucura.

Todos têm a loucura dentro de si, unida com o desespero, andando de mãos dadas com o desejo, ela se torna incontrolável levando á maldade.

Erzsébeth Pansy entrou cambaleando no apartamento que ela dividia com Roger Winnes. Estava entorpecida como em um sonho ruim, como se um estado de transe a tivesse engolido e devolvido apenas uma parte digerida da mulher. Ela tentou se apoiar nas paredes do corredor, mas suas mãos estavam manchadas de sangue, deixando a marca dos cinco dedos vermelhos na parede branca. Ela adentrou no quarto e se olhou no espelho, estava toda de preto, branca e pálida como um cadáver, o busto e suas mãos estavam sujas de sangue. Alguns respingos vermelhos contornavam seu rosto.

Suas roupas estavam encharcadas da nevasca que ela havia tomado no caminho de volta para casa, os flocos de nevem começaram a se derreter em atrito com sua pele quente deixando a roupa pegajosa e gelada. Pansy se sentou na beirada da cama e alcançou a pequena caixa de madeira que estava próxima, a segurou contra o peito. Lágrimas involuntárias brotavam de seus olhos era inevitável não chorar diante de tal situação, Pansy não fazia idéia de quem era à pessoa que ela havia se tornado, ela tinha certeza que o espelho estava lhe contando mentiras e que a pessoa que vivia dentro de sua mente doente iria se libertar a qualquer momento.

Pansy não conseguia aceitar que tinha feito aquilo, tudo fora tão rápido, em um momento Charlie Blosson estava com uma mão explorando o seu corpo e em uma fração de segundos ela tinha tirado a arma de trás de seu vestido. Foi tudo tão rápido, tão inesperado, tão gelado...

A mulher cravou as unhas ensangüentadas na caixa, arranhando a madeira sentindo as farpas entrando embaixo da unha. Ela não chorava, gritava. Tentava controlar o choro, mas tudo o que produzia era um soluço feio e esganiçado. Não eram lagrimas de tristeza, eram de ódio, ódio de si mesma, de agir sempre por impulso e ferrar tudo.

Um barulho veio da direção da porta, Roger provavelmente tinha chegado do trabalho, não seria interessante se ele a encontrasse ensanguentada e chorando na cama. Pansy jogou a caixa debaixo da cama e correu para o banheiro. Livrou-se das roupas molhadas e entrou embaixo do chuveiro, esfregando as mãos para tentar lavar o sangue seco, o sangue havia formado uma crosta em suas mãos e não saia de jeito nenhum. Na realidade ela não queria que aquele sangue saísse de contato com sua pele. Ela esfregava com uma bucha, até a pele ficar em chamas, em carne viva, embaixo em seus pés uma poça vermelha se acumulava do sangue que escorria de seus braços, Pansy parou de se esfregar e observou o sangue indo embora pelo ralo, uma vida indo embora.

Após uma vida embaixo do chuveiro ela se enrolou em um roupão e foi até a sala, Roger estava sentado no sofá vendo TV.

—Hey. —Ela disse baixinho.

—Hey você. — Ele respondeu.

—Olha Roger, eu queria... Queria dizer que...

—Eu sei, eu sei. Eu fui um idiota de não ter contado pra você que o Johnny tinha morrido, mas Erzs, tinha tanta merda acontecendo na sua vida e você não precisava saber disso.

O Mais Belo Espinho De SangueWhere stories live. Discover now