Um calor percorreu todo o seu corpo, talvez fosse a brisa quente do verão que estava cozinhando qualquer coisa viva (ou morta), mas assim que as suas mãos calejadas tocaram aquelas delicadas mãos femininas ele teve certeza que todo o calor eminente vinha dali. É incrível como o corpo humano pode passar diversas sensações, e um simples aperto de mão, algo banal do dia a dia, um comprimento, uma troca de germes, fez com que toda a eletricidade da terra passasse dos dedos dela para os dele. O mundo poderia estar explodindo fora daquela loja de conveniência que Charlie Bloson nem teria notado o menor impacto.
Charlie havia ido ate aquela loja de conveniência no caminho de volta para casa, ele tinha parado para abastecer no posto de gasolina que era próximo da loja e como estava com fome resolveu comprar alguma porcaria que se joga no microondas e fica pronto para comer. A loja estava vazia e também com esse maldito calor nenhuma alma sairia de casa para ir fritar no meio do deserto de Nevada.
Depois de pegar a comida, Charlie estava indo para o caixa quando algo chamou sua atenção, não especificamente algo, mas um odor. Desde pequeno Charlie sempre teve um olfato sobrenatural por assim dizer, extremamente desenvolvido, o que era algo muito útil na sua profissão de botânico, ele se lembra do cheiro de canela que sua mãe tinha, sua loção corporal ela era de aroma de canela, do cheiro de hortelã que seu pai tinha devido as balas que ele sempre carregava no bolso, ele conseguia farejar seus pais a distancia, e claro o cheiro das rosas, aquele odor que ele sempre foi fascinado devido a roseira de seu jardim, um cheiro tão bom e puro, que impregnava o ar, até perder a inocência e ter aquele cheiro podre, mas... Não agora não era hora de se lembrar disso.
O aroma impregnou todo o ar, era um misto de essências que Charlie nunca havia sentido em toda a sua vida, e olha que ele sentiu muitos cheiros, ele lembrava a flor da cerejeira, mas também tinha aquele ardor da pimenta, era como o beijo de uma virgem, um cheiro que dançava em suas narinas, e Charlie seguiu seus instintos mais primários e perseguiu aquele cheiro, ele precisava possuir aquele perfume, precisava saber se ele era puro, se era inocente, e se não fosse ele poderia quem sabe devolver a inocência para essa pessoa. Quase que fechando os olhos Charlie foi sendo guiado pelo olfato, e lá estava ela, ou pelo menos metade dela, era uma mulher dentro do refrigerador da loja caçando alguma coisa ali dentro, ele só podia ver o micro shorts jeans dela pra fora, e caramba ela tinha uma traseira e tanto, moças decentes não deveriam ficar nessa postura em um lugar cheio de predadores.
Charlie se aproximou tanto que sentia inebriado pela doçura daquele aroma, ele precisava tocá-la, tê-la, possuí-la, ele se aproximou tanto que só despertou do seu devaneio quando ela se virou e bateu com a bunda nas pernas dele.
Foi a partir deste primeiro contato que a eletricidade tomou conta de seu corpo, jamais ele havia sentido algo assim, foi apenas uma fração de segundos e ele sentiu como se tivesse colocado o dedo na tomada e ter tomado uma descarga elétrica.
A moça, que agora ele conseguiu ver era uma ruiva estonteante, ele mal conseguia ver a fisionomia dela porque todo o aroma dela quase embaçava sua visão, ela parecia uma encarnação de Afrodite na terra, ela era linda, tinha os cabelos ruivos e cacheados que caiam em forma de cascata no pelo seu colo, olhos cor de âmbar, maças do rosto vermelhas e proeminentes, e os lábios carnudos mais tentadores que ele já havia visto, ela tinha longas pernas torneadas naquele justo shorts jeans desfiado, e usava uma blusa justa marcando o busto, amarrada na barriga mostrando toda a sua brancura. Ela era quase uma prima Donna, será que quando Da Vinci viu sua Monaliza, sua Madonna ele conseguiu capturar toda a sua inocência e ao mesmo tempo o olhar intrigante e sensual que essa mulher tinha? Charlie queria congelar aquela imagem dela se virando e olhando assustada para ele para sempre, queria emoldurar aquilo e ficar contemplando até enlouquecer.
Tentando balbuciar alguma palavra e não parecer um completo maluco Charlie só conseguiu formular a seguinte frase:
—Me desculpe. —Ele disse sem tirar o olhar penetrante daqueles olhos que pareciam piscinas de fogo.
A Afrodite abriu a boca e soltou um som que deveria ser a voz dos anjos e disse.
—Imagina, você que me desculpe, eu nem vi que você estava ai atrás e... e ... acabei batendo em você acidentalmente. — Ela estava corada, o que a tornava ainda mais atraente
Charlie queria congelar ela naquele momento e não sabia o que dizer, tentou novamente reformular uma frase.
—Eu estava indo para o caixa, e acabei esbarrando em você, muito indelicado de minha parte.- Um pouco de cortesia não faz mal a ninguém.
—Que isso, tudo minha culpa. Enfim, que grosseria minha —Ela esticou aqueles lindos e delicados dedos em sua direção— Scarlett Bliss.- Ela tinha um nome Scarlett Bliss, e sim ela era uma brisa, um sopro naquela tarde de verão infernal, o nome dela parecia ter saído da tela de cinema.
Charlie queria arrancar a mão dela e por no bolso e guardar para si, mas a única coisa que fez foi usar sua outra mão livre também.
—Charlie Bloson, prazer em conhecê-lá.- No momento em que suas mãos se tocaram ele sentiu toda a magia da vida passando por ali, um magnetismo, uma eletricidade indescritível, era uma sensação tão boa, e Charlie quase sentiu como se tivesse sentimentos ou empatia, se ele realmente pudesse amar, se em um passado muito distante não o tivessem privado dessa dádiva da vida, ele poderia amar cada folículo na pele da mão daquela mulher.
Scarlett tinha um brilho malicioso no olhar e uma coisa que Charlie também sabia era decifrar olhares, será que ela o achava atraente, patético ou aquele era apenas um olhar de fome?
A bela mulher soltou a mão de Charlie e deu um sorriso torto para ele, que sentiu como se sua alma (se ele tivesse uma) saísse de seu corpo.
—Er, prazer em te conhecer, bem, eu, preciso ir. Tchau!- Ela disse e saiu como se fosse em câmera lenta. Charlie podia ver a mão dela se soltando da dele, ela sumindo e saindo pela porta de vidro da loja e ele sentia impotente como quem abre a gaiola de um pássaro e o vê ir embora, ele queria agarrá-la e descobrir se ela realmente era pura, ele não era como as outras, as outras se jogaram em cima dele de forma nojenta, elas eram lascivas e sujas, elas o lembravam aquela mulher do passado que ele queria tanto esquecer, ele ainda se lembrava dos espinhos da rosa batendo contra a pele, e o barulho de fricção que saia dali.
Scarlett ela era diferente, ela tinha algo diferente, ela podia se vestir de forma inadequada, mas também pelo amor de Deus, faziam quase 50°C lá fora era algo compreensível, mas ele sabia que ela era a certa, ele sabia que ele poderia se estabilizar com ela e parar com essa obsessão, ele sabia que ela iria curar a feridas do passado, e ela poderia talvez ser o álibi perfeito para cessar com as duvidas de todos a seu respeito.
Charlie pagou as coisas que comprou e entrou na sua caminhonete, ele notou que o conversível vermelho não estava mais ela, então provavelmente ela dela. Droga se ao menos tivesse anotado a placa.
Charlie ligou o carro e estava voltando para a floricultura, mas ele não conseguia tirar aquela mulher da cabeça, geralmente ele caçava todas as mulheres para poder realizar o seu trabalho semi-divino de restaurar a pureza delas, como ele mesmo gostava de chamar.
Mas agora era diferente, ela o encontrou, de certa forma, foi o destino, não havia alternativa, estava predestinado a ela ser dele e ele ser dela, ele apenas precisava descobrir quem era ela e de onde ela vinha, o que era um pequeno detalhe.
Fazia alguns dias que Charlie não exercia seu trabalho extracurricular, ele precisava de algo para liberar a energia que ele tinha acumulada, ele precisava encontrar outra candidata a ser salva, outra pessoa para ter a dignidade e virgindade devolvida. Ele precisava dar esse presente para alguém. E seria hoje.
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O Mais Belo Espinho De Sangue
Misterio / SuspensoErzsébeth Pansy é uma agente pouco convencional do FBI, ela segue suas próprias regras e tem um mórbido gosto viciante por coisas ilegais. O FBI descobre que um serial Killer tem tirado o sono de todas as mulheres da Califórnia, pois ele tortura sua...