O pânico é um sentimento inusitado, ninguém espera por ele, e tampouco consegue descrevê-lo, ele apenas aparece sem ser convidado, como um intruso em situações em que a calma deveria prevalecer, porém na queda de braço entre a calma e o pânico, este sempre acaba ganhando, ele se aproxima sorrateiramente, entrando nos cantos mais escuros, começa como um formigamento na espinha, que como uma carga de eletricidade vai subindo até o peito, quando ele chega ao coração, suas palpitações são evidentes, fazendo o mesmo bater mais rápido, tornando a boca seca, a fala impossibilitada, como se tivesse comendo areia. Ele lateja a cabeça, deixando a mais pesada, dilata as pupilas e retarda nossas ações, tudo de uma vez só.
Erzsébeth Pansy sentia um misto de pânico com desespero, o pânico havia chegado nela assim que ela recebeu o telefonema, que fora como uma sentença de morte, a morte de seu relacionamento com o botânico Charlie Bloson. Mas o que ela viu a seguir beirou o desespero: Charlie em pé na sala da casa de Pansy, imóvel como uma escultura, na frente de uma escrivaninha que ela mantinha naquele local, segurando uma pasta, uma pasta amarela de papel simples, com apenas três letras na frente em negrito FBI, o que nada mais era que toda a ficha que ela mantinha dele e da operação que ela havia mantendo nos últimos meses.
—Char-Cha-Charlie —ela tentava formular o nome, parada na divisória da cozinha e da sala— onde foi que você encontrou isso?
Charlie não esboçava nenhuma reação, de ódio, de raiva, de ultraje, nada nenhuma, ele estava parado imóvel com a pasta em mãos apenas olhando fixamente para Pansy, ela não sabia descrever o que aquele olhar gelado queria dizer, tudo o que ela via era um vazio frio.
—Muito bem. — Ele disse com a voz calma— Eu abri a ultima gaveta da escrivaninha enquanto você estava na cozinha e encontrei isso, mas, na realidade minha querida — Ele desviou o olhar para o outro lado da sala, evitando contato visual com Pansy— devo confessar que você me pegou de surpresa, esse foi um grande achado. —Ele riu secamente, seus lábios sorriam, mas seus olhos continuavam em um ponto fixo na parede, sem demonstrar nenhum traço de sentimento, Pansy nunca havia visto aquele olhar antes, ele parecia um estranho na sua frente.
—Charlie, e-e-eu posso explicar, não é o que você está pensando, na verdade, é uma daquelas situações —ela sentia o rosto queimar e os olhos estavam começando a ficar embaçados das lagrimas Se eu olhar para trás estou perdida ela pensava— em que a gente pensa que é uma coisa, mas na realidade é o oposto daquilo então —Ela passou as mãos pelos quadris sem saber o que fazer com elas. — eu sei que você vai entender, se me deixar explicar— Ela começou a tentar rir, para afastar as lágrimas, ela ria de maneira fraca, e forçada e sabia o quanto aquilo era ridículo.
—Isso não é necessário, eu entendo muito bem o que está acontecendo. —Ele voltou o olhar para ela, seus olhos eram dois icebergs, seu olhar era frio e impenetrável. — o que acontece é que tudo isso é minha culpa, apenas minha e de mais ninguém. — Ele passou uma mão pelos cabelos, jogando uma mecha para trás, ele deu uma risada nervosa. — Há! Como eu pude ser tão estúpido á ponto de imaginar que poderia ter uma vida normal? Que poderia ser uma pessoa normal? Que poderia ter sentimentos ou até mesmo, confiar em alguém?— Ele ria baixinho como se contasse alguma piada que apenas ele entendia— Vivien sempre teve razão, eu não posso tentar fingir ser aquilo que não sou não posso tentar me comportar como uma pessoa normal, meu pior erro foi ter achado que podia confiar emvocê— A maneira como ele cuspiu a palavra VOCÊ foi pior que qualquer xingamento.
—Não Charlie não! —Tarde demais, as lagrimas já rolavam no rosto de Pansy, como vermes brancos que rastejavam em seu rosto Se eu olhar para trás estou perdida—Charlie, ouça, eu acredito em você, eu sei que você pode ser uma pessoa melhor, acredite em mim, eu, eu eu vou esquecer tudo isso, vamos continuar nossa vida! —ela falava rapidamente sem pensar nas conseqüências daquilo que dizia Se eu olhar para trás estou fodida! — Charlie, não me importa quem você é, ou o que você fez, eu o amo, amo, amo! — Ela tentou se aproximar dele, mas ele levantou a mão em protesto, e ela não teve coragem de chegar mais perto.
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O Mais Belo Espinho De Sangue
Gizem / GerilimErzsébeth Pansy é uma agente pouco convencional do FBI, ela segue suas próprias regras e tem um mórbido gosto viciante por coisas ilegais. O FBI descobre que um serial Killer tem tirado o sono de todas as mulheres da Califórnia, pois ele tortura sua...