Capítulo 36 - Eu Sou o Perigo

55 4 0
                                    


Era como se andasse em flashs, lentos e ofegantes. Todos os movimentos e ações passando á sua frente em imagens deliberadamente desfocadas. Sua cabeça estava pesada e a visão levemente turva. O cheiro nauseabundo do cobre tomava conta de suas narinas era aspirado para dentro de seu pulmão dançando lentamente por suas entranhas. Ele estava acostumado com o sangue, mas agora era diferente. O apartamento cheirava a morte, cheirava a felino, cheirava á loucura. Loucura era a palavra certa para definir essa situação tudo não passava de uma loucura. Ele não conseguia raciocinar, tentava em vão colocar seu cérebro para funcionar, mas parecia que estava à mercê de um oceano de dúvidas, perdido, abandonado como uma criança. Ela tinha passado dos limites. Tinha ido longe demais, ultrapassado a barreira de proteção, o empurrado até o limite e ele sabia que ela tinha que arcar com as conseqüências, por mais terríveis que elas fossem, ele sabia que precisava ser feito.

Mas seu corpo não reagia, não reagia a nenhum impulso, ele tentava se mover, mas era como se seus pés estivessem fixados no pegajoso chão. A pequena poça de sangue que escorria pela sala não era tão grande, mas estava embrulhando seu estomago. Seus pés não se moviam do lugar e ele tentava sair daquele estado de choque, fazer com que seus impulsos voltassem a agir novamente, mas parecia que seu corpo tinha o abandonado, uma ameba patética e inerte no meio da sala.

Como ela podia ter feito isso? Esse não era do feitio da mulher que ele conhecia, ou pelo menos julgava conhecer, no que ela havia se transformado? Um monstro? Como ela teve a coragem de tirar a vida de um pobre animal inocente que nunca tinha feito mal nenhum á ninguém? Uma criatura pura e delicada e acima de tudo um amigo fiel. Se Charlie Blosson realmente se importava por alguma coisa, era pelo seu gato Jeffi.

Charlie sentiu o sangue voltando a circular em seu corpo, as peças estavam voltando a se encaixar e tudo estava começando a fazer sentido. Erzsébeth Pansy havia entrado em seu apartamento e decapitado o pobre animalzinho. Mas depois de todas as declarações de amor que Charlie havia mandado. Todas as flores? Que mulher mal agradecida! Depois de todo o amor que ele tinha dado para ela, ela o respondeu da maneira mais baixa, suja, sórdida e ordinária e por um segundo ele se lembrou que ela não passava de uma mulher. Que ela não merecia o menor respeito ou consideração. Charlie havia tentado ser um cavalheiro, e daí que ele tinha enfiado arame farpado na intimidade dela? Algumas pessoas gostam de ir ao extremo. Ele não imaginou que ela fosse do tipo de pessoa que guardava rancor e aparentemente ela não tinha um pingo de compaixão pelo pobre Charlie, tirando seu animal de estimação de maneira tão cruel de sua vida. Charlie podia ser um serial killer, e em muitas definições um monstro, um maníaco, um homem frio e com pensamentos sórdidos, mas uma coisa era incontestável: ele amava os animais.

E no momento ele não sentia muita empatia por Pansy.

Na realidade ele sentia ódio. O mais puro e simples ódio corroendo suas veias, ele podia sentir o coração pulsar pela camisa, ou talvez também fosse seu ombro que tinha voltado a latejar, e lembrando-se disso, ele não estaria o incomodando de dor se aquela mulher a quem Charlie julgava amar não tivesse metido uma bala nele. Charlie queria meter muitas coisas naquela mulher nesse momento, para começar os dedos dentro da garganta dela.

Apesar de tudo Charlie ainda era um ser humano, e humanos tem atitudes exacerbadas e patéticas e quando estão com raiva agem de maneira não coesa como se fossem retardados. Por algum motivo Charlie se agachou ao chão perto do cálido corpinho sem vida de seu gato e pegou a pequena cabeça em suas mãos. O gato estava com os olhos fechados e totalmente manchados de sangue. Charlie sentia o sangue asqueroso e pegajoso em contado com a ponta de seus dedos e em uma atitude exagerada e desesperada ele tentou unir novamente a cabeça ao corpo do gato, como se de alguma maneira isso fosse milagrosamente fazer com que o gato voltasse a miar e ronronar.

O Mais Belo Espinho De SangueWhere stories live. Discover now