capítulo 1

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"Algumas coisas chamam a atenção dos teus olhos, mas apenas as que capturam o seu coração são realmente relevantes"

Não sei exatamente o impacto que isso teve em mim e se meu coração abrangeu essa relevância para minha felicidade ou minha auto-destruição.

[•••]

10 anos atrás

O sol refletindo em meu rosto era o suficiente para me fazer sentir uma certa paz em minha mente.

Passei a última hora andando pela cidade da qual jamais me esquecerei, talvez seguir o caminho do Sol e ir em direção ao futuro não seja tão empolgante quando pareça ser.

Não é como se eu pudesse me despedir de todas as minhas memórias, é como se eu olhasse para elas uma última vez e soubesse que daqui em diante seria apenas o "além".

-Flashback on-

Subo os degraus de minha casa vagarosamente enquanto mando mensagem para Naty. Talvez eu devesse parar de fazer isso, já que nada me impediu de tropeçar no degrau e derrubar o celular um pouco abaixo de meus pés.

-Parabéns, Mia.- digo para mim mesma enquanto reviro os olhos.

Por sorte meu celular parece ter sido feito de pedra e não quebrou a tela. Solto um suspiro de alívio e o guardo no bolso de trás do short seguindo meu caminho para dentro de casa.

Da porta consigo sentir o cheiro extremamente agradável do jantar adentrar minhas narinas e fazer minha barriga roncar.

-Cheguei.- falo elevando um pouco o tom da voz, para ser audível a todos.

-Estávamos esperando por você.- Meu pai diz sentando-se a mesa enquanto minha mãe coloca as travessas na mesma.

-Algum motivo em especial?- pergunto olhando para o mesmo que suspira. Um clássico suspiro que significa que daqui em diante ele vai dizer algo que não irá agradar meus ouvidos.

-Filha precisamos conversar com você- ele fala num tom preocupado.

-Pode falar- digo. Oh não, não sei se quero realmente escutar o que vem em seguida.

Um arrepio sinistro sobe da minha espinha até meu pescoço e me estremeço toda. Algo dentro de mim, como um tipo de alerta, me diz que algo vai dar errado.

-Eu e sua mãe conversamos sobre aquela proposta de emprego que comentamos com você...em Los Angeles...- ele espera que eu diga algo mas estou paralisada e em silêncio total, por fim ele continua- A situação aqui não está como o planejado e as contas estão aumentando e o dinheiro diminuindo, ano que vem você irá precisar de uma faculdade e...

-E?- interrompi.

-Consegui uma sociedade com a dona da Reekles piosen. Eu dou a casa para ela e ela arruma uma lá para nós. Terei 35% dos lucros da empresa, ela permanece como a sócia majoritária, mas ganharei tanto, que 35% chega a ser uma grande oportunidade para o nosso e o seu próprio futuro.

-Você é um grande advogado sozinho, não tem como esperar minha formatura?- pergunto já balançando a perna desesperada em busca de calma. Mas no momento meu corpo só transmitia nervosismo.

Eu não conseguia raciocinar direito, se passava um milhão de coisas ao mesmo tempo na minha cabeça. Mas a única certeza que eu tinha era a de que eu não queria ir, não agora!
Eu tenho uma vida aqui, talvez depois da formatura, para uma oportunidade de faculdade, mas agora...

Desesperada querendo pensar um pouco, empurro meu prato de comida e subo para meu quarto o mais rápido que posso enquanto escuto meu pai falando para minha mãe que ela precisa conversar comigo.
Me jogo na cama e me perco nos meus próprios pensamentos de que minha vida iria por água abaixo.

Eu sabia que na hora que meu pai me chamou, alguma coisa ia dar errado...bom, não deu errado ainda, mas a sensação na minha barriga, como borboletas descontroladas, dizia claramente que daria errado.

Esse é o famoso drama adolescente onde qualquer outra garota do planeta iria querer ir para Los Angeles, mas como minha mãe diz "eu não sou todo mundo".

Não é como se eu não quisesse ir, eu só queria me formar aqui, com meus amigos, e depois iria de bom grado, já que preciso buscar uma grande oportunidade de crescer na vida.

O fato não era me mudar, pensando bem até parecia algo legal, o fato mesmo era largar tudo. Eu não estava preparada para encarar essa realidade que é viver em outro lugar, longe de tudo que eu já conheço e faço. É como se estivesse adiantando minha maioridade, não planejei isso ainda, tinha esse ano todo para isso...

Eu não sou a melhor pessoa do mundo para me socializar, e sinceramente me assusta o fato de acabar sozinha ou me perder em algum ponto em que estrague meu futuro.

Posso estar sendo egoísta pelos meus pais, mas sinceramente eles também estão sendo comigo por não ligar realmente com o que eu sinto e com o que me alegra.

Sei que ele precisa do emprego e do dinheiro para que possamos continuar nossa vida. Não gosto de estar triste e ainda me sentir culpada por isso. Ele pensa em mim e no meu sucesso, mas não sei até que ponto isso me trás felicidade.

Algo no fundo do meu coração dizia que iria dar TUDO errado. Enquanto isso vou colocar tudo a perder dando uma chance a meu pai? Ou a mim mesma?

Uma batida na porta ecoa pelo meu quarto antes da mesma abrir e revelar minha mãe com o olhar mais gentil do mundo.

Levanto-me da cama sentando em seguida, minha mãe faz o mesmo sentando-se ao meu lado.

-O que está passando nessa cabecinha?- ela pergunta fazendo carinho em meus cabelos.

-Não queria ir agora, talvez no final da escola seria melhor, só tenho esse ano e metade do próximo...queria me formar com meus amigos e planejar melhor minha vida...

-Talvez buscar novas oportunidades seja algo que se revele bom.
E não diga para seu pai que eu falei isso, mas ela tem um filho com sua idade, e ele é uma gracinha.- ela dá aquele sorrindo sapeca e a acompanho.

-Mãe! De jeito nenhum eu vou ficar com o filho dela!

-Só estou dizendo que você precisa viver coisas novas para se descobrir, não precisa planejar isso, eu sempre farei de tudo para que as coisas na sua vida dê certo. Não é para seu mal meu amor.- ela me abraça de lado me apertando contra si.

-Eu vou. Mas quando tudo der errado, as malas vão estar prontas para voltarmos.- digo antes que consiga me arrepender de dizer sim.

-Obrigada filha. Não sabe o quanto isso é importante para nós. Vai dar tudo certo, você verá!- minha mãe fala esbanjando felicidade e me apertando ainda mais.

-Assim espero...vou dormir, você está me matando sufocada- digo dando risada e ela me solta.- Boa noite e amo vocês.- falei.

-Boa noite, te amamos também querida.- minha mãe disse beijando minha testa, logo em seguida se levantando e saindo.

-flashback off-

"Nosso último erro, é nosso melhor professor"

E foi nesse exato momento em que eu consegui complicar a minha vida em uma escala tão alta que o erro foi irreparável. Não dava para aprender com ele, muito menos corrigí-lo.
Foi aí, que oficialmente minha vida afundou.

Mas talvez, no fundo do meu ser, eu realmente não quisesse consertar esse erro. Talvez "ele" tenha sido o melhor erro que cometi.

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Espero que gostem ❤️

Beyond- |H.S| (editando) Onde histórias criam vida. Descubra agora