ELEMENTAIS vol.1 - Labirinto de Fogo.

Capítulo 3: Proteção Desfeita.

O retorno da comitiva do guardião da Congregação dos Sábios Ocultos à cidade sede foi silenciosa, havia algo extremamente nefasto no ar. Assim que encerraram a longa conversa, o arcebispo fez uma cópia da ameaça e entregou a contragosto a Dhorion, o qual releu diversas vezes até chegar nos corredores labirínticos da sede da sociedade secreta. Engolia a seco, resignado às lembranças que insistiam em açoitar seus pensamentos.

Enquanto caminhava movendo o papel entre os dedos longos, associou os fatos recentes ao atentado contra Marine Talbott no dia 17 de março, dia de São Patrício. Apesar das Sombras terem ciência da existência da garota, o envio não condizia com a postura dos inimigos, que permaneceram em silêncio desde aquele anoitecer em Glendalough. A segurança em torno da jovem fora acrescida por uma fiel escudeira do guardião que liderava a guarda silenciosa.

O acordo entre Dhorion e Dylan Talbott precisava ser mantido, principalmente após sua fatídica morte, o que gerou um caos no Conselho das Casas, atribuída às demais seis ramificações da sociedade secreta dos bruxos pelo mundo. A magia chegaria à Marine no momento acordado desde seu nascimento; por enquanto, ela necessitava ficar distante de tudo para sua própria proteção.

O guardião subiu uma grande escadaria de mármore e, ao avançar pelo amplo corredor soturno, uma voz feminina sussurrou em seus ouvidos:

Não há como refrear o inevitável.

Dhorion estancou e, automaticamente, paralisou-se. Um ar gélido incomum e latente pareceu petrificar sua alma. Seus olhos cinza observaram as sombras emitidas das grandes tochas nas paredes rochosas. Reconhecera aquela voz funesta e murmurante, virou-se bruscamente, procurando-a saudoso.

Uma luz prateada brotou do chão, como um portal abrindo-se e interligando realidades diferentes. A silhueta de Kiara Finnin cintilou na escuridão.

A mentira lhe salvou a vida, enquanto a verdade lhe condenará à morte — disse o espectro duramente.

— Kiara, como? — Dhorion delineou uma expressão de assombro. Desde sua morte, no dia primeiro de janeiro, jamais obteve contato.

Existem muitas portas abertas entre os vivos e os mortos, guardião. Apenas ocultei-me do que não queria testemunhar. E não há como salvar Marine Talbott sem causar mais dor e sofrimento. Infelizmente, sua alma precisa aflorar as cicatrizes adormecidas na escuridão que nela reside. Ela é a perdição de todos nós, vivos e mortos.

Dhorion abismou-se com o que acabara de ouvir e contestou, recordando de algo que apenas eles sabiam.

— Kiara... Há uma fenda no destino... Você sabe disso — completou receoso.

Existem desígnios que necessitam ser cumpridos, ou ela deixará de existir. A sua essência irá tragá-la para uma escuridão sem retorno.

— Tudo está saindo como o planejado há anos — assegurou hesitante. — Só precisamos saber como termina, para o ciclo de almas reiniciar — instigou aflito e ainda desacreditado que a via sem executar a evocação apropriada.

Não há como prever mais nada quando o passado e o presente estão genuinamente integrados.

Dhorion balançou a cabeça negativamente, respirando trêmulo.

— Kiara, há esperança no futuro, sabemos disso.

A certeza do inevitável está atrás da porta da sua sala.

Ele vincou a testa, assustado e, demasiadamente, preocupado.

— Em que plano você está? Por que não consigo lhe localizar? — Aproximou-se inseguro.