Capítulo 44: Legado Sanguíneo.

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Assim que deixou o carro na frente de casa, Sarah foi abordada por dois bruxos que inspecionaram tudo o que ela carregava, além do veículo. A garota não se opôs, desejava colaborar com a segurança.

Havia passado no mercado e trouxe frutas, bolos e doces e despachou alguns documentos que seu pai precisava. Ele passaria mais tempo longe.

Logo que chegou a cozinha e deixou os itens no balcão, foi até a amiga que lia um livro indicado por Peter. Perguntou se estava tudo bem e contou que trouxe comida. Marine não se animou, mas a amiga insistiu.

— Vou guardar algumas coisas e vamos comer — disse Marine desanimada.

Assim que Sarah fechou a porta do quarto e dirigiu-se à cozinha, uma atmosfera gélida dominou, como se um nevoeiro congelante invadisse o espaço. Ao mesmo tempo, uma voz conhecida ecoou em seus ouvidos. "Ela é a portadora da escuridão."

Sarah reconhecera a voz sussurrante de imediato e ficou ofegante, tanto pelo medo quanto pelo frio. Todos os seus pelos eriçaram-se. "Ela condenará todos à morte."

Sarah virou-se devagar buscando a voz e surpreendeu-se ao ver sua mãe passos à sua frente, desacreditada. Seu corpo travou e tentou engolir uma saliva, em vão. Nada funcionava, como se estivesse entrando em uma paralisia mortal. Ela estava viva diante de si.

— Mãe? — a voz saiu devagar dos lábios petrificados.

Em breve, o legado sanguíneo fluirá de suas veias, minha filha, e a portadora da escuridão se beneficiará, pois o passado, presente e até mesmo o futuro estarão interligados por essa obscuridade de almas.

Sarah olhou incrédula, tentou aproximar-se com dificuldade.

— É a senhora mesmo? — A voz mal saía e uma lágrima descia sob seu rosto pálido.

Se tudo se cumprir, muito em breve estaremos no mesmo plano. Cuidado com a traidora.

— Quem é a traidora?

Kiara desfragmentou-se, levando consigo a gelidez e o nevoeiro.

Sarah manteve-se assustada e mirou a porta do quarto de Marine, que se abriu devagar rangendo sombriamente, enquanto ela estava no banheiro escovando os dentes. A respiração de Sarah manteve-se ofegante e entrelaçou os dedos, visivelmente preocupada e assustada. Contaria à amiga o que vira, ou foi um surto momentâneo?

Na manhã seguinte, sob a grama, próxima ao lago, um pouco distante da grande Casa de Campo, Marine lia atentamente o livro sobre a manipulação de seu elemento natural e observava os desenhos e palavras. O livro sobre a pronúncia de feitiços recomendado por Sayne, sob a fiscalização de Peter, não saía do seu lado.

Seu novo Guia a pediu para ficar de pé e evocar sua essência. Peter desembainhou seu athame, conjurou um círculo ao redor e disse as palavras olhando diretamente nos olhos da jovem, que fez como ele recomendara.

Pareciam estar protegidos por um casulo gasoso faiscante.

Marine apontou o braço esquerdo, concentrou-se em tudo o que buscava e disse:

Ut excitandis potentia aquas.

Nada aconteceu.

— Você precisa de mais força na fala. Sinta as palavras, sinta a natureza fluir do seu corpo. Você faz parte da água, e ela de você. São uma só energia.

Marine cerrou os olhos e estendeu o braço novamente, pronunciando com afinco, sentindo como se as palavras fluíssem de seu espírito. Seu braço pesou, e pôde notar que seu corpo parecia entrar em ebulição. A superfície agitou-se vagarosamente com pequenas ondulações, girando como se estivessem sendo drenadas por um funil.

ELEMENTAIS vol.1 - Labirinto de Fogo.Onde histórias criam vida. Descubra agora