Capítulo 12: O Diário.

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Os dedos continuavam trêmulos e a depressão se abateu pesadamente em Marine, que balançava a cabeça negativamente, muito arrependida em ter dividido tudo com William. Achou-se estúpida. Assim que destrancou a porta da casa, surpreendeu-se positivamente.

— Marine! — falou Claire, surgindo da cozinha com Alice nos braços.

— Sra. Claire! — Abriu um largo sorriso e correu para um abraço fraterno. Estava visivelmente carente. — Como a senhora está? E a Susan?

— Está bem, claro que o pós-operatório é complicado. — Apesar de preocupada, sempre manteve o timbre de uma pessoa feliz. — Permanecerá internada, mas os médicos me garantiram que em dois ou três dias ela pode ser transferida para o hospital daqui.

A felicidade tomou conta de Marine, evadindo todos os sentimentos ruins que tivera nas últimas horas.

— Ela acordou? A senhora falou com ela? — demonstrava empolgação e preocupação.

— Não, apenas a observei, ela continua sedada. Foi retirado o baço, quebrou duas costelas, a lesão na cabeça foi um tanto grave, precisa de algum tempo para se reestabelecer — disse com tristeza e esperança.

Marine arregalou os olhos, que se encheram de lágrimas. Não fazia a menor ideia da gravidade da situação até que Claire listasse todos os danos que Susan sofreu no acidente. Sentiu-se uma péssima amiga, preocupada com pistas místicas enquanto a jovem estava internada, recuperando-se de lesões que poderiam tê-la matado.

— Mas ficará tudo bem — Claire a tranquilizou. — Retornei porque tenho que pegar algumas roupas e tomar um banho decente. Claro que estava morrendo de saudade de minha Alice. — Beijou a netinha. — Desde que ela nasceu ficamos juntas o tempo inteiro, não nos desgrudamos. — Sorriu. — Daqui a pouco precisarei retornar a Cork.

Marine não sabia como dizer, mas era evidente em seu semblante que desejava ir junto.

— Sabe, Sra. Claire, gostaria de acompanhá-la. É que sinto como se fosse um peso morto aqui — declarou Marine sendo sincera.

— Peso morto? Jamais, sentimo-nos sozinhas aqui, nós três, quanto mais companhia melhor, principalmente quando a companhia é boa, como a sua. — A tocou no ombro. — Mas é melhor que fique, precisa descansar. Logo estarei de volta. — Firmou os olhos dentro dos de Marine. — Vislumbro bons feitos advindos de você. É só ter paciência, minha querida. — Virou de costas, indo até a cozinha.

Aquelas palavras fizeram os pensamentos da garota formigar, foi como um conselho dado e absorvido instantaneamente.

No mesmo momento que Claire entrou na cozinha, Marine inclinou o pescoço para o lado e percebeu que a porta do escritório estava aberta. O coração pareceu parar ao ver os três quadros na parede do fundo, como no sonho.

Claire retornou da cozinha e subiu as escadas com o sorriso luminoso no rosto.

— Vou procurar na bagunça de Susan — zombou, apontando o andar superior. — Já volto, querida. — Desapareceu, dobrando no corredor acima.

O sangue de Marine fervilhou. Seu corpo lento, ainda petrificado pelo dia anterior, alçou voo para dentro do amplo escritório e moveu-se em direção à estante abarrotada de livros. Ali estava o exemplar em evidência, do mesmo modo que vira no sonho, destacando-se na fileira.

Era como se o livro vibrasse, clamando para ser lido. Estendeu a mão e o segurou firme entre os dedos, alojando-o dentro do casaco. Girou o corpo rapidamente e voltou para a sala como se sempre tivesse estado lá. Seus membros adormeceram e suas veias pareceram congelar, fazendo todas as suas terminações nervosas ficarem contraídas. Permaneceu estática no mesmo lugar, culpa apoderou-se de seu cérebro paralisado.

ELEMENTAIS vol.1 - Labirinto de Fogo.Onde histórias criam vida. Descubra agora