Capítulo 51: O Labirinto.

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O vento soprava efusivamente na copa das árvores outrora silenciosas, aquele colidir de galhos emitia ruídos macabros que há anos os ouvidos apurados de Kael não escutavam.

As vestes cintilantes dos Feiticeiros varriam o chão de relva morta, sempre com os olhares atentos ao que estava à frente. Assim que avançavam, as paredes foram se moldando, dando formas a inúmeros corredores. Caminhavam em uma marcha sincronizada resguardando os membros da Igreja ao centro, enquanto outros se espalhavam pelas inúmeras ramificações.

No decorrer do caminho, no espaço entre as rochas geométricas, serpenteava uma força laranja, a qual se alastrou por toda a magnitude do lugar, como se aquela força incomum vigiasse o visitante.

Padre George mantinha os dedos firmados em torno do braço de Marine, a qual olhara de relance para as grandes paredes e percebera faíscas bailando nas fendas. Aquele fogo não era comum, havia uma energia secular impregnada naqueles muros, algo extremamente poderoso e atormentador.

Inexplicavelmente, percebeu suas veias esquentarem, a magia que fora desbloqueada no Phoenix Park fluía de dentro da sua alma, entretanto, por estar presa dentro do arco de energia conjurado pelos Feiticeiros, sentia-se anulada e profundamente perdida. Estava sozinha.

O arcebispo tentava dissimular o medo que o imperava, pronunciando impropérios quanto à edificação. A única vantagem que lhe restou fora estabelecer contato com os Feiticeiros após a visita na casa dos Talbott's, em Dublin. Na reunião com as Censoras, notou o quanto Kael desconfiava de Dhorion e o quanto ele ambicionava o poder de Marine. Teodorus utilizou de sua excelente oratória e poder concedido pelo Vaticano e comprovou, utilizando Joanne como testemunha e a investigação delegada ao Padre George. Os Feiticeiros traíram os preceitos das classes em magia e apoiaram essa causa, com objetivo de canalizar o poder de Marine após a sua morte. Sim, ela precisaria morrer.

No núcleo do grande labirinto encontrava-se o Altar de Pedra, edificado pelos antigos druidas da velha Tradição Solar e Lunar. Dentro do vasto recinto, com inúmeros símbolos nas paredes, havia um pequeno lago azul, onde uma chama violeta queimava ao cerne. Ao lado esquerdo, uma natureza fantástica, com uma árvore branca ao fundo. Ao lado direito, o altar que representava a deusa Ceridwen e o deus Cornífero em sua forma híbrida e as cinco formas Elementais girando em torno do gramado.

Logo que adentraram no círculo de pedras rubras, os membros católicos nada viram, além de um lago imundo e um altar em ruínas.

— Apenas os tocados podem observar e experimentar os conhecimentos — proferiu Kael, contemplando a elevada magia do lugar.

Os olhos de Marine lacrimejaram ao admirar a imensidão e a atmosfera mágica do ambiente, além de assistir os espíritos Elementais planando diante do altar de velas verdes com chamas azuis.

O corpo do padre George paralisou e o mágico ao seu redor se revelou. Nas suas veias percorria magia e, desde a adolescência, sempre almejou se livrar desses acontecimentos místicos e inexplicáveis, por isso buscou a igreja, para, em sua crença, curar-se na fé. O que era, resumidamente, ineficaz. Os dons naturais concedidos pelos deuses sempre imperavam.

Apesar de Marine manter-se deslumbrada com a intensidade palpável de magia, percebeu que padre George também enxergava. Sentiu o poder emanar dele.

— Você também consegue ver? — surpreendeu-se Marine.

George virou-se para ela e controlou a respiração. Pânico residia em seu cérebro. O brilho da chama ao centro do lago refletia em seus olhos e ela teve certeza.

Teodorus foi até a margem do lago e crispou os lábios, dizendo:

— Então é aqui que está a relíquia de Letes? — exprimia nojo e cuspiu.

ELEMENTAIS vol.1 - Labirinto de Fogo.Onde histórias criam vida. Descubra agora