Capítulo 27: Poção dos Espíritos.

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Marine ouviu o barulho da porta ecoar em seus ouvidos aguçados, os olhos percorreram aquela sala que lhe tragava de maneira incompreensível, não soube explicar, havia algo além daquelas paredes. A porta se fechou em suas costas e um cheiro de folhagem invadiu seu olfato.

Era um ambiente amplo com assentos convidativos, quadros estampavam lutas entre anjos e demônios nas paredes ao fundo, muitas prateleiras tomavam conta do espaço, as lâmpadas estrelares complementavam a atmosfera mágica.

Havia um caldeirão pequeno sobre uma mesa triangular, alçando uma fumaça densa e opaca. No chão, em um raio de quatro metros, inúmeras velas grossas formavam um círculo. Dentro dele, outra mesa triangular, cheia de objetos.

— Atrasada — disparou uma voz autoritária detrás de uma poltrona confortável.

Marine engoliu a seco, assustando-se.

— Deixe a bolsa no assento à sua direita e pegue essa roupa branca.

Era uma ordem, apenas apontou, a fisionomia inexpressiva. Marine obedeceu de imediato, a guia continuava sentada de costas para ela.

— Dispa-se, fique com as peças íntimas e vista essa roupa branca.

Marine estendeu a roupa, observou-a e mirou novamente para a poltrona, hesitando.

A garota tirou o casaco junto com a blusa de algodão, abriu o cinto e retirou a calça, sua pele branca reluziu sobre o recinto iluminado fracamente. Descalçou os sapatos e colocou a roupa que coube perfeitamente em seu corpo trêmulo. Era um vestido simples e branco, sem corte nas laterais e com a gola alta.

— Tire qualquer acessório do seu corpo — parecia estar com tédio.

Desamarrou o cabelo, tirou o par de brincos e olhou para frente, afirmando estar pronta.

Sayne ergueu-se imponente, seus cachos louros amarrados em um fio vegetal. Foi até o final da sala na mesa retangular e tocou levemente em uma caixa de vidro, uma coloração laranja acendeu e apagou em dois segundos. A mulher sorriu, aproximando-se da garota, e entrou no círculo de velas grossas, posicionando-se na frente da pequena mesa triangular.

— Magia. — Mirava a jovem aturdida. — Arte mágica, religião dos magos, suposta arte de produzir certos efeitos contrariando a ordem natural das coisas, feitiçaria, encanto, fascinação? O que se entende sobre magia? Somente os bruxos praticam magia, Talbott?

— Bom, acho que sim — teve receio em responder, tinha a impressão de que qualquer erro poderia ser sua ruína.

— Errado — disparou com arrogância. — Ah, devo lembrar que você não se instruiu no Pentagrama. — Sorriu sarcástica. — Mas respondo a você, toda e qualquer pessoa pode exercer a magia, até a mais célebre Igreja Católica a exerce através dos séculos e séculos. A própria comunhão é um ato de magia, oferecer o corpo e o sangue de Cristo simbolizado em uma hóstia e um cálice de vinho é um ritual ilustre dos que nos condenam.

"Não apenas os bruxos praticam magia, quer dizer, sábios; nós somos sábios, e não bruxos. Bruxo foi um termo errado dado por pessoas inconsequentes e medíocres, que tentaram nos expurgar desse mundo. Porém, no decorrer dos séculos, a palavra bruxo foi adaptada ao nosso sistema interno. Posto isso, o nome de nossa sociedade secreta é "Congregationis Occultatum Sapientes", visa em seu anseio mais íntimo manter no anonimato pessoas com dons naturais ou adquiridos, para professar um bem interior maior".

Sayne disparava as palavras rapidamente, Marine absorvia tudo de forma avassaladora.

— Portanto, praticar magia é um ato divino que deve ser usado de maneira correta e segura, o guardião sempre nos lembra de que praticar o mal é errôneo. Na magia, tudo o que é feito volta-se três vezes, então pense bem antes de fazer qualquer coisa, pois o resultado pode ser fatal. Em um desvio atenuado, seus poderes vão se esvaindo gradativamente. Só que há um fato importante a ser trabalhado.

ELEMENTAIS vol.1 - Labirinto de Fogo.Onde histórias criam vida. Descubra agora