As pálpebras mantinham-se pesadas. Um enjoo subia pelo esôfago, associado ao intenso tremor que se alastrava pelo corpo suado de Marine, a qual logo percebeu estar de cabeça para baixo, presa ao cinto de segurança. Apoiou as mãos no teto do carro e olhou para a amiga inconsciente ao seu lado. Parte do corpo de Susan estava fora do carro, não estava usando o cinto, havia sangue pelo rosto e inúmeros hematomas e cortes pelo corpo. A garota tentou esticar o braço, porém sentiu uma fisgada. Seu braço também sangrava, além de um pequeno corte na sobrancelha esquerda.
— Susan... — Sua voz saiu como um gemido de dor, sua cabeça dava voltas enquanto tentava focalizar melhor a amiga. — Fala comigo. — Tentou desafivelar o cinto em vão.
As chamas alastravam-se próximas às rodas dianteiras. O cheiro de queimado e a fumaça fizeram com que Marine ficasse em estado de alerta e começasse a entrar em pânico.
— Susan! — bradou, olhando de um lado para o outro enquanto um filete de sangue descia pelo lábio superior, pingando no teto do veículo. Gritou desesperada.
O mesmo rapaz que deveria ter sido atropelado abaixou-se do lado de sua janela e focalizou em Marine com um semblante perdido.
— Você está bem? — averiguou preocupado, o rosto pálido.
Marine o olhou incrédula, através da janela, de cabeça para baixo. O impacto estilhaçou os vidros do carro.
— Não! — respondeu ofegante. — Me ajude!
As chamas tomaram conta da parte da frente do veículo, tornando a respiração difícil e aumentando a temperatura. Se as chamas chegassem ao tanque de combustível, o carro poderia explodir.
O desconhecido ficou de pé e cerrou os olhos azuis em direção ao céu, fez um singelo movimento com a mão direita em volta do peito e sussurrou palavras indecifráveis.
O vento soprou forte ao norte seguido por um estrondo elevado de trovão. O céu escureceu repentinamente e começou a chover.
Ele voltou a se abaixar e tocou com firmeza em uma das mãos de Marine.
— Calma — pediu com cautela.
A voz doce e hipnótica do rapaz pareceu fazer recuar suas emoções diante daquele momento apavorante. O misterioso jovem puxou um punhal do bolso de seu casaco e cortou o cinto de segurança que a mantinha presa ao carro.
— Eu seguro você, vem. — A apoiou com habilidade, impedindo que ela se machucasse ainda mais.
Marine o observava atentamente, algo nele atraía sua atenção, mesmo diante do caos em volta dela, porém sua cabeça latejava, o raciocínio mantinha-se nulo.
O fogo fora contido à medida que a chuva se tornava cada vez mais intensa.
— Cuidado — falou devagar, puxando-a pela janela.
— A minha amiga... — Marine tentou sair de seu agarre, virando-se para Susan.
— Assim que eu te tirar, vou ajudá-la também. — A puxou para fora do carro.
Ele ergueu Marine sem dificuldade e apoiou o corpo da jovem, segurando-a pela cintura. O movimento ligeiro revelou um amuleto no mesmo formato da pedra que fora deixada pelo Encapuzado na casa de Susan dias atrás.
Marine fixou os olhos do amuleto para ele, o qual logo percebeu que ela observava como se conhecesse a simbologia. Encostou-a no carro e guardou ligeiramente o objeto, circundando o carro. Agachou-se e tocou em Susan, vincando a testa.
— Ela está muito machucada — declarou ele, puxando-a devagar e com todo o cuidado.
Marine aproximou-se mancando, uma careta de dor cobrindo seu rosto.
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ELEMENTAIS vol.1 - Labirinto de Fogo.
Fantasía"A mentira lhe salvou a vida, enquanto a verdade lhe condenará a morte." Após uma evocação quase fatal aos deuses da Magia, os dons de Marine Talbott foram misteriosamente despertados e com isso um passado obscuro trilhado por farsas começará a emer...