Capítulo 35: O Antídoto.

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O rosto macilento reluzia na escuridão daquele quarto frio de hospital, onde se escutava apenas o barulho do monitor cardíaco ao lado do leito de Susan, apática, a qual se mantinha reclusa dentro de seu domo de estupidez, repelindo a todos que se aproximavam. Manteve-se calada por horas, observando as gotas do soro, quando uma fresta de sol atingiu sua face pálida e a fez berrar, indignada.

— Eu disse que quero ficar sozinha! — Moveu-se devagar, com dores no abdômen.

Um homem de roupas escuras esboçou um pequeno sorriso, abrindo mais frestas.

— Compreendo você... — o tom baixo e frio ecoou pelo recinto. — Ficar presa neste quarto enquanto o mundo lá fora a espera...

— Você é surdo? — bradou, escondendo-se da claridade.

— Na maioria das vezes não... — Virou-se devagar e abriu um largo sorriso, fitando-a hipnoticamente com aqueles olhos grandes e azuis. — Mas posso te ouvir, pobre garota esquecida pela avó e pela melhor amiga... — sussurrava.

Susan abriu bem os olhos e curvou-se para frente.

— Você é médico? Não conheço você... — Moveu a cabeça.

— Não sou médico, contudo posso ser sua cura — segredava tranquilamente.

— Como? — Vincou a testa.

A face pálida refletia na penumbra.

— Você apenas precisa acreditar no que posso fazer — desafiou.

— Como vou acreditar em alguém que não conheço? — contrapôs com raiva.

— Você acreditou na sua amiga que só lhe enganou e, recentemente, em alguém que sequer lhe mostrou o rosto. Por que não acreditaria em mim, que realmente quero te ajudar? — persuadiu com um leve sorriso.

— Como você sabe disso? — inquiriu amarga.

— Porque acho injusto Claire lhe manter presa em um bloqueio mágico, impedindo de lhe mostrar o real mundo que sempre te esperou — afirmou, cruzando os braços e erguendo o pescoço.

— Do que você está falando? Quem é você?

As luzes do quarto se acenderam e a persiana se abriu devagar, revelando o homem alto e de expressão indefinida. A chave na porta girou magicamente e tudo que se mantinha desarrumado fora guardado.

— Me chamo Notwen e pertenço a uma sociedade secreta oposta à de sua avó.

Susan escondeu a tensão que queimou em seu peito.

— A Claire? — indagou controlada. — Não... Ela... — gaguejou.

— Claire Behan é uma bruxa.

— Você é louco! — Balançou a cabeça negando.

Notwen sorriu e disse:

— Ela está distante por motivos pessoais há anos. E decidiu lhe afastar sem sequer te consultar.

— Me consultar? — Encolheu as pernas e sentou-se inclinada para frente.

— Você sempre foi uma bruxa bloqueada... — Aproximou-se com cautela. — Não se sabe a profundidade dos seus poderes, porque ela não quer. Ela sempre te prendeu. — Alinhou o olhar e estudou o lugar. — E pelo que noto, vai continuar fazendo isso, já que está enterrando você nesse quarto.

— Ela me bloqueou? — O corpo de Susan tremia.

Notwen estendeu a mão direita e uma espécie de poeira azul emergiu da cabeça de Susan, expandindo-se até o teto.

ELEMENTAIS vol.1 - Labirinto de Fogo.Onde histórias criam vida. Descubra agora