Capítulo 31: O Quadro.

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Sob os raios de Sol, a expressão facial de Zenneher Fricker externava toda sua dor e dúvida diante dos túmulos de sua irmã e sobrinha, as quais jaziam dentro do cemitério particular da Congregação, resguardado pelas árvores protetoras. Não conseguiu dormir após a explosão de angústia e dor. Seus pensamentos estavam naquele entardecer cinzento quando encontrou os corpos da irmã e da sobrinha degolados. Como alguém seria capaz de fazer isso com um bebê e uma mãe?

Uma sombra moveu-se na grama e ele logo apanhou o athame, na defensiva.

Era Mel, que havia lhe procurado pela manhã.

— Todas as vezes que você desaparece, sei onde te encontrar — confessou a médica contornando-o e acomodando-se diante dele. — Eu entendo a sua dor, mas confesso que em todos esses anos nunca presenciei um descontrole tão efusivo quanto o de ontem, meu querido. — O tocou carinhosamente no rosto.

Zenneher soltou uma respiração dolorosa e controlou sua emoção olhando diretamente para o rosto da única mulher que lhe conhecia verdadeiramente.

— Quando me perco, sempre volto ao começo de tudo e tento analisar o que poderia ter feito para impedir que Feltrin fizesse o que fez — avaliava friamente. — Ele não as matou por causa da profecia, mas por medo de perder o que tinha.

Mel concordou em silêncio.

— Faz muito tempo, Zenneher. O passado não pode influenciar o seu agora. Não deixe essa culpa que acha que tem destruir o seu presente.

Zenneher cerrou os olhos e os baixou refletindo:

— O passado regressou totalmente assim que olhei para aquela garota — assegurou firmemente.

— Como assim? — Mel curvou o pescoço para o lado direito e engoliu a seco.

— Como se ela pudesse trazer luz aos fatos — sibilou ele vagarosamente. — Como se ela fosse a verdade flamejando em meio à escuridão.

— Você sabe que a criança que traria o apocalipse seria nascida...

— De pais bruxos, eu sei — confirmou rangendo os dentes.

— Imagino que pense isso por conta da essência dualística rara que ela possui — tentou entendê-lo. — Não há ninguém como Marine Talbott... E isso nos faz criar inúmeras teorias, mas só saberemos o que de fato é após a Elevação.

Zenneher a mirou no fundo dos olhos e balançou a cabeça como se negasse algo.

— Nunca ninguém entenderá, Mel.

A mulher franziu o cenho.

— É um mistério que estou tentando assimilar há meses, por isso me aproximei ainda mais de Kiara Finnin. E por isso que fui o mensageiro em magia de Sarah.

Mel alinhou a coluna e afastou-se alguns centímetros refletindo.

— A filha possui o mesmo dom que a mãe. Por isso também me inscrevi para a seleção dos guias, porque eu queria buscar isso na mente dela — explicou vagarosamente. — Entender não apenas a profecia, mas o que essa dualidade pode significar.

— Como você queria entender isso, se você viu Marine pela primeira vez recentemente? — inquiriu temerosa com a resposta.

— Porque ela não é a única — revelou inseguro.

Nora havia apanhado Marine no horário combinado e lhe fornecido uma lista atual do que precisaria ser comprado no Pentagrama para prosseguir no ensinamento. Então se dirigiram até a loja, compraram tudo o que a lista indicava e rumaram para a Congregação.

ELEMENTAIS vol.1 - Labirinto de Fogo.Onde histórias criam vida. Descubra agora