Capítulo 16: Plano Iniciado.

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Abril se findava com uma chuva constante enquanto Marine observava o entardecer cinza da janela do quarto. Aquele enquadramento parecia transportá-la para um novo mundo, contemplando a grande praça e a orla da floresta ao fundo. O balé das árvores era hipnótico, assim como o nome William Collins na tela do aparelho celular.

Não havia apenas dúvidas no fundo daquela íris turquesa, tinha muito mais do que perguntas a serem inquiridas a ele, já que era evidente para Marine possuir algum tipo de sentimento, algo jamais vivenciado antes. Uma vez que permanecera em uma redoma invisível, sem espaço para tais pensamentos, porque sempre observara a relação instável dos pais e jamais almejou isso para si, anulando seus namoros rápidos por medo de se machucar futuramente. Entretanto, sentir isso em meio a tantas revelações parecia uma total incoerência. Anular-se-ia?

O dia amanhecera iluminado. A temperatura subiu, chegando em torno de19 graus. Era primavera, o anúncio de um futuro verão bastante quente, como fora dito pelas previsões.

Desceu e foi para a cozinha. Assim que terminou a refeição, Marine refletiu. Queria ajudar de alguma maneira, sentia-se impotente com toda a situação. Caminhou para a sala, onde Alice estava em seu cercado com inúmeros brinquedos. Deitou-se ao lado da criança e brincou com algumas bonecas, produzindo várias gargalhadas. Ao notar que Thereza mantinha-se ocupada na cozinha, ergueu-se depressa e girou a maçaneta do escritório de Claire, frustrando-se, pois estava trancada. Então ligou a televisão e entediou-se com a programação até a campainha tocar.

Ao abrir a porta, a garota analisou o rosto impreciso de William. Ele estava com um sorriso torto. Cumprimentaram-se de maneira razoável, porém no semblante de ambos eclodia uma química nas entrelinhas.

— Você está ocupada? — forçou a garganta.

— Depende... — respondeu sem dar importância. — Por quê?

— Quer dar uma volta comigo? — adiantou-se, como se tivesse ensaiado a pergunta diversas vezes.

Marine olhou para o teto, demonstrando estar pensativa, contradizendo o que o seu interior afirmava.

— Depende, vai ser honesto comigo?

Ele riu e baixou o olhar tímido.

Marine ficou aguardando a resposta e, sem obter o desejado, começou a fechar a porta. Porém, no último segundo, ele disse:

— Talvez.

Ela vincou a testa, surpresa com o tom e a expressão facial que ele emitia, e observou que o cabelo dele parecia estar mais claro.

Thereza aproximou-se para ver quem era.

— Vou sair com ele — completou, adiantando-se rumo ao quarto para pegar sua bolsa.

Apesar de William aparentar costume, o nervosismo o assolava.

Ao atravessarem o jardim, Marine decidiu caminhar a esmo.

— Vamos andando? A cidade não é tão grande, você se importa?

— É uma ótima ideia. — Abriu a porta do carro e pegou a carteira. Em seguida, acionou o alarme e seguiram pela calçada. No final da rua, dobraram à direita, distanciando-se da praça.

Os dois se mantinham em silêncio; ela observando vitrines de lojas de roupas e parando em algumas de artefatos caseiros, encantando-se com alguns objetos e dialogando com as atendentes, enquanto ele apenas a observava com as mãos dentro do casaco. De alguma maneira ilógica, admirar os trejeitos, o tom de voz, a forma como tocava no cabelo e até mesmo o sorriso silencioso dela, o preenchia. Às vezes, notava que agia como um idiota, voltando à realidade assim que ela o encarava, porém logo se perdia dentro daquele mar de incertezas que emanava daquele olhar faiscante.

ELEMENTAIS vol.1 - Labirinto de Fogo.Onde histórias criam vida. Descubra agora