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EuTeAmo.com | dezenove.

29 de novembro – Quinta-feira.
Assunto: Não tive escolha.

Caro Matthew,

Pesadelos... Eles começaram quando eu morava em sua cidade, mas quando mudei se tornaram menos frequentes. Meu psiquiatra disse que, por conta do acidente que tivemos, desenvolvi estresse pós-traumático e síndrome do pânico. Esses pesadelos são apenas parte do problema que voltaram a me incomodar. Matt, sei que devia ter contado sobre tudo isso, mas juro que melhorei e não tive mais essas crises por conta das atividades que comecei a fazer em meu dia a dia. A mudança, o trabalho no Cyber Café e o colégio ocuparam minha cabeça quase que completamente. Não sobrou tempo para medo e pensamentos ruins. Porém, infelizmente, os pesadelos estão voltando e não consigo entender o motivo. Estou vivendo o melhor momento da minha vida, mas mesmo assim, o medo e a tristeza que antes eu sentia voltaram. Tive um pesadelo muito ruim ontem...

No pesadelo, você estava comigo naquela excursão do colégio que fizemos no verão passado. Tínhamos acabado de descer do ônibus e estávamos acompanhando o professor responsável pela trilha que nos levaria ao acampamento. A trilha estava toda florida e perfumada. Havia pássaros, borboletas e até pequenos animais andando por ela.

— Este lugar é lindo — falei, admirando as flores que estavam em nosso caminho.

— O dia está perfeito! — Você disse olhando para o céu.

— Esta é a primeira vez que vamos acampar juntos. Quando você acampava com seu avô, nunca pude ir com vocês — comentei, abaixando para fazer carinho em um coelho que estava passando pela trilha.

— Pena que é tarde demais — disse você, com a voz trêmula e cansada, parecendo sofrer com alguma coisa.

O medo e aquela sensação ruim dominaram meu corpo novamente. Comecei a me sentir sufocado. As flores continuavam lindas, mas o aroma à minha volta mudou e senti um forte odor de ferrugem.

— Matthew! — chamei, virando para você, mas levando um susto quando o vi.

Sua cabeça estava ensanguentada e as mãos machucadas. Você tentou me chamar, mas era tarde e não pude fazer nada para te ajudar. Quando você desmaiou, caindo na trilha, vi um rastro de sangue se espalhar.

— Matthew, acorda! — exclamei, começando a chorar.

Fiquei a seu lado por um momento enxugando minhas lágrimas. Eu sabia que não podia te ajudar e tinha que seguir em frente, pois em minha cabeça, existia a ideia de que eu tinha que encontrar nossos colegas para pedir ajuda. Caminhei pela trilha acompanhando o rastro de sangue. Por mais que eu já soubesse o que estava me esperando, continuei por aquele caminho... E estavam todos lá, Matthew... Um a um, ela levou todos.

Os primeiros que vi ensanguentados no chão foram Zach, Sam e Danna. Todos estavam mortos, com os olhos abertos e sangrando por alguma parte do corpo. Um pouco mais à frente, vi a Sra. Walsh e o sobrinho, um ao lado do outro em meio às flores. Também mortos.

— Socorro! — gritei, começando a correr.

É estranho como os pesadelos se apresentam, pois eu sabia o que me esperava ao final daquela trilha e, mesmo assim, avancei. Corri até o que estava me esperando... E ela estava lá, de forma cruel e definitiva. Thomas, Nina, Asher, Joanne e até Phillip estavam lá, empilhados e mortos aos pés dela. Ela tinha levado todas as pessoas que eu conhecia e havia me deixado por último para observar.

— Me deixa em paz! — gritei, ajoelhando no chão e chorando.

— Não adianta se esconder, Alec — disse ela, de costas, começando a se materializar em uma pessoa.

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