as cartas que nunca leste

regret

05/04/18 3am

Arrependo-me de muitas coisas na vida. Seja daquilo que fiz, daquilo que não fiz, de palavras feias que usei com pessoas que gosto muito ou de palavras bonitas que usei com quem não merecia... mas o meu mais recente arrependimento é o de ter falado.
Ter falado sobre algo que não é agradável de ser ouvido, um problema que revivo vezes e vezes na minha cabeça e um crime que sinto no corpo. Passe os anos que passarem, acho que nunca me vou curar.
Estou arrependida de ter lançado ao mundo uma bomba que antes existia apenas na minha cabeça, de submeter aqueles que gosto a lidarem com as minhas paranóias de outra forma, - agora que sabem a origem delas - e a olharem para mim com outros olhos porque sabem o quão assustada fico com a mínima aproximação.
Sinto-me arrependida porque pensava que ao falar ia abrir um cadeado desta corrente de fechaduras que a minha alma carrega, mas ao invés disso sinto nojo de mim própria por não me ter defendido, por ter paralisado de medo, por não ter gritado, por não ter dito a ninguém.
Sendo que agora é tarde... É tarde para voltar atrás, fazer queixa e o mais complicado, é tarde para fazer com que acreditem em mim.
Após passar anos a esconder o que me aconteceu, pensei por momentos que fosse bom livrar-me disto e que a melhor maneira fosse falar, para poder libertar-me. Mas sinto que só me acorrentei mais.
Sim, posso estar arrependida. Arrependida de ter falado. Mas não arrependida de ter contado o que me aconteceu a quem contei.