as cartas que nunca leste

to a really good friend of mine

27/07/2017 1am

Falar sobre o meu desequilíbrio mental pode ser difícil. Quero gritar ao mundo e falar sobre todos os meus pensamentos e sentimentos abertamente. Não quero estar presa nos meus pensamentos e escondida na escuridão da minha mente. Eu quero falar contigo, mas tenho medo. Tenho medo de ser julgada e rejeitada. Tenho medo do estigma criado em relação às doenças mentais. As minhas experiências passadas convenceram-me que devo manter os meus sentimentos para mim mesma. Preciso de muita confiança e honestidade para falar sobre mim, mesmo com aqueles que me são mais próximos. 

Bato os dedos uns nos outros frequentemente formando uma sequência (às vezes até sem reparar) com o intuito de me acalmar, preciso de controlar a respiração para não piorar o meu estado de ansiedade e muitas vezes (mais do que é suposto) fico deitada no sofá ou na cama, no escuro, a olhar para o teto, apenas a pensar. Com a cabeça a mil, pensamentos tristes e escuros ocupam a minha mente, e eu não consigo fazê-los parar. Eu choro, choro muito. Memórias de momentos felizes assombram-me e eu imploro para que voltem. 

 A minha depressão tem mudado muito a minha vida. É algo horrível de ser experienciado. Tem afectado as minhas relações, amizades, a maneira como ajo, como penso e como comunico com os outros. Diz-me para não participar em conversas e para não falar sobre mim. Diz-me que ninguém me quer ouvir porque ninguém se importa. Afectou o meu sono, a regularidade com que como, a minha concentração e a minha memória. A escola tornou-se uma nódoa que insiste em ficar marcada. Eu luto todos os dias. É constante. É exaustivo.

Estou a contar-te isto não para te sentires mal ou para te preocupares. Estou a contar-te isto para tu puderes tentar compreender-me melhor. Espero que possamos usar uma à outra como apoio e como ombro para chorar quando precisarmos. Ter o apoio daqueles que eu gosto pode fazer-me sentir que a vida é mais suportável. Tenho aprendido imenso sobre mim nos últimos meses, e sinto que estou a fazer progressos - finalmente. Estou a dar passos que me ajudem a tornar-me mais saudável e a cuidar de mim mesma primeiro. Continuo a ter um longo caminho pela frente, mas pelo menos já comecei por algum lado. E tu contribuíste para que isso acontecesse.

Quero que tu conheças o verdadeiro eu, a minha luz, a minha energia, a minha personalidade sem falhas que eu sei que está dentro de mim algures. Tem sido muito complicado encontrar-me a mim mesma no meio de tanta dor. Uma parte de mim foi mandada abaixo e bloqueada. Estou a combater com um grande e assustador monstro para salvar a menina que eu era mas eu prometo-te, - eu vou ganhar. Sei que tu não sabes reagir às minhas crises, mas eu também não. Obrigada por seres minha amiga, por ficares ao meu lado quando eu te empurro para longe ou pareço distante. Obrigada por seres uma distracção à qual me possibilita de me divertir e aproveitar quem sou nem que seja por um pequeno instante. Espero que nunca te esqueças que estou genuinamente feliz por te ter como amiga.

-não escrevi este texto mas podia ter escrito-