03/05/19 12am
Hoje vou falar sobre medos.
O primeiro medo que tive foi do escuro. Provavelmente é o primeiro de muitas crianças.
Lembro-me de ser pequena e correr para debaixo dos lençóis assim que apagava a luz do quarto. Na minha cabeça existiam monstros que me queriam fazer mal, o habitual...
Cheguei a ter medo da água. Entrar no mar numa praia causava-me arrepios, tanto de frio como de receio de que algum peixinho tocasse nos meus pés. Sendo exagerada, até pensava em tubarões a comer-me as pernas.
Passei para o medo de alturas. Lembro-me de me meter à pontinha da varanda da casa da minha tia. Um terceiro andar que para mim equivale a um quinto. Olhar para baixo deixava-me tonta.
Veio então provavelmente o medo maior de todos. Sair à rua. Não sei como aconteceu, só sei que o ser humano foi, a cada dia que passava, transmitindo-me uma aflição enorme em relação ao contacto com o exterior. Se saísse de casa morreria? Encontraria um famoso que adorasse e não teria coragem de ir falar com ele? Será que havia a hipótese de tropeçar nos meus próprios pés e cair à frente de uma multidão de pesssoas? Iriam gozar comigo por estar a vestir aquela camisola velha que eu tanto adorava apesar de já ter passado de moda?
Eram várias as perguntas que eu fazia antes de meter um pé fora de casa.
Surgiu o contato físico. Ter o meu corpo frágil demasiado perto do corpo de outro alguém dava comigo em doida. Até abraçar os meus amigos era um gesto afetuoso complicado para mim.
Como todos os outros medos, superei esse também. E mais tarde falarei sobre essa superação, em mais um texto.Mas agora sei que apesar de todos esses medos e mais alguns que não mencionei, continuo a guardar um só para mim. O meu maior medo é o de deixar de gostar de mim. Porque eu sou tudo para mim. Eu vou estar presente quando mais ninguém estiver. Serei eu própria a enxugar as minhas lágrimas, a resolver os meus problemas, a comer, rir, correr, trabalhar, dançar... Eu estarei sempre presente na minha vida portanto gostar de mim, é e sempre será um bem essencial.
Porque eu sou alguém.
Porque eu tenho valor.
Porque eu respiro, eu vivo.
Porque eu, estou a aprender a gostar mais e mais de mim a cada dia que passa.Porque eu, sou eu.
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as cartas que nunca leste
Non-Fictionescrever atenua a dor na alma portanto talvez assim a minha fique mais leve