sweet twenty

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25/03/19 5am

Nunca acreditei que ia conseguir viver, nem tinha esperança de que poderia vir a tornar-me alguém neste mundo.
Aos 14, o meu braço estava coberto de sangue, o meu coração negro, a minha alma vazia e a minha cabeça a pensar num possível final. As horas fechadas num quarto tornou-se um hábito, assim como a vontade de acabar com toda a dor que o meu espírito possuía.
Entre abusos, ser maltratada, humilhada e financeiramente acabada, não via uma porta que se abrisse e demonstrasse o melhor que a vida tinha para oferecer. Não é fácil ter 14 anos e passar por tanta agressão, gritos, desequilíbrios e solidão. Na verdade, se fosse à procura de palavras para descrever os meus anos passados penso que nunca mais acabaria este texto - mais um texto.
Acreditar na possibilidade de ter pessoas à minha volta que gostassem mim era uma tarefa difícil e ainda mais complicado era eu deixar que alguém me ajudasse. Porque havia quem quisesse ajudar, mas eu pensava que não precisava de ajuda.
Se não tivesse recusado tantas mãos, tantos abraços, tantas palavras nos conselhos que me davam, talvez tivesse sido tudo muito mais fácil.
Mas, se eu tivesse dado o braço a torcer talvez não estivesse aqui.
Talvez estaria num outro patamar da minha vida onde tudo fosse pior. Onde quem conheço hoje, passaria por mim na rua e seguisse com a sua vida - porque as nossas histórias não tiveram tempo de se cruzar, - e os passos que dei me pusessem num sitio onde eu não quisesse estar.

E eu gosto de onde estou agora. Pulsos limpos, alma renovada e com um coração cheio de amor para dar. E apesar de nem todas as minhas histórias serem boas tenho muitas para contar.
Porque para além de crescer eu renasci. Por isso, parabéns para mim por ter conseguido suportar toda a dor, por ter trocado as lágrimas por sorrisos e a solidão pelo convívio.

Porque agora eu sei que para mim o melhor é sem dúvida, continuar a viver.

as cartas que nunca lesteOnde histórias criam vida. Descubra agora