as cartas que nunca leste

ni una más

22/09/24 11pm

ni una más

Eles dizem-nos o que fazer, dizer, vestir.
Não podemos sair à noite porque é perigoso. Não podemos andar sozinhas porque é perigoso. Somos obrigadas a partilhar as nossas localizações porque não nos sentimos seguras - porque eles fazem com que não nos sintamos seguras.
Eles têm sempre o poder quando a palavra vai contra nós.

Somos intituladas de putas, oferecidas, as sensíveis emocionadas.
Somos as falsas vítimas nas mãos de quem nos maltrata, agride, enxovalha.

Atribuam as culpas a quem nos faz sentir inseguras.
Olhem com repugnância a quem nos assobia e manda um piropo indesejado na rua ou nos toca sem consentimento no transporte público.
Façam com que se sintam culpados da nossa revolta, das vezes que nos defendemos e das caralhadas que mandamos quando temos coragem para usar a nossa voz - e muitas de nós não têm o direito sequer a ter voz.

Ajudem-nos quando contestamos.

Foda-se a vossa masculinidade frágil. Foda-se o acharem que nem todos os homens são iguais.
Foda-se a desculpa do álcool, da roupa curta, da atitude mais ousada.
Foda-se a vossa revolta contras as feministas.
Foda-se a vossa revolta contra nós, mulheres.
Foda-se o patriarcado.
E se este foda-se faz-te sentir incomodado, então um grande foda-se para ti porque fazes parte do problema.

Porque é triste fazerem-nos passar por isto e saírem ilesos.
É triste sair à rua e ter de ativar o modo defensivo quando há uma aproximação do sexo oposto.
É triste mas chega a ser exaustivo ser mulher.

Prefiro um urso que me coma viva do que um homem que me mutile com toda a consciência do que está a fazer.

"NÃO SÃO TODOS OS HOMENS MAS É SEMPRE UM HOMEM."

eu sou mais uma mas não quero que haja mais nenhuma.