mother

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29/03/18 3pm

Continuo a querer habituar-me à ideia de não fazeres parte do meu dia a dia à quase um ano. E para além de querer saber lidar com o facto de já não estares presente, quero também tentar compreender o porquê de olhar para ti e sentir que não passas de uma mera desconhecida. Uma desconhecida que apesar de distante continua a ter o mesmo sangue que o meu a correr-lhe pelas veias.
Não houve ninguém - ninguém - no nosso círculo familiar que te defendesse mais que eu, que permanece-se do teu lado nos momentos mais difíceis. "Tu afundas mas eu afundo contigo" lembraste? Lembraste de tudo aquilo que passámos, quando todos foram embora por não aguentarem tanta miséria, de todas as lágrimas que durante a noite os nossos olhos deitavam fazendo as almofadas ficarem enchardas? Lembraste de tudo aquilo que perdi para facilitar o teu bem estar e saúde? Lembraste de todas as vezes que me atravessei à tua frente para não levares com mãos pesadas de um homem, no teu lindo corpo, corpo esse que carregou 3 seres humanos que dariam tudo por ti? Ele continua a não dar-te amor, mas tu estás cega. Não o consegues ver. E das marcas que ficavam no meu corpo, lembraste?
Eu lembro-me, juntamente com os meses que passei numa casa enorme, sem calor, sem iluminação, sem carinho - e tanto que eu preciso de carinho. Deixaste-me sozinha, repetindo todos os dias que ias voltar, só que nunca voltaste. Eu é que fui à tua procura com o pouco que tinha. Com o pouco que me deixaste.
Continuo a ansiar por um telefonema teu, por sentir preocupação na tua voz, por sentir que tenho alguém que me ame apesar de todos os meus defeitos. Só que para ti os meus defeitos são muitos e não consegues lidar com eles portanto partimos do principio que o problema sou eu, que sempre fui eu. Porque sempre fizeram-me sentir como tal, mas eu superei tudo e todos e agora estou aqui. Numa casa que não é minha, com pessoas que apesar de quererem o meu bem não deviam ter o encargo de me acolher. Porque estou sozinha e todos os que me rodeiam sabem isso. Porque estou a tentar lutar por um futuro sendo que nem forças no presente tenho. E pergunto-te porquê? Porque é que desististe de mim?

Será que te lembras de quando era pequenina ires todas as noites ao meu quarto aconchegar-me? Tenho saudades tuas mãe, mas dói. Magoaste-me muito. Mas queres que te conte um segredo? Continuo a gostar de ti.

as cartas que nunca lesteOnde histórias criam vida. Descubra agora