Porque amar você é tão difícil?

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"There are two ways of spreading light: to be the candle or the mirror that reflects it." - Edith Wharton  


A água gelada caia sobre a cabeleira loira, grudando os fios a testa e fazendo a tinta preta desprender-se do rosto. A roupa dele estava encharcada, colada ao corpo, pequenos tremores movimentavam seus ombros. Mantinha os olhos fechados, esperando a tinta sair definitivamente do rosto parcialmente machucado.

Ela também estava molhada, o pijama encharcado lhe grudando na barriga e pernas. A água do chuveiro escorria nele e respingava sobre ela. A mão se mantinha presa ao guiso com força. Estava tremendo e não queria que ele notasse isso.

Mantinha a cabeça baixa, deixando a água molhar sua franja.

Respirava com dificuldades.

Todo esse tempo era ele. Mexia com ela de noite só para depois brincar com ela durante o dia. Gostava de Adrien e de Chat Noir também. Estava a apaixonada pelo garoto que mais admirava naquele lugar. Ele era doce, gentil, carinhoso...

Mas também conseguia virar seu ser de ponta cabeça. Acabava com a sua concentração, a fazia agir por impulso, seu corpo todo formigava e se aquecia na presença dele.

Saber que são a mesma pessoa deveria facilitar as coisas, deixa-la menos dúvida. Mas não era o que estava acontecendo. Bom em partes até que sim. Sua paixão antes dividida agora se concentrava em um lugar só.

Nele.

Mas ela estava magoada também.

Ele mentiu para ela... A fez de boba esse tempo todo.

Lágrimas de frustração começaram a escorrer pelo seu rosto, misturando-se com a água. Como pode ter sido tão burra?

Como não percebeu antes, todas aquelas semelhanças que agora pareciam tão claras?

A água corrente já estava lhe causando calafrios. Marinette desligou o registro e abriu a porta do box sem falar nada. O loiro continuava de cabeça baixa. Ela foi até o final do corredor dos chuveiros, onde havia um pequeno armário com toalhas de emergência, retirou duas. Enrolou-se em uma e voltou até o garoto, atirando a outra sobre sua cabeça.

- Melhor se secar. – Falou e virou-se de costas para ele. A mestiça se sentou em um banco próximo a saída da ária dos chuveiros, jogando a toalha sobre a própria cabeça. Respirava fundo, enchendo totalmente os pulmões até as costelas se abrirem, para depois expirar lentamente. Precisava manter-se calma e com a mente limpa. Pensar sobre...

- Mari... – A voz dele veio rouca e baixa de trás dela. Ela mordeu o lábio inferior e respirou fundo mais uma vez.

- Vá se trocar e descansar. – Ela levantou do banco, mantendo-se de costas para ele. Queria chorar, mas não faria isso na frente dele. – Depois nós conversamos.

Sem esperar uma resposta, ela deixou o local, indo o mais de pressa possível para seu quarto e fechando a porta. As lágrimas já escorriam pelo rosto sem controle, os soluços, antes presos no peito, agora saiam pela boca.

Encostou-se na porta e se deixou cair até o chão. Sentia-se magoada, traída, usada. Aquilo fazia seu peito se apertar. Não esperava que algo como aquilo conseguisse lhe causar tanta dor física. Droga, mais um soluço saia.

Seus lábios já estavam vermelhos e inchados, de tanto que os pressionava tentando conter o choro. Ficou ali encostada, encolhida, com a cabeça sobre os joelhos até cair no sono, com os olhos inchados e vermelhos.




O sol estava nascendo no horizonte quando Alya retornou para a academia junto com Nino. A presença da namorada havia conseguido melhorar o humor do rapaz, mas ele ainda se mantinha mais quieto que o normal.

Keep moving slowOnde histórias criam vida. Descubra agora