O último ato

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"You have to make it happen." - Denis Diderot  


Gostava do verão. O sol, a brisa refrescante, as pessoas e animais passeando pelas ruas, a alta demanda turística. De longe aquela era sua época favorita do ano. Seu único desgosto com aquela estação poderia ser, talvez, as noites curtas. Afinal, quando seu trabalho depende da vida noturna, o verão deixa um pouco a desejar.

Já eram oito horas da noite, mas ainda havia resquícios do sol iluminando o céu de Paris. Da porta dos fundos do grande galpão, ajudava os funcionários a carregaram a nova remeça de bebidas para dentro. As caixas eram grandes e pesadas, o podre barmen não conseguiria dar conta de tudo aquilo sozinho.

- Essa foi a última caixa, Chefe. – O barmen colocou-a no estoque.

- Está certo. Obrigado Thomas. – O loiro agradeceu e trancou a porta do estoque. Mais um dia normal no trabalho.

Bom, dizem que não é trabalho quando se faz o que ama. Adrien concordava com isso. Aquele lugar era o contrário de trabalho, era o seu oásis. Ao olhar ao redor, tinha muito orgulho do que havia feito em tão pouco tempo como dono do clube que tanto amava.

Nesse tempo tanta coisa havia mudado em sua vida. Com vinte anos, tinha mais responsabilidades do que muitos jovens com a sua idade, mas ele arcava bem com todas elas, dividindo seu tempo como dono de um grande clube durante a noite e modelo durante o dia.

O contrato com a Nike havia rendido frutos além do que ele esperava. Quem diria que o filho do grande ex-bailarino Gabriel Agreste, se tornaria um modelo de roupas esportivas?

Falando em seu pai...

Quantas dores de cabeça não tivera. Brigas, discussões e desentendimentos. Em determinado momento, quando não conseguiam mais estar no mesmo ambiente sem brigarem, o loiro decidiu sair de casa, passou a morar em seu escritório no clube, ficando sem falar com pai por quase três meses.

Hoje, ele aceitava melhor o que o filho desejava fazer da vida. É claro que não era isso que Gabriel queria, investiu anos no filho para depois vê-lo largar tudo. De fato isso o deixou furioso. Mas depois de um tempo, sentir que o filho o odiava era um sentimento ainda pior do que a derrota.

- E ai Adrien... – O grito de alguém o chamando se espalhou pelo saguão principal. – Como é que vai cara?

- Nino... Você chegando cedo, o que foi que aconteceu, Alya te expulsou de casa? – O loiro brincou.

Desde que o amigo passou a dividir um apartamento com a namorada, a palavras "atraso" havia se tornado seu nome do meio. Então vê-lo chegar tão cedo no clube era uma grande surpresa.

- Quase isso cara. – O moreno riu. – Uma prima dela está chegando de viajem e vai passar um tempo lá em casa, até encontrar um apartamento na cidade.

- Bom, espero que ela tenha mais sorte do que eu tive. Achar o meu "canto" foi quase uma missão impossível. – O loiro bufou ao lembrar dos meses que passou desesperado procurando por pequeno apartamento no centro da cidade.

Hoje ele tinha sua pequena, mas amada casa. Um lugar onde podia descansar quando não estivesse trabalhando.

- Com o orçamento que você tinha, não me admirava a dificuldade. – Suspirou. – Até hoje não entendo porque não pegou uma grana com o seu pai. Não acho que ele fosse dizer "não".

- Justamente por isso cara. A grana era dele. – Adrien frisou bem a obviedade do motivo. – Independência, Nino. E isso inclui ficar longe das contas bancárias do Senhor Agreste.

Keep moving slowOnde histórias criam vida. Descubra agora