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POV: Megan
Ardia. Desde que meu corpo havia assumido essa forma tão real tudo parecia mais intenso. As dores que eu sentia por fora... As que não sabia explicar e sentia comprimir lá dentro.
Seus olhos fitaram os meus assustados por breves segundos. Logo depois, seu corpo começou a mover-se com a velocidade da luz.
Mordi os lábios e agüentei a dor vendo como a vermelhidão da queimadura contrastava com a minha pele. Em um silêncio tenso, Collin cortava as ruas do bairro buzinando impaciente para os carros em seu caminho enquanto me fitava de soslaio em intervalos curtos de segundos como se quisesse dizer algo, mas simplesmente não soubesse se deveria.
Paramos em frente ao hospital e estacionamos o carro na vaga mais próxima. O celular em seu bolso vibrava impacientemente, mas ele não parecia se importar em responder. Ziguezagueamos entre os corredores, pacientes e enfermeiras o fitavam e cochichavam, tirando fotos ocasionais quando achavam que não estavam sendo vistos. Isso tampouco lhe importou.
Encontramos o médico no fim do corredor, o mesmo que havia me atendido na noite anterior. Sua expressão não denotava felicidade ao nos ver, mas ele abriu um sorriso forçado mesmo assim.
— Interessante. — Pousou os olhos sobre a mão de Collin que ainda segurava meu pulso depois de ter me ajudado a passar pelo pequeno grupo de pacientes esperando seu turno que começava a juntar-se ao nosso redor. — Não esperava te ver de novo tão pronto senhor Hill. — Fitou-me com interesse e observou minha mão queimada. — Acho que precisará vir comigo mocinha. — Apontou-me uma das salas atrás dele e o segui.
— Eu... — Collin parecia desconfortável. Um turbilhão de pensamentos pareciam eclodir em sua mente. Fitou ao redor e abaixou a cabeça deixando o ar escapar pesadamente por entre seus lábios.
Assenti deixando que o médico me guiasse ate a sala a nossa frente e fechasse a porta atras de mim.
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Fitei os dois lados do corredor quase vazio e observei o vai e vem esporádico das enfermeiras que passavam por mim como se eu tivesse me tornado invisível novamente. Desejei que fosse verdade. Desejei que tudo tivesse voltado ao normal. Aquele mundo não me pertencia e tudo ao meu redor parecia repelir a minha presença.
— Você esta bem? — Senti a presença do médico atras de mim. Sua expressão preocupada me reconfortou por alguns segundos. Suspirou pesadamente e abaixou a cabeça, passando os dedos entre o cabelo e deixando que o cansaço o vencesse por fim. — Tem certeza que não quer me dizer a quem poderíamos chamar? O clima lá fora não parece dar sinais de trégua e você tem um quadro febril...
— Esta tudo bem.
Seu corpo tenso e cansado relaxou sob o toque da minha mão na sua. Seus olhos encontraram os meus surpresos por trás das lentes dos óculos e ele pareceu querer argumentar, mas eu sentia sua energia escassear enquanto 48hs de plantão ameaçavam com derrubá-lo.
Assentiu afastando-se lentamente ainda confuso pelo corredor, desaparecendo por entre as inúmeras portas do hospital.
Saí na noite tormentosa e observei as portas automáticas de vidro do hospital fecharem atras de mim. Nunca havia pensado no que faria se um dia algo assim acontecesse simplesmente porque era quase impossível... Anjos não passam a ter uma vida simplesmente de uma hora para a outra. Eu tinha que descobrir por que as coisas haviam resultado dessa maneira. Eu tinha que descobrir a maneira de que tudo voltasse ao normal.
Escutei um estrondo quando um raio cortou o céu fazendo-me recuar para o abrigo que a marquise do prédio do hospital proporcionava. Sentia-me débil como jamais me havia sentido antes. Anjos não adoeciam, não se sentiam cansados, infelizes ou atemorizados e por isso eu não sabia dizer qual dessas sensações me sobressaltava naquele exato momento. Como definir algo que você jamais sentiu antes? Como sentir algo que você só conhece na teoria?
Durante toda a minha existência fui movida por um único objetivo.
O que eu deveria fazer agora que ele parecia haver perdido o sentido?
— Toma.
Senti sua presença mesmo antes de vê-lo. Manteve um copo de café quente na minha direção sem de fato me olhar. Não pude evitar sentir que todos aqueles sentimentos confusos me abandonavam lentamente agora que ele estava por perto novamente.
Peguei o copo da sua mão sentindo como seu corpo se retraia com o roçar sutil dos meus dedos nos seus. Fitou o curativo na minha mão por breves segundos e pareceu querer dizer algo, mas recuou e permaneceu em silêncio.
— Achei que tivesse desaparecido.
Fitou-me contrariado e um sorriso sarcástico brincou em seus lábios.
— Eu quis. — Apoiou a cabeça na parede fria e observou a chuva a nossa frente. — Mas eu não sou o cretino que todos dizem por ai sabe?
— Sim eu sei.
Fitou-me intrigado diante da sinceridade contida naquela afirmação. Sua expressão denunciava que ele duvidava de que eu realmente pudesse saber, mas Collin não disse nada. Ao invés disso deixou que eu o seguisse ate o carro longe da chuva e daquele lugar desconhecido.
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Abaixou a voz enquanto se aproximava um pouco mais da policial de plantão, inclinando-se sobre o balcão da recepção.
— Estou dizendo que não sei de onde ela veio e não tenho idéia do por que esta me seguindo. Só quero me assegurar de que possam fazer o trabalho de vocês mandando ela de volta para o lugar de onde veio.
— Entendo senhor. — A policial me encarou franzindo a testa e voltou a fitar o rosto impaciente de Collin. — Deixe-a comigo. Farei o possível.
Fitou-a por alguns segundos em duvida ate finalmente se afastar e parar a minha frente.
— Precisa informar todos os seus dados para a mulher atras de mim ok? Nome, sobrenome, de onde veio... Sei que não quer falar comigo sobre isso, mas precisa falar com ela se quiser voltar em segurança.
Fitei a mulher de estatura baixa, pele morena, cabelos presos e olhar profissional que se encontrava atras do balcão. Ela era confiável. Era competente e faria o possível para me ajudar tal como havia prometido a Collin. Mas ela não encontraria o lugar de onde eu vim. Ninguém jamais poderia encontrá-lo.
Collin me fitou com impaciencia, observando os ponteiros do relogio enquanto eles passavam a marcar 9hs da noite.
— Hey. — Chamou enquanto seguia meus olhos e observava a porta da delegacia se abrir, dando passo a um homem alcolizado escoltado por um corpulento policial. — Acha que pode fazer isso?
O homem de mais ou menos cinquenta anos se debatia e xingava. Em seu rosto uma larga e antiga cicatriz lhe cortava todo o lado direito da sobrancelha ate os labios. Seu corpo cheirava a alchool e sua aura era negra.
A seu lado não havia ninguém.
Seu anjo já o havia abandonado.
Fitou-me e um sorriso perverso brincou em seus lábios quando foi deixado algemado no banco de espera.
— Hey gracinha. — Chamou e sua voz fez com que meu corpo estremecesse. — O que você fez para estar aqui?
— Sim. — Ignorei a voz daquele estranho e o arrepio continuo que percorria meu corpo a cada segundo que se passava dentro daquele lugar e o fitei em resposta enquanto o homem era levado por um corredor ate desaparecer de vista. — Eu posso fazer isso.
Mas Collin ja não estava me ouvindo.
Ele havia segurado minha mão e me tirado dali de volta a noite e a tormenta.
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Antes que eu desapareça
FantasiTodas as pessoas nascem com um anjo da guarda ao lado. Permanecemos juntos durante boa parte da nossa existência. Não temos um nome, não podemos ser vistos, mas estamos ali. Cuidando cada passo, desde o começo e em alguns casos até o final. Foi ass...