Sonho

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                                                                      POV: Collin

Marcela me fitou colocando as mãos no meu peito para impedir que eu passasse direto por ela no corredor do hospital. Obxervou-me com cuidado enquanto ignorava deliberadamente o celular tocando em sua bolsa e me mirava com atenção.

— Você não pode entrar. — Disse com a voz carregada de preocupação. — Collin. — Segurou-me forte pelo braço, obrigando-me a fitá-la de volta. — Você não pode entrar.

Assenti, observando-a como se ela não estivesse ali de verdade. Tudo aquilo parecia tão irreal! Em apenas duas horas atras eu estava em casa e todo o problema parecia resumir-se em ter minha vida de volta. Todo o problema parecia resumir-se em saca-la da minha vida para que tudo pudesse voltar ao normal. 

Então por que agora tudo isso parecia tão errado?

Por que agora já nada disso importava?

— Os médicos me garantiram que farão todo o possível. — A voz de Marcela era pacífica e insegura. Como quem não tem certeza, pela primeira vez, sobre o que eu faria naquele momento. — Ainda não sabemos nada sobre ela. — Continuou observando os papéis que tinha nas mãos preocupada. — Não pudemos contatar ninguém da sua família. Eles não sabem... — Mordeu os lábios e encarou o corredor quase vazio. — Não sabem ainda se o fato dela não despertar se deve ao baque que sofreu na hora no choque.

Fite-a sentindo os olhos queimarem. Algo dentro de mim parecia faltar. O que era absurdo porque eu nem a conhecia de verdade.

Senti as mãos firmes de Marcela no meu braco quando meu corpo estremeceu inconscientemente. Deixei que ele caísse sobre a fria cadeira de plástico e tentei pensar com clareza. Tentei entender por que meu coração acelerava tanto e por que, ao mesmo tempo, ele fazia menção de parar. 

— Collin? — A voz de Julia me despertou. Fitei-a e ela caminhou mancando até mim, acompanhada de sua representante enquanto seus pais conversavam com os médicos. — Eu... — A maquiagem do seu rosto havia escorrido. Ela havia chorado e não fez questão de ocultar isso. Parecia assustada e insolitamente frágil. — Sinto muito...

Assenti enquanto ela escrutava meu rosto. Uma sombra de dúvida percorreu sua expressão, mas desapareceu logo em seguida.

— O que aconteceu?

Negou enquanto deixava escapar um soluço e se apoiava na parede, deixando o corpo escorregar até a cadeira ao meu lado.

— Tudo foi rápido demais. Eu não sei o que ela estava fazendo ali. Não sei como me encontrou nem como sabia...— Fitou-me em dúvida, como si simplesmente não conseguisse deixar de pensar naquilo. —Quando a vi achei que estivesse me seguindo, achei que quisesse me provocar pelo o que tinha acontecido no seu apartamento, mas então escutei aquele ruído terrível e tudo o que eu sei foi que fui empurrada para longe. — Limpou as lágrimas — Ela me salvou. — Completou levantando-se com dificuldade, me olhando nos olhos. — Por que acha que ela faria isso?

Senti que aquela pergunta me abatia muito mais do que eu podia imaginar porque eu não tinha a resposta.

Desde que ela havia aparecido na minha vida, eu já não tinha respostas para nada em absoluto.

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Não sei dizer quantas horas haviam passado. Os médicos haviam dito que não havia indícios de danos cerebrais tampouco encontravam nenhuma razão pela qual ela não despertava.

Jornalistas povoavam as portas do hospital lá fora e toda e qualquer pessoa que passava por mim lá dentro parecia querer dizer algo.

Adormeci com meu corpo protestando mesmo que não quisesse fechar os olhos, observando como Marcela dava voltas pelo hospital tentando sanar as duvidas e evitar que o mesmo fosse invadido por curiosos.

Não tínhamos respostas, mas seguimos com a mentira.

Despertei-me horas depois com o corredor imerso em uma luz frágil e fria. Vi a sombra de Marcela desaparecer por uma das portas sussurrando ao celular enquanto me fitava de soslaio e logo o silêncio.

Encostei a cabeça na parede fria e fechei os olhos e então escutei sua voz.

— Collin...

Engoli em seco. Parou a minha frente usando o mesmo vestido com o qual a havia encontrado pela primeira vez no que parecia ser a muito tempo atrás.

Fitei-a confuso sabendo que estava sonhando, mas incapaz de despertar e a observei sentar-se ao meu lado. Fitou o corredor vazio em silêncio por alguns minutos.

— Por que fez isso? — Não quis olhá-la. Não entendia por que, mas sentia uma raiva extremamente difícil de controlar.

— Senti seu medo ao achar que poderia perdê-la para sempre.

Meus olhos encontraram os seus e um sorriso tímido surgiu em seus lábios diante da minha evidente confusão.

— Então só decidiu correr em sua direção sem pensar no que poderia acontecer?

Não pude controlar a incredulidade na minha voz.

— Geralmente é assim que funciona.

— Um dia vai me dizer o que isso significa?

— Acharia que sou louca.

— Por que não tenta? Acho que já não tem nada a perder.

Assentiu sorrindo enquanto desviava os olhos dos meus e fitava novamente o corredor. Segui seus olhos e me sobressaltei ao ver sombras brilhando envoltas em uma luz sutil ao lado de cada pessoa que caminhava por ali. Ajeitei o corpo na cadeira e estreitei os olhos enquanto era tomado pela certeza de que não era só um sonho, embora eu não pudesse negar que estava dormindo.

— O que...

Meus olhos encontraram os seus e ela sorriu. Fui invadido por uma sensação estranha no meio de toda aquela duvida e confusão. Uma sensação de paz que me permitiu finalmente respirar.

— Sempre vou estar com você Collin. 

Fitou as sombras de um brilho sutil ao lado de cada pessoa que desaparecia pelos corredores do hospital enquanto seu próprio corpo começava a desaparecer diante dos meus olhos, convertendo-se em nada mais que pontos luminoso.


Escutei a porta da UTI abrir com um estrondo e abri os olhos assustado. Médicos e enfermeiras corriam para dentro da sala fechando a porta em seguida, seguidos por Marcela que parecia mais cansada do que esteve em toda a sua vida.

Fitou-me com o olhar aterrado enquanto levava a mão aos lábios e respirava pesadamente.

Quando voltei a olhar a minha frente, Megan havia desaparecido.

Antes que eu desapareçaOnde histórias criam vida. Descubra agora