A casa de Rey ficava num lugar escondido pela própria natureza. Um dia, quem sabe, eu conte o que a esconde. Apenas dois quartos, os únicos cômodos com alguma parede, o resto tinha apenas o telhado. Tecidos faziam o papel da parede, de todas as cores e tipos, velas vinham penduradas do teto e o chão era de madeira. Seu pai roubou todo esse material, apenas para criar esse santuário, o que acabou salvando a vida deles.
Sentar e comer sozinha era uma coisa normal, mas após o acontecido...a comida não tinha o mesmo gosto, estava amarga e triste. Rey não conseguia mais chorar, a cena se repetia várias vezes na sua mente. O seu desespero, Bellamy gritando ao seu lado enquanto ambos vinham Charlotte caindo a sua morte.
Eu preciso dormir, agora. Rey pensa tirando a sua roupa, seu corpo estava sujo de terra e todo cheio de hematomas. Perto de sua casa tinha um riacho, não muito fundo, mas bom o suficiente para se banhar. Parte de cima da corrente para pegar a agua, parte de baixo para se banhar, assim a sujeira do seu corpo ia riacho abaixo e iria pegar uma agua limpa para beber.
Esfregar seu corpo para tirar a cor marrom e voltar a ver sua pele clara, alguns cortes superficiais e uns vermelhões. Se banhar no meio da noite, as estrelas e as luzes tomando o céu, deveria ser relaxante.
Rey se aninha na grama enrolada num tecido e fica ali por um bom tempo, não conseguia se mover e o cansaço era muito grande. Aquela sensação de não poder fazer nada a cortava mais forte do que uma faca. Isso a aterrorizava novamente, pensava ter passado por essa fase. O passado a deixou com sequelas e voltar a essa época nunca foi algo planejado.
Charlotte caindo, sem gritos, seu corpo atingindo o chão, sem vida.
Charlotte caindo, sem gritos, seu corpo atingindo o chão, sem vida.
Josh caindo, sem gritos, seu corpo atingindo o chão, sem vida.
É por sua culpa, ele dizia, você deveria ter me protegido.
— NÃO! — Rey grita sozinha e abre os olhos, lágrimas voltaram a se escorrer.
Ela senta na grama e enrola a toalha no corpo. Supere essa, Rey. Pessoas morrem, você sabe muito bem disso. Apenas levante e continue com a sua vida. E é isso que faz, passos fortes e decisivos até a casa, ela coloca uma roupa limpa e ajeita seu cabelo. Agora eu estou de volta...falta algo. E realmente faltava, no quarto dos pais ao lado da estante, a arma da sua mãe. Um bastão de ferro, quando pequena ela a ensinou como se defender com sua arma favorita.
Tudo que usava era de sua mãe, desde as roupas até a mochila, que tinha um suporte para o bastão. O arco era do seu pai, ele que havia adaptado a lamina lá e a ensinado como usar. Sua família era parte dela, do seu passado e do seu presente.
Observando o bastão foi quando ouviu o barulho, alto o suficiente para tirá-la do transe e faze-la correr para fora. Uma nuvem escura vermelha, algo pegando fogo cruzando o céu.
Outra nave? Não, essa é menor. Rey pensa. Deveria ir lá...podem precisar da minha ajuda. NÃO! Você sabe no que resultou, uma garotinha matou alguém e depois se suicidou! Apenas fique aqui um pouco. Ela dá as costas e deita na cama. O dia acabou por hoje.
___
Os raios de luz sempre iluminam o quarto assim que o sol nasce, mas dessa vez ela já estava muito longe de lá. O solo estava úmido do sereno da noite e o seu bastão estava muito bem guardado no suporte da mochila. Passou duas horas tentando dormir quando percebeu que não conseguiria até ir ver o que tinha acontecido.
Agora estou cruzando a floresta a procura de outra nave.
A fumaça aumentava quanto mais chegava perto e o cheiro de queimado também. Uma nave bem menor do que a outra, caberia no máximo duas pessoas. Rey se aproxima e toca na nave, estava quente e tinha uma superfície toda amassada.
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Whispering {Bellamy Blake}
Science FictionHá histórias sobre o que aconteceu. Sobre pessoas indo para o espaço abandonando a Terra. Foram eles que causaram isso, eles que criaram as bombas atômicas e destruíram seu lar, apenas para ir para o outro que está esperando para ser destruído. Não...