Um encontro causado por um babaca

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São Paulo, 10 de março de 2016. Regina Mills.

Era outono, por volta das seis da tarde. Ás gotas da chuva fina escorriam pelas pétalas das flores espalhadas pela pequena praça quase vazia. Um vendedor de maçã do amor vinha em minha direção por entre o estreito caminho de pedras. Sorri de canto, desviando o olhar, tentando tornar-se indiferente ao jovem rapaz com a barba por fazer, cabelos negros, de calça jeans, camiseta do Flamengo e all-star. Os seus olhos azuis carregados de um brilho intenso encantou-me no único momento em que se perdeu nas minhas iris castanhas.

- Uma maçã do amor para a bela moça! - Sua voz era doce. Depois de me entregar o produto saiu cantarolando alguma música desconhecida por mim. Não me deu tempo nem de agradecimentos.

-Bem, eu acho que ainda gosto de maçãs do amor! - Dei de ombros e continuei a minha caminhada. Vários pensamentos atrelados á uma pessoa em específico. Vários pensamentos que doia-me a cabeça. - Filho da puta. Mal-amado. É isso que ele é! - a discussão ainda ressoava em minha mente. Ele não tinha o direito de me ofender na frente de todos os clientes. Como eu voltaria para o restaurante? Eu definitivamente estava morrendo de ódio e vergonha. Lá estavam algumas das minhas paqueras. Das minhas quase namoradas. Okay. Eu devo parar com isso. Ou não. Não, eu não devo. Nunca prometi amor para elas. Apenas bons amassos. - O pior é que o Robin não é ninguém importante para ter tido passe livre para fazer o que fez. Ele é o sobrinho do dono mas eu sou filha. Filha, caralho. Os seguranças deviam tê-lo tirado a força do local, mas não, deixaram-no ficar gritando a quatro cantos que eu era uma puta. - Pelo que parece, falar sozinha alivia o estresse. Sobre o "Puta?" que mal tem? Eu não ligo para isso. Mas ele não podia ter feito o que fez. - Desgraçado! Vai ter volta!

Me sentei em um pequeno banco de gesso, deixando-me molhar pela chuva que aumentava gradativamente. Os meus olhos queimavam de raiva. As minhas mãos eram fechadas com extrema força, e por me esquecer da maçã do amor acabei quebrando o seu palito, derrubando-a no chão. - Ótimo!

- Um dia ruim? - Eu estava tão perdida em minhas paranoias e possíveis formas de vingança que não percebi quando alguém se sentou ao meu lado. A sua voz era doce, mas impunha autoridade na mais simples fala. Virei-me para olhá-la, deixando para lá a fruta já caída. Pelo que me parece, as pessoas de São Paulo adoram um jeans, jaquetas de couro e all-star. Bom, ela calçava uma bota de cano alto, mas de resto, as suas vestes se pareciam com as minhas, com pequenas diferenças. A minha jaqueta era preta e a dela vermelha, e o all-star citado era o meu. Tão linda. Os seus fios dourados levemente ondulado jogados sobre o ombro, a sua pele alva e os seus olhos verdes hipnotizaram-me. Se me pedissem para usar uma palavra para descrever tamanha beleza, eu diria: "uou".

- O-oi? - tentei recordar a pergunta, inutilmente. "Um dia ruim?", ela repetiu. - Ah sim. - suspirei, me atendo a resposta. - Qual o problema de um homem de vinte e sete anos para se sentir inseguro ao lado de uma jovem de vinte? Está certo que eu sou muito mais linda, interessante e educada do que ele. Mas isso não lhe da o direito de ser um babaca. Já faz tanto tempo, mas o imbecil insiste em ficar relembrando. Eu não tive culpa. Quer dizer, talvez um pouco. - eu disse em um folego só. Okay, a estranha não precisa ouvir o meu desabafo, mas fora ela quem perguntou. - Ah, eu não mando ele ser um idiota.

- Brigas familiares? - apenas assenti, dando inicio a um pequeno silêncio.

Percebi a sua inquietação. A loira mexia nos dedos, ora ou outra jogava o cabelo, respirava pesadamente, buscou olhar para o céu e assim continuou por longos minutos não cronometrados. Eu queria perguntar algo, mas fiquei com medo de ser invasiva. Besteira. Ela perguntou-me se era um dia ruim, certo? Certo. Então eu posso fazer o mesmo.

A namorada do meu primoOnde histórias criam vida. Descubra agora