Até onde ir por amor?

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Diferente de mim e do meu simples chocolate quente com canela, a morena pediu um café adocicado, dois pães de queijo, dois misto quente, duas barras de chocolate e dois copo de suco de maracujá. Agora foi a minha vez de olhá-la de cima á baixo, descaradamente. A minha boca se abriu em um formato de "o", demonstrando o meu espanto.

Depois de um belo café da manhã, a senhorita poderá me dizer se é ou não é um belo dia. - Espere. Isso tudo é para nós duas desfrutarmos do desejum, juntas? Franzi o cenho, como se tentasse compreender aquela atitude. Mas logo desisti de formular qualquer pensamento, ao vê-la sorrir, deixando a mostra os seus dentes perfeitamente alinhados. - E se ainda não souber, nós podemos fazer com que tenha a absoluta certeza!  - Ah, maldito timbre rouco, carregado de um falso puritanismo. Ela deu-me uma piscadela. Senti o meu corpo todo reagir aquela provocação. Com a sua destra, a morena tocou em meu maxilar, fazendo um gesto para que eu "fechasse a boca". 

Antes que eu pudesse respondê-la, a garçonete nos interrompeu, colocando os pedidos sobre o balcão, mas estranhamente, demorando um pouco mais para se retirar. Logo percebi o seu olhar devorador sobre a morena - focando especialmente em seus lábios carnudos. Senti um leve desconforto com a cena. Inutilmente, forcei uma tosse para tentar quebrar o clima. A outra parecia obstinada em conseguir qualquer sinal verde para se jogar em seu colo.  Revirei os olhos quando a vi pegar no bolso do avental, um cartão qualquer. Imprudentemente, e por diversão, levei as minhas mãos até o rosto da mulher ao meu lado, fazendo-a me olhar. Sem esperar por uma reação, fechei os olhos e tomei os seus lábios para mim. Como esperado, não houve excitação. A mais nova provocou-me, pedindo passagem com a sua língua, enquanto as suas mãos envolveram o meu pescoço. Segurei em sua cintura, apertando a região, ouvindo-a gemer baixinho. Explorei cada pedacinho de sua boca, sentindo o seu gosto de maçã. Mordisquei, suguei o seu lábio inferior e busquei por dominância no beijo. O ato não demorou muito, pois o ar se fez necessário, mas sendo o suficiente para tirar uma certa pessoa do nosso campo de vista.

Acertou no suco. O de maracujá é o meu preferido! - Eu disse com um ar indiferente, dando por acabado uma coisa sem importância. Ela deu de ombros, ingerindo o seu café. Ora ou outra, a mais nova passava os olhos por todo o local, analisando as pessoas. Piscando para algumas. Sorrindo para outras. Insuportávelmente uma pessoa superficial, dona de um charme único. Droga.

As gotas finas agora caiam com uma intensidade maior. O vento quedará-se forte. Foi preciso encostar a porta de vidro do estabelecimento. Ouvi uns resmungos sendo proferidos por alguns clientes.  Uns suspiro pesado por parte de outros. E um sorriso largo fazendo-se presente em seus lábios.

Eu gosto da chuva. - ela comentou com uma certa impolgação, logo depois de morder um grande pedaço de chocolate. - Não me pergunte o por quê. Sei lá. Eu gosto. - ela disse, depois de buscar o meu olhar e notar algum questionamento. Sustentei-me ali, tentando descobrir um gesto em falso. Algo que quebre essa leveza em qualquer fala proferida pela mesma. 

Eu não me importo... Digo, com a chuva. É só a água caindo das nuvens. Não muda muita coisa no meu humor, nos meus gostos. - Eu respondo simplesmente, tentando não ser rude. Mas lembro-me de um pequeno detalhe que me faz desmoronar – a minha filha amava observar pela janela de nosso quarto, às árvores se movendo, às águas escorrendo pela goteira, findando-se no chão. Lhe encantava o "pluft". Era o seu som predileto. Quando o sol ressurgia por entre as nuvens, ela puxava-me, delicadamente, para fora do quarto, guiando-nos até o jardim. Admirar as pétalas molhadas era o seu maior prazer – eu podia ver no brilho do seu olhar.  

Senti os seus dedos finos tocarem a minha face, limpando as poucas lágrimas que insistiram em cair. Ignorei-a. Mesmo não querendo, a única coisa que ressoava em minha mente era aquela doce voz resmungando coisas sem sentidos, para no fim olhar-me e dizer "mamã... Floi".

A namorada do meu primoOnde histórias criam vida. Descubra agora