Vai me perdoando

95 8 5
                                    

Pov Zelena 

Eu não estou conseguindo me manter em pé. A minha cabeça dói. Os meus olhos se negam a ficarem totalmente abertos. As minhas mãos estão geladas. Me sinto fraca, frágil e quebrada. Eu sou uma mentira, sempre fui. Não que eu queira ou goste de ser assim, mas infelizmente eu sou. Os erros são muitos, mas é muito hipocrisia dizer que se pudesse teria feito diferente, isso é apenas balela dita por nós. Demoramos uma eternidade para se encontrar depois das perdas, só que de fato isso nunca acontece. Não é só o tempo o inimigo dos ser humanos, são eles também.

Eu não estou preparada para expor nem se quer uma, das milhões de falsas frases proferidas pela a minha boca. Eu acabaria sangrando por dentro se a perdesse. Mas o álcool não me deixa obedecer os meus pensamentos racionais. É uma situação complicada. Eu penso, sofro, choro e a minha boca fala o que não é para ser dito. O meu peito arde, queima. Em meu coração carrego as chamas do inferno para que me faça gritar de remorso, revivendo os meus quinze anos.

São tantas coisas, tantos feitos, tantas memórias de uma única história. História essa que não começou aqui, nem agora. São cicatrizes antigas que causam lágrimas novas. A bebida não foi dedicada ao hoje, nem ao ontem, por mais que pareça. Eu não sou o que demonstro ser, ninguém é. Não me julgue, afinal, eu sobrevivi. Por mais que lá atrás eu pensei que não fosse sobreviver, eu sobrevivi após a tempestade. O mundo caiu sobre mim, mas eu sobrevivi ao pior dia da minha vida. Não é possível que eu não consiga sobreviver a mais isso. A vontade é de gritar, mesmo sabendo que o meu dever é se manter calada.

Regina Mills aparenta tristeza, frustração por me encontrar assim. Mais uma vez o meu coração se quebra. Eu queria que ela só tivesse boas lembranças da minha pessoa, mas não consigo fazer valer o meu desejo. Infelizmente eu não sou perfeita, bem longe disso, eu só sou a pessoa que vomita no tapete após longas horas de embriaguez e recusa a ajuda vindo da pessoa que mais ama, dizendo: "eu estou bem". Será que em algum momento da minha vida eu realmente estive bem? Talvez antes de tudo e depois de tudo.

Já fazia algum tempo em que estávamos nos olhando. Ela tentando se aproximar e eu tentando não cair.

- A doce senhora havia me perguntado se eu aguentaria o peso desta mentira. Eu achei que sim. O que seria esconder a filha de uma traficante para fazer você feliz? - eu disse. Evitei olhar em seus olhos enquanto tentava proferir mais algumas palavras. Por qual motivo? Medo, vergonha. - A Alice ama tanto você… e tu também ama ela. Não é errado querer o melhor para vocês, certo? 

- Dinda, eu não estou entendo nada. O que você fez?

Era a hora de jogar tudo no ventilador e rezar para que o resultado não seja pior do que já é.

- Eu menti para ela. Emma acha que a filha dela está em Paris, sendo que na verdade ela está contigo.  

***


Quando me dei conta Regina estava ali em minha frente, com os olhos vermelhos e a expressão um tanto confusa. Dos seus lábios só saiam as mesmas palavras: "Você não fez isso." E só então me dei conta que eu havia feito.

- Pirralha, ela é traficante, era a amante do Daniel e o matou. - eu disse, tentando convencê-lo de que eram motivos o suficiente.

- Você não se importa com isso. - ela disse a mais pura verdade.

- Eu achei que era o melhor a ser feito. Você não teria feito o mesmo que eu?

- Não. Eu teria feito o mesmo que ela. E não me venha com "isso não é verdade." Qualquer mãe é capaz de tudo por um filho e você sabe muito bem disto.

- Sim, eu sei, e é por isso que eu menti. Eu menti porque eu te amo, porque você é tudo pra mim e eu faço o impossível para não lhe ver sofrer.

- Mas você não é a minha mãe. Por mais que me ame, você não é a minha mãe e não sentiu nem metade do que a Emma vem sentindo.

Os meus olhos se encheram de lágrimas. As mentiras são venenos e essa pode ser a última dose que irei tomar.

- Não me diga que… oh, não pode ser!

- Regina, me deixe sozinha, por favor.

- Você mentiu esse tempo todo.

- Vá embora, por favor.

- Eu odeio você. Eu odeio você! Eu odeio você!

- Tudo bem, agora vá embora, por favor. - era tudo o que eu conseguia repetir. A minha afilhada é esperta e não foi preciso nada além de uma discussão para a verdade vir a tona.

- Diz que não é verdade, por favor.

- Dizer o que? Dizer que eu não fui uma idiota que acreditou em um babaca? Dizer que aos quinze anos eu não carregava em meu ventre um bebê e não sabia como dizer aos meus pais? Dizer que eu não deixei de ir um dia se quer ao orfanato. Dizer que não fui eu quem convenceu os meus pais a lhe adotar sem saber a verdade por trás disso tudo. Dizer que eu não alimentei a ideia de que você é só a minha afilhada para evitar sofrer com uma possível rejeição? Então eu digo que não é verdade essa maldita dor de perder um filho.

Silêncio. As minhas pernas cederam, fazendo com que os meus joelhos ficassem sobre o vômito. Às lágrimas eram o resultado de um choro incessante. A falta de uma resposta é o suficiente para mim. Peço mais uma vez para que ela se retirar.

- Você não pode fazer isto! - Regina grita depois de longos segundos em silêncio. - Você não tem o direito de fazer isto! - silêncio. - Por que você está mentindo para mim, dinda? Diz que é mentira! - silêncio. - Primeiro você me diz que a minha Alice e a filha de Emma, detalhe, que supostamente é uma traficante… depois joga na minha cara que foi capaz de me jogar em um orfanato sem nem olhar para trás? Eu não posso acreditar no que está me dizendo, não posso!

- Me deixe sozinha, por favor.

- E-eu... Eu confiava tanto em ti. Tu tens noção de que eu mataria ou morreria por ti? Você era a pessoa que eu mais confiava.

- Eu também mataria ou morreria por ti. E espero que um dia você possa me perdoar, minha filha.  

Regina se aproximou, me levantou e me levou para o banheiro dizendo que eu precisava de um banho. 

A namorada do meu primoOnde histórias criam vida. Descubra agora