São Paulo. Orfanato esperança. Regina Mills. Alguns dias depois.
Mais uma vez Zelena não pôde vir comigo. Não nego o quanto isso me soa estranho. Sempre que a vejo noto uma certa preocupação e ansiedade em seu olhar. Não me sinto mal por ela estar escondendo o motivo de suas atitudes, apenas queria poder ajudá-la.
Prefiro me abster de tais pensamentos. Volto a minha atenção para a pequena Alice que tenta me fazer comer um pedaço do bolo de brigadeiro. As suas mãozinhas sujas pelo chocolate, o sorriso em seus lábios e o brilho no olhar me fazem ter a certeza de que entrar com o pedido de adoção fora a melhor coisa que fiz na vida.
- "ti, ablaço" - a pequena passou os bracinhos pelo meu pescoço e se jogou no meu colo. Senti um afago em meu peito. Talvez ela seja um anjo que fora destino a me apresentar o sentido da vida.
- Ah minha princesa, a tia ama você, sabia? - beijei-lhe nos seus poucos fios loiros. Alice pareceu compreender a importância daquela frase é por isso se agitou, demonstrando alegria.
- Você está prestes a mudar a vida dela completamente e para melhor. - a voz da madre fez-se presente na cozinha.
- Ah madre, é ela quem está mudando a minha vida... está me mudando para melhor. Quando o meu olhar se perde em suas covinhas, eu me descubro um pouco mais. - eu disse sinceramente. - Madre, a senhora sabe o quão inconsequente eu fui. Uma bela de uma jovem atentada. E não vou dizer que estou amadurecendo com a idade pois o que digo é recente. Acho que estou amadurecendo pelo desejo de ser mãe deste anjo.
- E o que os seus pais disseram sobre? - perguntou-me, enquanto me estendia uma xícara de café. O doce aroma do líquido quente embriagou-me. Agradeci com um aceno. A senhora sentou-se no banco a minha frente, servindo-se com o café.
- Eu ainda não contei para ninguém sobre realmente ter tomado essa decisão. - sorri. - Foi preferível esperar as coisas irem se alinhando. Há outra notícia que preciso dar a eles também.
- E qual seria? - pareceu curiosa.
- Estou me permitindo sentir algo além que tesão, por alguém. - a velha arregalou os olhos e cuspiu o café. - Ah, desculpa a palavra usada. - peço envergonhada.
- Quer dar banho na sua futura filha? - mudou a conversa. Beberiquei um gole do café e dei um pouco para a Alice.
- Adoraria. - respondi. A pequena criança beijou-me no rosto, me arrancando um enorme sorriso.
Tê-la em meus braços fazia todo o meu mundo se preencher. Antes, era como se eu fosse uma tela em branco que já não esperava a aquarela perfeita. Agora, é como se as tintas tivessem sido jogadas pelo melhor artista... Alice e Emma chegaram na minha vida quase que na mesma época e ao pensar na palavra "renascer", as faço presente no meu ser.
Mamãe vem dizendo sobre as minhas atitudes espontâneas ao se voluntariar para preparar o jantar. Killian me parece contente sempre que aceito dançar com ele. Papai adora os jogos de tabuleiro o qual sempre saio vencedora. Zelena, mesmo distante, adora as partidas de vídeo game cada vez mais repetitivas.
É, o meu mundo externo a família está me moldando no que sou dentro dela. Dizem que sempre fui uma ótima filha. Então, talvez, estejamos indo rumo a perfeição.
Terminamos aquele momento e em seguida fomos para o banheiro. A menina divertia-se em correr de um lado para o outro, tentando não nos deixar pegá-la. A sua risada é a coisa mais gostosa de se ouvir. E a minha parte preferida do dia é quando ela se joga no meu colo inesperadamente.
- Vamos tomar banho, princesa? - ela acena positivamente e ergue os bracinhos para que eu pudesse tirar a sua camiseta.
***
Depois de um tempinho, nos juntamos a outras crianças.
Conforme a hora ia passando, mais eu sentia o meu peito se apertar. Mais um dia eu teria que deixa-la ali. O que me consola é saber que logo isso irá mudar. Mas não vou negar a vontade de chorar ao se despedir.
***
Saio do orfanato acariciando a bochecha em que Alice depositou um beijo molhado. Aquela pessoinha é o meu anjo, só pode... Não vejo outra explicação.
O grupo de teatro me ligou para saber se irei participar da peça, já que não compareci nos últimos ensaios. Pedi desculpas e disse que me desligaria por enquanto. Preciso me organizar para quando estivar com Alice em minha vida para sempre. Se ser mãe me exigisse essa pausa a primeiro momento, eu a faria.
Aproveitei que ainda estava com o celular em mãos e mandei uma mensagem para Emma, convidando-a para jantar. Cinco minutos de ansiedade esperando a sua resposta. Depois, combinamos de nos encontrar no restaurante de papai.
Obviamente cheguei primeiro. Zelena estava la como uma morena de mechas vermelhas. Seria este o motivo dos poucos sorrisos bobos no rosto de minha tia? Me aproximo e me sento na cadeira próxima a elas.
- Para namorar a minha tia terá que me convencer que és digna! - eu digo divertida, atrapalhando o assunto. Ambas ficam vermelhas e eu acho graça de tal reação.
- Primeiramente, tia é o teu cu! - Zelena continua odiando o termo tia. Sim, faço para provocar apenas. - Seguidamente, essa é Ruby, uma amiga que está me ajudando com algo.
- Sim, eu sei quem ela é. E também sei qual seria essa ajuda. - deixo-as sem jeito novamente. Chega ser estranho, pois normalmente é o oposto.
- Olá Regina. E não, não é nada disso que está pensando. Porém, acho que já vou começar a me preparar para ser digna. - respondeu descontraída.
Zelena acaba pedindo uma bebida para nós três. Antes que eu pudesse perguntar sobre o que conversavam antes da minha chegada, avisto Emma adentrando o local. Os cachos soltos caídos sobre o ombro, o traje casual, e a expressão quase sempre séria – que muda rapidamente ao me ver.
- Hm, então quer dizer que a loira segue firme na disputa para conquista Regina Mills? - Ruby perguntou em tom malicioso. - Acho que o silêncio e essa cara de boba nos mostra que já conquistou.
- Você realmente tá pegando a namorada do Robin?
- Ex! - eu digo firme, antes de me despedir para ir até a loira.
***
Emma me cumprimenta com o beijo calmo e demorado. Passo as minhas mãos em volta do seu pescoço, enquanto ela segura firme em minha cintura. Paramos o beijo em meio a selinhos.
- Eu já estava com saudades de você. - Eu digo sinceramente.
- Eu também, morena!
Nos acomodamos em uma mesa próxima aos vinhos. Fizemos os nossos pedidos. Pedi para colocarem uma música qualquer.
- Como foi o seu dia? - perguntou-me.
- Maravilhoso. Fui visitar a minha futura filha. - Emma pareceu curiosa sobre o assunto. Antes que ela me questionasse, busquei explicar o que vinha acontecendo. Depois de Zelena, ela fora a primeira a saber sobre a minha decisão. - Eu sempre visito um orfanato. Sempre tive planos em adotar uma criança, mas não sabia qual seria o momento certo. Atualmente, uma menininha que chegou recentemente me mostrou que não há momento certo, as coisas simplesmente acontecem. - eu disse. Eu estava feliz, claro que estava. Emma pareceu perplexa. E eu continuava sorrindo sem nem perceber. - Está tudo bem? - pergunto, depois do silêncio.
- Nossa. Uau. Eu nem sei o que falar. É uma atitude digna, muito digna. - ela gaguejou. Parecia assustada com a ideia. - Eu fico muito feliz por você, morena. E essa criança é muito sortuda por ter sido a sua escolhida.
(Te contei tantos segredos que já não era só meus. Rimas de um velho diário que nunca me pertenceu. Entre palavras não ditas, tantas palavras de amor. Essa paixão é antiga e o tempo nunca passou)
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A namorada do meu primo
Fiksi PenggemarRegina Mills é uma jovem meiga e ousada, que vive se metendo em encrencas, sendo salva o tempo todo por Zelena, sua madrinha poucos anos mais velha e tão louca quanto ela. A última coisa que aprontou "sem querer", foi transar com a ex-noiva (que n...