Meu abrigo

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São Paulo. 6 de Abril de 2016. Emma Swan.

O dia amanheceu calmo em demasia. Um sol não muito forte iluminando os nossos passos, causando uma breve corrente de calor em nossa pele, um tanto considerável de nuvens brancas no céu azul claro causando um lindo contraste e a bela vista do morro de Paraisópolis.  As crianças correndo atrás de pipa ou jogando bola. As pessoas indo batalhar pelo pão de cada dia. A não mordomia presente na vida de cada morador.

Como Tinker fora embora logo que amanheceu, resolvi tomar o café da manhã na velha padaria de esquina de uma das ruas da favela. Nada havia mudado. A tintura fraca na cor branca da velha parede descascada, os bancos de madeira próximo ao curto balcão, as quatro mesinhas de plástico espalhadas pelo estabelecimento e as pessoas apressadas que olham-me com respeito e um certo pavor. Não sei se gosto, mas antes de deixar-me só, meu pai havia sussurrado em meu ouvido: "É bom ser amado e respeitado. Mas se tiver que escolher, a solução é ser temido". David Nolan Swan tinha toda a razão. 

Um pão na chapa e um pingado, por favor! - Eu pedi com sutileza, assim que sentei-me próximo ao balcão. O homem ao meu lado olhou-me de cima a baixo. Até para os desconhecidos eu era uma figura digna de respeito. E então percebi que era esta a imagem que eu deveria ter passado para aquele babaca. 

Não me prendi para os "alguéns" ao meu redor. O relógio antigo pendurado no topo de uma das paredes me soou mais interessante. Mas não tardou para divagar em outros pensamentos. Sorri sem perceber ao lembrar-me do doce olhar de Regina. Não continha pena e despiu-me por completo. Agora é o momento em que devo admirar a forma como o vento move as flores do jardim da casa a frente da padaria e esquecer o gosto do seu beijo. O meu corpo se arrepiou com uma intensidade maior ao fechar os olhos e lembrar-me dos seus braços me envolvendo ternamente em um delicado abraço.

Talvez se eu tivesse transado com ela na noite anterior, não estaria recordando até do seu perfume. Infelizmente me apego em gestos simples mas o difícil sempre foi ter tal contato. Por mais que eu pense e tente não pensar, Regina se faz presente em minha mente, eu só não sei como isto aconteceu. E nada disso importa. O meu único objetivo no momento é encontrar a minha filha e acabar com a vida daquele filho da puta. Se apaixonar não está em meus planos. 

Aqui está, Senhorita Swan! - a mulher colocou sobre o balcão o pedido. Agradeci, enquanto provava a bebida quente. A simplicidade das coisas as torna perfeitas. Fiz o meu desesjum com calma, saboreando cada pedaço de pão cheio de margarina que se desfazia em minha boca. 

***

Joguei o dinheiro sobre o balcão, e caminhei para fora do estabelecimento. Passei no meu escritório apenas para pegar o revólver e a lista de quem ousou ficar me devendo. Antes de sair, esbarrei em August. Com um simples gesto tive a chave de sua moto em minhas mãos. Era hora de afastar as minhas fraquezas e paixões para colocar em prática a minha frieza. Na tranquilidade da manhã precisei ser temida. O capacete de caveira e a blusa de couro preta denunciava o meu lado insensível criado pela minha vivência.

Não acelerei muito por conta das ruas estreitas, mas o necessário para causar espanto com o barulho da moto. As casas não tiveram a minha atenção, nem as crianças brincando por ali. Segui até o velho barraco de madeira. Não foi inteligente da parte dele fugir e Franklin sabia disso, não tentaria outra vez. Um chute e a porta estava no chão.

Não estou com ninguém ao meu lado mas os "meus" estão por todo canto. Agora vai de você ser racional ou idiota. - eu disse apontando a arma para o homem de meia idade todo tatuado. Os seus olhos se arregalaram em sinal de pânico. Atirei na jarra de vidro em cima da mesa ao seu lado como um aviso para não fazer gracinhas. 

A namorada do meu primoOnde histórias criam vida. Descubra agora