Paraisópolis

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São Paulo. 25 de março de 2016. Regina Mills. 8 p.m.

Depois de uma taça de vinho, um longo banho quente e algumas canções sendo cantaroladas aleatoriamente, consegui me dispersar das lembranças das crianças pedindo para prometermos que iríamos voltar… dispersar daqueles pequeninos olhos verdes...

Suspirei pesado, um tanto debochada, ao descer as escadas e ver Killian se aproximando do toca disco. O moreno de olhos azuis parecia perdido em um mar de sentimentos únicos. O sorriso largo não saia de seus lábios. O traje despojado e elegante, denunciava a sua "fuga" do jantar em família. Não tardou para que a voz de Ana Carolina preenchesse o ambiente. Neguei com a cabeça, assim que o timbre do meu irmão misturou-se com o da mulher. A sua alegria era nítida em cada um de seus gestos. Quando mamãe foi passar para a cozinha, ele a puxou para uma breve dança, girando-a suavemente. Dona Cora sorriu, soltando-se, e continuando o seu caminho.

Enquanto assistia o seu show particular, me joguei no enorme sofá, deitando-me com a cabeça no colo de Zelena que logo derrubou em meu rosto, alguns farelos da fatia do bolo de chocolate que saboreava. A ruiva encarou-me com os seus lindos olhos azuis e um sorriso malicioso nos lábios. Antes de que eu proferisse uma palavra se quer, a mais velha apontou para o meu pescoço.

- Oh pirralha, acabo de me lembrar sobre o fato de que tu não me contaste sobre a noite passada. - Agora entendi o sorriso. O destaque para uma determinada região que provavelmente ficou marcada. Zelena não deixa as minhas aventuras passarem em branco. A curiosidade sempre foi a sua característica principal. Quer dizer, talvez perca para a sua fidelidade com aqueles que ela ama. - Se tu errou o quarto, és porquê as coisas estavam quentes e te tiraram de órbita.

Instantâneamente, regressei para aquele momento. Fechei os olhos, sentindo as sensações causadas por uma certa loira. O gosto dos seus lábios, do seu beijo... O seu gosto. O aroma de canela que sua pele exalava. A ardência sendo o resultado de suas unhas em minhas costas. A perda da minha sanidade ao vê-la segurando o lençol enquanto o seu corpo era atingido por um delicioso orgasmo. O desespero presente em seu olhar a partir do exato segundo em que o seu ser caiu em si. A pose de mulher segura desfazendo-se por completo, dando brecha a uma frágil garota culpada que estás degustando pela primeira vez, o sabor do erro.

- Okay, eu já entendi. A noite foi perfeita. - Zelena mordeu o canto do lábio inferior.-  Quero detalhes. Como ela era? Transaram quantas vezes? Quais móveis precisarei jogar fora? - ela falava com animação, arrancando-me alguns risos abafados.

- Ela era uma deusa. Meu Deus do céu. Falta até o ar só de lembrar. E sobre os móveis? Compre tudo novo. - eu disse divertida, enquanto a ruiva fingiu espanto. Suspirei ao lembrar do último detalhe. - Ela só era comprometida e disse que aquilo nunca mais iria acontecer.

- Você não toma jeito mesmo. Só me diz que a deusa do sexo não é nada…

- Aff, por quê vocês sempre falam do babaca mais mal-amado de SP? - Killian interviu, deixando um beijo em minha testa e outro na bochecha de Zelena. - Bom, curtam as melhores músicas do vinil, aproveitem o jantar com os coroas e juízo vocês duas. - O moreno deixou a sala todo sorridente, rodopiando solo, como se fosse um pricinpe encantado se apresentando no baile real.

- Pelo visto todo mundo é transariano. Preciso aprender com vocês. - Minha madrinha negou com a cabeça, como se estivéssemos fazendo algo o qual ela não vem tendo acesso.

- Que eu saiba, a mestre ensina os alunos e não ao contrário.- A ruiva revirou os olhos, e começou a me fazer um cafuné. Agora era o seu timbre agudo quem atrapalhava a música. Por mais que ela sorrisse a todo momento, pude sentir a sua dor junto da deprimente letra maravilhosa. Parece que o evento de três anos atrás ainda a assombra. Descobrir sobre a jovem desconhecida que encontrava-se grávida de seu (ex) noivo, fora um choque. A minha madrinha estava carregando uma vida dentro de si, mas, o estresse interrompeu o breve processo de dois meses. Em nenhum momento a vi desmoronar. Nem uma lágrima se quer escorreu de seus olhos. Em contrapartida, Zelena nunca mais se entregou as paixões. O sexo casual és o seu refúgio. O orfanato, a sua fortaleza.

A namorada do meu primoOnde histórias criam vida. Descubra agora