Só nós
Daniel
Ele dirigiu por muito tempo passando por lugares estranhos que eu não conhecia até que começou a subir uma estrada de terra que levava para o meio do nada. Olhava para meu pai que mantinha os olhos fixos na estrada com seu cigarro pendendo na boca e impregnando todo o carro com uma névoa espeça e fedorenta. Seu olhar não demonstrava nada além de raiva e decepção e eu tinha medo do que ele poderia fazer.
– Sai do carro – ele disse ao pararmos no meio do matagal.
– Onde estamos? – indaguei com a voz tremula.
– Saia da porra do carro – ele disse naquele tom autoritário que usava quando queria intimidar alguém.
Obedeci-o e abri a porta do carro dando de cara com um terreno baldio e cheio de bato em volta. Ao longe eu podia ver umas casas mal feitas típicas de favelas e soube que eu estava no alto de algum morro.
Me virei para o meu pai que havia acabado de sair do carro e ele vinha em minha direção. Seu olhar de soberba e sua postura confiante era o que mais me assustavam. Meu coração pulsava loucamente enquanto minha mente pensava em milhares de possibilidades pelas quais ele me trouxe até aqui. Desde me espancar até me executar sem que ninguém ficasse sabendo.
– Alguns traficantes usam esse lugar como abatedouro – meu pai se aproximava de mim – É longe de tudo e ninguém nunca encontra o corpo. É o lugar perfeito.
Engoli em seco sem saber onde ele queria chegar com aquilo.
– E o que viemos fazer aqui? – indaguei.
Porém a resposta veio em formato de um soco no rosto tão repentino e violento que me fez cair no chão cuspindo sangue.
– Eu nunca esperei isso de você, Daniel – ele disse tais palavras com desapontamento – Do seu irmão sim, pois afinal de contas ele nunca escondeu o que era, mas de você? Você era meu orgulho e meu legado!
– Me desculpe, pai – disse lutando para me levantar, mas todo o meu corpo estava dolorido – Eu realmente tentei, mas não consigo ser diferente.
Ele me deu uma joelhada no estomago me fazendo cair novamente contorcido de dor.
– Você não sabe o nojo que eu sinto desse tipo de gente, Daniel – ele dizia com tanta raiva que chegava a cuspir em mim – Esse tipo de gente é imoral e nojenta! Vejo as coisas abomináveis que fazem nessa zona que eles chama de parada gay! Esse tipo de gente merece morrer. Já não basta aquele cretino do seu irmão ser assim, você também precisa disso?
– Eu não posso ser diferente – falei lutando com a dor e com minhas pernas tremulas de medo – Eu sou assim e não vou mudar nunca. Eu tentei, mas isso não é possível.
Meu pai então sacou a arma e apontou para mim me fazendo perder o equilíbrio e cair sentado no chão de terra. Tentei rastejar para trás, mas meu pai me seguia com aquele olhar homicida que eu só tinha visto quando ele espancou Théo.
– Eu poderia mata-lo aqui e ninguém saberia – ele ameaçou.
– O Juiz Andrade saberia – lembrei-lhe – Ele saberia e te colocaria atrás das grades.
– Você acha mesmo? – meu pai debochou – Eu prometi a ele que nós nunca mais nós mexeríamos com eles. Acabaria com você aqui e agora e depois iria a polícia comunicar seu desaparecimento. Claro que eles iriam me questionar muitas coisas, mas eu diria que brigamos quando você disse que era viado e fugiu de casa. Então eu usaria a influência que eu tenho na polícia para fazerem arquivar seu caso. Sua mãe e seus irmãos jamais descobririam e você seria apenas mais um garoto desaparecido. O Juiz nunca ficaria sabendo de nada. Depois de um tempo poderia até dar cabo de Théo também assim não teria mais que olhar para aquele viado desprezível nunca mais. Restaria então Fernanda que é meu único orgulho nessa vida.
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O INTERNATO
FanfictionQuando Bernardo se muda para um colégio interno descobre que o amor vem do lugar que nos menos esperamos e que se você ama deve lutar por a pessoa que ama venha comigo Embarcar nessa aventura GENTE ESSA HISTORIA EU ENCONTREI NA CASA DOS CONTOS E EST...