internato cap10

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Todos sabem


Théo

Estávamos deitados em minha cama aquela noite, eu com a cabeça apoiada em seu peito nu e ele acariciando meus cabelos sobre a luz fraca que invadia o quarto pela janela aberta. Aninhado junto ao seu corpo eu quase esquecia a forma como desabafei naquela tarde e de como eu havia revivido todos aqueles momentos ruins de minha vida todos de uma vez golpeando-me como se fosse um taco de basebol com arame farpado. Todas aquelas cenas vividas em minha mente como se estivessem acontecendo naquele instante. Rasgava-me a alma e queimava minha carne de uma forma que eu quase perdia o controle. Aconteceu a muito tempo, tentava dizer a mim mesmo, porém ainda podia ver a cicatriz em meu antebraço de um dos ferimentos que meu pai me causou quando tudo que eu fiz foi confiar nele e lhe contar meu maior segredo. Era um lembrete vivo e eternamente gravado da humilhação que passei sem ter culpa.Doía-me pesar também que meu irmão sofreria a mesma rejeição e os mesmos machucados emocionais que eu. Claro que eu não falava mais com meu pai, mas Daniel ainda mantinha contato com ele mesmo que fosse de forma esporádica. Lembro-me de que Daniel era o filho preferido de meu pai, pois era o que lhe dava mais orgulho. Apesar do jeito general de meu pai, ele e Daniel tinham uma ligação especial desde que me lembro. Saíam juntos, assistiam televisão e jogavam futebol. Lembro das vezes que Daniel ia ao quartel junto com meu pai e minha mãe sempre discutia com ele por ter me deixado chorando em casa. Lembro das vezes em que meu pai o levava para o cinema junto de Fernanda e sempre discutia com minha mão que não queria me levar, pois eu iria envergonha-lo. Daniel nunca sofreu um terço da rejeição de meus pais, pois para eles, Daniel era o filho perfeito. Ele iria sofrer muito e eu sofreria com ele. Daniel cuidou de mim e me deu apoio quando me assumi, porém foi ele quem ficou mais fragilizado de me ver daquela forma. Era ele que chorava todas as vezes que me via. Era ele quem sempre me abraçava buscando conforto. Meu irmão mais velho era a pessoa mais frágil que eu conhecia. Era como se fosse uma estátua de vidro, linda por fora, mas qualquer coisa é capaz de destroça-lo em mim pedaços. De certa forma eu entendia o motivo dele ter tentado convencer a si próprio de que era hétero, pois em meu caso, eu não tinha a quem decepcionar, mas ele tinha.

– No que está pensando? – A voz de Dylan soou mansa e macia como veludo.


– Em Daniel – respondi murmurando tão baixo que se não fosse o silencio absoluto em que estávamos, teria sido inaudível.


– Está preocupado com ele – não foi uma pergunta e sim uma afirmação – Entendo isso, mas você não pode fazer nada.


– Ele é meu irmão – disse com uma pontada de raiva – Eu tenho obrigação de ajuda-lo.


– Pedindo que ele se afaste de Bernardo? – Indagou gentilmente – Seu irmão sofreu demais com você e agora está sofrendo para sair do armário. Priva-lo da companhia do garoto que ele gosta não ajuda em nada.


– Bernardo não o merece – disse me sentando na cama – Você não viu a forma como ele o tratou hoje.


– Bernardo está machucado – Dylan falou acariciando minhas costas com as pontas dos dedos – Daniel brincou com os sentimentos dele...


– Meu irmão não sacaneou ninguém – disse me levantando da cama e indo para janela onde pude ver o pátio vazio.

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