internato cap 43

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Funeral

Daniel

Olhava para ele o caixão. Seu rosto estava pálido e muito mais magro do que quando o vi da última vez a vários meses. Não podia ver seu corpo, pois estava em baixo de uma manta de flores brancas, mas quando minha mãe me disse que quando reconheceu o corpo, ele estava muito mais magro e pálido indicando que ele não se alimentava direito a um bom tempo. E eu sabia que ele estava abatido, pois da última vez que vi meu pai com vida ele não era mais o mesmo. Tinha o olhar cansado e fraco e já naquela época ele apresentava sinais de emagrecimento. Ele parecia triste e um pouco arrependido, mas nunca imaginei que ele tiraria a própria vida se enforcando com um lençol.

– Vamos sair um pouco daqui – Bernardo disse segurando minha mão – Ficar olhando para ele não vai te fazer bem.

Mas eu não queria sair dali. Queria olha-lo mais um pouco para ter alguma noção de como me sentia. Era difícil, pois desde que Bernardo me contou sobre seu falecimento no dia anterior, eu não sabia o que sentir. Deveria ficar triste de perder meu pai ou feliz por não ter mais que temer aquele monstro odioso.

Várias pessoas vieram até mim naquela manhã e me abraçaram dizendo o quanto estavam tristes pela minha perda e que eu deveria ser forte. Muitos tiveram a coragem de me dizer que Jorge Villela tinha sido uma ótima pessoa e um excelente oficial na aeronáutica. Não entendia o porquê de tantos elogios se a única palavra que vinha a minha mente para descreve-lo era covarde. Covarde por não ter enfrentado o pai que o bateu por ser homossexual. Covarde por odiar o Théo que tanto se assemelhava a ele quando criança. Covarde por não conseguir apoiar o filho gay e repetir a agressão que sofreu de seu pai. Covarde por viver uma vida dupla se relacionando com homens escondido. Covarde por Apontar uma arma para mim e dizer que me mataria e então mudar de ideia. Covarde por tirar a própria vida quando finalmente começou a pagar por tudo de ruim fez a Théo e a mim. Jorge Villela não era um ótimo pai e um excelente oficial. Jorge Villela era um covarde que teve medo de ser feliz.

Agora acho que o que sinto com sua morte é raiva. Raiva não e sim ódio, pois ele escolheu o caminho mais fácil outra vez. Ele nunca enfrentou nada difícil e sempre fugiu para não sofrer e do que isso adiantou? Viveu uma vida miserável e sem amor. Foi um homem cujos três filhos não tem uma pontada de orgulho sequer. Sei que em minha infância eu o idolatrava por ter sido um pai incrível para mim, mas ele acabou com isso no dia em que espancou Théo. Foi quando percebi que ele era um cretino com meu irmão. A arma em minha cabeça serviu apenas para terminar de confirmar o quão babaca ele era. Não sentirei falta dele enquanto eu viver.

...

– Mamãe olha o que o papai comprou! – exclamei entrando em casa com minha bicicleta nova. A queria a um bom tempo, mas meu pai dizia que me daria apenas se eu tirasse notas boas na escola. Acabou que fiz mais que isso. Tirei entre nove e dez em todas as matérias e estava me esforçando bastante nas aulas de natação o que chamou a atenção da treinadora que me chamou para participar de uma competição entre escolas de natação do estado. Ganhei medalha de ouro surpreendendo a todos inclusive a mim mesmo. Meu pai ficou muito orgulhoso de mim e depois da competição me levou ao shopping onde compramos aquela maravilhosa bicicleta azul de doze marchas que tanto desejei.

– É linda, Daniel – ela veio até mim e me deu um beijo na cabeça;

Atrás dela vinha meu irmãozinho que na época não tinha mais que sete anos de idade. Ele tinha aqueles cabelos loiros brilhantes e olhos azuis profundos e que demonstravam uma estranha tristeza que nunca entendi e na verdade nem me importava de verdade.

– Papai, posso ter uma bicicleta também? – Théo disse com sua vozinha doce e aguda que seria comum em uma menina de sua idade, mas que para um menino soava estranhamente afeminada.

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