internato cap 34

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Família

Ian

Abri os olhos dando de cara para uma lâmpada florescente no teto. A luz era tão forte que ofuscava minha visão. Levantei os braços para proteger a vista e me surpreendi com o peso e a rigidez de meu braço esquerdo. Foi com pesar e susto que me lembrei o que havia acontecido. Izac tinha ido me buscar na escola e estava tendo uma de suas crises de loucura. Ele bateu o carro logo depois que disse algo horrível.

– Mãe? – me sentei na cama com muita rapidez e meu corpo protestou contra isso me causando náuseas.

– Deita ai, Ian – aquela voz grave ecoou em meus ouvidos, mas ao contrário de como ela soou na primeira vez em que acordei em um hospital com ele do meu lado, sua voz soava compreensiva e até mesmo triste – Você precisa descansar. Sofreu um acidente sério.

– Onde está minha mãe? – insisti em perguntar mesmo sabendo da resposta. Jair me olhou com piedade e segurou minha mão querendo me transmitir força – Como aconteceu? – indaguei engolindo em seco.

Os olhos de Jair se encheram de lágrimas a medida que ele buscava as palavras para contar o que havia acontecido.

– Ela foi assaltada no portão de casa depois de sair do plantão – contou com cada palavra lhe doendo a alma – O vagabundo estava armado e ela reagiu quando ele pediu o celular. Ele atirou nela e correu.

– E pegaram ele? – perguntei cerrando o punho direito, pois o esquerdo estava imobilizado pelo gesso.

– Tinha um policial à paisana que atirou nele. O filho da puta morreu na hora – ele acariciou meu rosto com delicadeza – Quando Izac ficou sabendo ele surtou. Pegou o carro e saiu sem dizer para onde iria. Fiquei com medo dele fazer uma besteira.

– E onde ele está? – disse sem me surpreender que desejasse que ele estivesse morto.

– Em casa cuidando de Pedrinho – respondeu – Ele só teve alguns arranhões, mas você ficou desacordado seis dias.

– Seis dias? – indaguei assustado – minha mãe morreu a seis dias?

Ele assentiu.

– Sinto muito, Ian – ele disse com delicadeza – Eu realmente amava a sua mãe.

– Vai embora! – gritei para ele sentindo as lágrimas queimarem meus olhos a medida que elas escorriam – Va embora agora!

Jair se levantou da cadeira do papai e saiu do quarto me deixando sozinho com a minha dor. Minha mãe morta. Nem em meus mais desesperadores pesadelos minha mente chegou a considerar isso. Ela era meu porto seguro e um dos motivos de eu continuar vivo. E como seria daqui para frente? Provavelmente minha guarda pertencia ao maníaco do Izac enquanto a de Pedrinho era de Jair. Provavelmente Jair permitiria que Izac e eu continuássemos em sua casa com a proposta de continuarmos sendo uma família, mas eu sabia bem que ele só faria isso para que pudesse continuar transando comigo. E isso não me animava nem um pouco. Claro que poderia provar na justiça que Izac era louco e assim minha guarda ficaria com o estado e então eu não poderia viver com Jair, mas então ele começaria a abusar de Pedrinho e isso jamais poderia acontecer. Só havia uma coisa a ser feita. Denunciaria Jair então ele perderia a guarda de Pedro que passaria a ser de Izac então moraríamos Izac, Pedrinho e eu. Não era a melhor ideia de família, mas ao menos Pedrinho estaria livre de sofrer abuso sexual uma vez que a tara de Izac era comigo e eu poderia ficar na escola a maior parte do tempo. Quando eu fizesse dezoito anos eu provaria que Izac era louco e então teria a guarda do meu irmão e finalmente poderíamos viver em paz. Não era o ideal, mas era o melhor que eu podia pensar.

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