internato cap 36

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Fuga

Ian

Não sei dizer exatamente quando minha vida desmoronou desta maneira. Não sei se foi logo após a morte do meu pai quando minha mãe se viu sozinha para criar duas crianças. Ela foi forçada a trabalhar em dois empregos, um noturno e um diurno. Izac tinha apenas nove anos de idade e tomava conta de mim com bastante zelo, mas já naquela época eu notava nele um olhar vago. Quase não via minha mãe, pois quando ela chegava em casa meia noite Izac já havia me posto para dormir e quando ela saia de casa as quatro da manhã eu ainda não havia despertado. Só a via nos finais de semana quando ela trabalhava apenas na lanchonete que era seu emprego noturno. Minha mãe dizia que sempre me dava beijos quando chegava e quando saia, mas eu não me lembrava deles devido ao meu sonho pesado. Éramos apenas Izac e eu em nossa casa e com isso meu irmão passou a ser excessivamente cuidadoso comigo. Me dava banho e esquentava minhas refeições no micro-ondas. Sentávamos na mesa e meu irmão me observava comer como um artista admira sua obra prima. Ele tinha por volta de onze anos e eu cinco. Acho que foi nessa época que os seus sentimentos por mim começaram a se confundir. Ele me dava banhos demorados e fazia questão de esfregar minhas partes intimas com o sabão e sempre ficava estranho depois como se se arrependesse de algo. Eu não entendia o que era aquilo, pois era muito inocente. Nessa mesma época minha mãe saiu de seu emprego diurno em uma loja de poupas e passou a trabalhar em um hospital. Por um lado foi bom, pois apesar dela continuar trabalhando todas as noites de segunda a sábado, ela estava em casa na parte da manhã dia sim, dia não, pois trabalhava como plantonista. Porém havia o lado ruim dela ter que trabalhar sábado, domingo e feriados. Também foi nessa época que ela conheceu Jair. Gostei dele de cara. Não era muito bonito com seu cabelo cacheado e sua pele morena, mas era divertido e sempre me trazia doces quando vinha ver minha mãe. Lembro que em meu aniversário de sete anos ele me deu meu um PS2 e minha mãe brigou com ele, por achar aquilo caro demais. Mas eu não me importava. Nas horas que minha mãe não estava, eu jogava videogame com Izac que sempre arrumava uma desculpa ou outra para me abraçar e me beijar no rosto. Adorava aquelas demonstrações de amor, pois nem imaginava suas intenções obscuras comigo. Éramos apenas dois irmãos que se amavam.

Não foi ne uma e nem duas vezes que acordei no meio da noite e encontrei meu irmão chorando durante a madrugada. Imaginava que ele sentia muita falta de nosso pai. Eu não lembrava muito dele por ser bem pequeno na época de sua morte, mas Izac já tinha nove anos quando viu nosso pai pela última vez. Não falávamos dele a muito tempo e agora minha mãe estava namorando novamente. Na cabeça de Izac ela estava querendo substituir nosso pai e eu a estava ajudando nisso. Ele nunca verbalizou tal sentimento, mas podíamos ver que era isso devido sua antipatia com Jair. Eles nunca se deram muito bem. E nessas noites em que eu ouvia Izac chorar baixinho no quarto que dividíamos naquela pequena casa, eu ia até ele e me deitava em sua cama. Meu irmão sempre me virava de costas para ele e me abraçava apertado. Me dava beijos no pescoço e acariciava meu cabelo. Vez ou outra ele mexia a pelves em minha bunda, mas sempre achei que era ele se ajeitando. Nunca pensei naquilo como algo sexual.

Lembro de Izac dizer algumas vezes que depois que o papai morreu a nossa vida se tornou um inferno, pois sempre tínhamos pouco dinheiro. Ele sempre reclamava que teve de parar com as aulas de karatê e teve que sair da sua escola para uma escola pública. Minha mãe ficava triste com essas coisas, principalmente com as reclamações dele de que ela nunca estava em casa. Mas felizmente ela entendia que ele era uma criança de luto pelo pai falecido e por isso não entrava em muitas discussões com ele a respeito disso. Só me lembro de uma briga séria entre eles.

Faltava uma semana para o casamento de minha mãe com Jair e Izac havia perdido completamente o controle. Ele gritava derrubava as caixas de papelão que havíamos arrumado para a mudança que ocorreria depois do casamento. Derrubava copo, pratos, almofadas, livros e tudo mais que encontrava pela frente. Ele tinha um olhar ensandecido e uma expressão de puro ódio.

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