internato cap 22

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Solidão

Bernardo

Assim que abri porta do quarto, vi Théo tirando algumas roupas da mochila e colocando em sua cômoda abarrotada. Seus gestos pareciam extremamente robóticos e seu olhar não era aquele olhar confiante que eu conhecia e sim um olhar pensativo e até mesmo melancólico.

– Você se incomoda de me ceder aquela gaveta vazia da sua cômoda? – Théo indagou e até sua voz paresia abalada.

– Você vai poder ficar com ela inteira, pois amanhã estarei pedindo transferência para outro quarto – Falei me jogando na cama.

– Eu entendo – Théo fez um muxoxo – Mas sabe que não precisa.

Olhei incrédulo para ele.

– Tá de sacanagem? – indaguei me sentando na cama – Nossa amizade acabou depois que você me ameaçou! Eu mal consigo olhar na sua cara.

– Me desculpe – ele pediu me deixando mais surpreso do que nunca – Eu não devia ter feito aquilo. Devia ter apagado o vídeo assim que o vi. E não é só isso. Deveria ter apoiado quando você e meu irmão começaram a namorar.

– Quem é você e o que fez com Théo? – ironizei dando uma risadinha.

– Estou falando sério – ele disse me olhando no fundo dos meus olhos – Estou realmente arrependido. Fui um idiota completo e u falso amigo, mas agora eu quero mudar isso.

Seus olhos azuis transbordavam sinceridade. Ele realmente estava disposto a mudar, porém o problema era que eu sei como era mudar da água para o vinho e sei que isso é muito difícil e sempre haverá recaídas. Considerei Théo meu amigo mesmo depois dele se declarar abertamente contra meu relacionamento com seu irmão e me dizer aquelas coisas horríveis, mas considerei ser apenas ciúmes de irmão. Mas minha confiança nele foi perdida no momento em que ele usou aquilo que fiz de mais baixo e sujo na minha vida contra mim. Usou minha fraqueza e minha dor apenas para garantir que ele ficaria bem. Théo quebrou minha confiança e isso era algo que eu tinha muita dificuldade em perdoar. Até mesmo Daniel teve que lutar para reconquista-la. Sem falar que eu não era Daniel que conseguia simplesmente esquecer tudo e seguir em frente com facilidade.

– A gaveta é toda sua – disse me levantando e indo tomar um banho.

No dia seguinte pedi ao novo diretor transferência de quarto e fui questionado do motivo. Contei-lhe que minha relação com meu colega não estava sendo produtiva para nenhum de nós. Ela sugeriu que ambos conversássemos para pormos de lado as diferenças. Então eu disse que já havíamos feito isso, porém não concordamos. O diretor aceitou e quis me colocar no mesmo quarto de Dylan e eu contestei alegando que Dylan era o namorado de Théo e que isso não iria dar certo. Por fim o diretor concordou em me colocar em um outro quarto sozinho. Concordei e fui para a aula com Giovana que me esperava do lado de fora da direção.

– Como foi? – ela indagou abraçando seu fichário rosa como se fosse um urso de pelúcia.

– Bem – respondi sem emoção – Consegui mudar de quarto. Agora vou estar no quarto andar – falei mostrando o papel que o diretor me entregou com o número do quarto e a instrução de que devera pegar a chave na administração.

– Quer ajuda para fazer as malas? – ela indagou prestativa – A gente pode conversar um pouco e sinto que você está precisando desabafar.

E ela tinha razão. Eu realmente precisava demais daquilo. Fomos para a aula de filosofia e depois dela, havia um tempo vago onde poderíamos fazer o que quiséssemos. Normalmente Giovana, Théo, Dylan, Fabio, Alice e eu ficávamos na sala conversando sobre um monte de bobagem. Lembro que esse grupo costumava contar com Patrick como integrante, mas depois que descobrimos o que ele havia feito, o isolamos do grupo. Hoje ele passa a maior parte do tempo conversando com alguns garotos nerds da sala. Durante o período vago, Peguei a chave nova na administração e voltei ao meu quarto onde já tinha feito as malas na noite anterior antes de dormir. Giovana me ajudou a leva-las para o novo quarto e a guardar várias peças de roupa.

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