internato cap 30

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What do You Got

Ian

– O que ele faz aqui? – indaguei ao entrar no carro de meu padrasto.

Pedrinho dormia profundamente no banco traseiro segurando seu boneco preferido do Bem 10. Sua expressão serena me dizia que nada tinha acontecido. Nada ainda tinha acontecido.

– Pensei em levar os dois para dar uma volta – Jair deu um sorriso malicioso que me assustou. Se inclinou para mim e me deu um beijo forçado.

– Para! – disse tentando me afastar, mas era praticamente impossível. Jair era muito mais forte do que eu.

Ele me largou mantendo seu sorriso sádico e arrancou com o carro. Dirigiu por aquela estrada ladeada apenas por uma vegetação densa até que finalmente chegou a Petrópolis. A cidade adormecia silenciosamente. O palácio de cristal estava esplendidamente iluminado.

Jair pois a mão direita sobre a minha coxa esquerda e começou a acaricia-la. Meus olhos instintivamente se lançaram para o espelho retrovisor no teto do carro onde eu podia ver meu irmão adormecido.

– Você fica lindo com essa camisa do Batman – ele falou em um sussurro pervertido. Ele passou as costas na mão nojenta em meu rosto.

– Eu a odeio – disse cuspindo as palavras com uma mistura de raiva e dor. E odiava mesmo, pois foi ele quem me dera para me fazer parecer mais infantil.

Ele apenas riu e tirou as mãos de cima de mim. Jair se embrenhou pela cidade até parar na frente de um hotel vagabundo onde a placa de neons tinha várias das letras queimadas. Meu coração veio a boca, pois naquele momento eu percebi o que ele queria fazer.

– Seu desgraçado! – disse começando a lhe bater – O que você vai fazer com ele?

Mas apesar dos meus inúmeros golpes Jair não se abalava. Era como se eu fosse novamente uma criança de nove anos tentando bater em um monstro de pedra. Meu padrasto parou no estacionamento do hotel e saiu do carro me deixando trancado no carro com meu irmão.

– Pedrinho? – comecei a sacodir meu irmão que dormia profundamente – Acorda Pedrinho!

– O que? – ele indagou com a voz sonolenta. Ele esfregou os olhos tentando espantar o sono – Ian?

– Me escuta, Pedrinho – disse me jogando no banco de trás ao seu lado e soltando o sinto de segurança para que ele ficasse livre da cadeirinha – Quando Jair voltar, nós precisamos correr.

– Mas o papai disse que a gente ia se divertir – meu irmão resmungou cruzando os braços e fazendo beicinho.

– Ele mentiu, Pedro – disse acariciando os cachos negros de meu irmãozinho – Ele quer te machucar! Do mesmo jeito que ele me machucou.

– O papai é bom – ele insistiu – Disse que me levaria a um lugar divertido e que nós brincaríamos a noite toda.

Era incrivelmente irritante a inocência e a confiança de meu irmãozinho. Pedro era apenas uma criança pequena que acreditava em tudo aquilo que os adultos lhe falavam. Com toda a certeza do mundo, não havia lhe passado pela cabeça nada daquilo que Jair estava tramando fazer contra ele.

– Ele não é, Pedrinho – disse entrando em desespero – Confie em mim!

– Papai disse que você é mau – disse me surpreendendo – Disse que você quer me enganar para me machucar.

– O que? – disse começando a chorar – Acredite em mim, Pedrinho! – disse segurando seus ombros.

Meu irmão parecia completamente assustado com meu descontrole, mas não emitiu nenhum som. Aquele desgraçado tinha posto meu irmãozinho contra mim. Ele mentiu descarada ente para Pedro e o aterrorizou. Eu sabia que ele era doente, mas ele me surpreendia a cada instante.

O INTERNATOOnde histórias criam vida. Descubra agora